Pais e filhos
«A ingratidão é um dos frutos mais diretos do
egoísmo. Revolta sempre os corações honestos. Mas, a dos
filhos para com os pais apresenta caráter ainda mais
odioso.» (Do
item 9, do capítulo XIV, de «O Evangelho segundo o
Espiritismo».)
Trazida a reencarnação para os alicerces dos fenômenos
sociodomésticos, não é somente a relação de pais para
filhos que assume caráter de importância, mas igualmente
a que se verifica dos filhos para com os pais.
Os filhos não pertencem aos pais; entretanto, de igual
modo, os pais não pertencem aos filhos.
Os genitores devem especial consideração aos próprios
rebentos, mas o dever funciona bilateralmente, de vez
que os rebentos do grupo familiar devem aos genitores
particular atenção. Existem pais que agridem os filhos e
tentam escravizá-los, qual se lhes fossem objeto de
propriedade exclusiva; todavia encontramos, na mesma
ordem de frequência, filhos que agridem os pais e buscam
escravizá-los, como se os progenitores lhes
constituíssem alimárias domésticas.
A reencarnação traça rumos nítidos ao mútuo respeito que
nos compete de uns para com os outros.
Entre pais e filhos, há naturalmente uma fronteira de
apreço recíproco, que não se pode ultrapassar, em nome
do amor, sem que o egoísmo apareça, conturbando-lhes a
existência.
Justo que os pais não interfiram no futuro dos filhos,
tanto quanto justo que os filhos não interfiram no
passado dos pais.
Os pais não conseguem penetrar, de imediato, a trama do
destino que os princípios cármicos lhes reservam aos
filhos, no porvir, e os filhos estão inabilitados a
compreender, de pronto, o enredo das circunstâncias em
que se mergulharam seus pais, no pretérito, a fim de que
pudessem volver, do Plano Espiritual ao renascimento no
Plano Físico.
Unicamente no mundo das causas, após a desencarnação,
ser-lhes-á possível o entendimento claro, acerca dos
vínculos em que se imanizam. Invoque-se, à vista disso,
o auxílio de religiosos, professores, filósofos e
psicólogos, a fim de que a excessiva agressividade
filial não atinja as raias da perversidade ou da
delinquência para com os pais e nem a excessiva
autoridade dos pais venha a violentar os filhos, em nome
de extemporânea ou cruel desvinculação.
Pais e filhos são, originariamente, consciências livres,
filhos de Deus empenhados no mundo à obra de
autoburilamento, resgate de débitos, reajuste, evolução.
As leis da vida englobam-lhes a individualidade no mesmo
alto gabarito de consideração.
Nunca é lícito o desprezo dos pais para com os filhos e
vice-versa.
Não configuramos no assunto qualquer aspecto lírico na
temática afetiva. Apresentamos, sumariamente, princípios
básicos do Universo.
A existência terrestre é muito importante no progresso e
no aperfeiçoamento do Espírito; no entanto, ao mesmo
tempo, é simples estágio da criatura eterna no
educandário da experiência física, à maneira de
estudante no internato.
Os pais lembram alunos, em condições mais avançadas de
tempo, no currículo de lições, ao passo que os filhos
recordam aprendizes iniciantes, quando surgem na arena
de serviço terrestre, com acesso na escola, sob o
patrocínio dos companheiros que os antecederam, por
ordem de matrícula e aceitação.
E que os filhos jamais acusem os pais pelo curso
complexo ou difícil em que se vejam no colégio da
existência humana, porquanto, na maioria das ocasiões,
foram eles mesmos, os filhos, que, na condição de
Espíritos desencarnados, insistiram com os pais, através
de afetuoso constrangimento ou suave processo obsessivo,
para que os trouxessem, de novo, à oficina de valores
físicos, de cujos instrumentos se mostravam carecedores,
a fim de seguirem rumo correto, no encalço da própria
emancipação.
Do livro Vida e Sexo, obra
psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier.
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