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por Jorge Hessen

 

Os obsessores são “tinhosos”, cuidado!


Na obsessão, a causa do mal é exterior e é preciso desembaraçar o doente de um inimigo invisível opondo-lhe, não remédios, mas uma força moral superior à sua. A experiência prova que, em semelhante caso, os exorcismos não produziram jamais nenhum resultado satisfatório, e que antes agravaram do que melhoraram a situação.  Só o Espiritismo, indicando a verdadeira causa do mal, pode dar os meios de combatê-lo.

É preciso, de certa maneira, educar moralmente o Espírito obsessor; por conselhos inteligentes, pode-se fazê-lo melhor e determinar-lhe declinar espontaneamente ao tormento da vítima, e então esta se liberta. Todavia, não se pode esquecer que os obsessores são hábeis e inteligentes, perfeitos estrategistas que planejam cada passo e acompanham as presas por algum tempo, observando suas tendências, seus relacionamentos, seus ideais. Identificam seus pontos vulneráveis (quase sempre ligados ao descaminhamento sexual) e os exploram pertinazes.

Para a escola psiquiátrica obsessão é um pensamento, ou impulso, persistente ou recorrente, indesejado e aflitivo, e que vem à mente involuntariamente, a despeito de tentativa de ignorá-lo ou de suprimi-lo.

Psiquiatras que não admitem nada fora da matéria não podem entender uma causa oculta; mas quando a academia científica tiver saído da rotina materialista, ela reconhecerá na ação do mundo invisível que nos cerca e no meio do qual vivemos, uma força que reage sobre as coisas físicas, tanto quanto sobre as coisas morais.

Esse será um novo caminho aberto ao progresso e a chave de uma multidão de fenômenos mal compreendidos do psiquismo humano.

Sob o enfoque espírita, obsessão é a ação persistente que um mau Espírito exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diferentes, que vai de uma simples influência moral sem sinais exteriores sensíveis até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais.

Quanto à subjugação obsessiva (2) representa um constrangimento físico sempre exercido por Espíritos bastante vingativos e que pode ir até à mortificação do livre-arbítrio.

 Ela se limita, muitas vezes, a simples impressões incomodativas, mas resulta, muitas vezes, movimento psicomotores desordenado, atitudes incoerentes, crises, palavras inadequadas ou injuriosas, as quais aquele que dela é alvo tem consciência por vezes de todo o ridículo, mas da qual não pode se defender.

"Esse estado difere essencialmente da loucura patológica, com a qual se confunde erradamente, porque não há nenhuma lesão orgânica; as causas sendo diferente, os meios curativos devem ser outros.

Aplicando-lhe o procedimento ordinário das duchas e dos tratamentos corporais, chega-se, muitas vezes, a determinar uma verdadeira loucura, aí onde não havia senão uma causa moral".(3)

Esse desarranjo psicoespiritual deverá ser eliminado do Orbe, no instante em que o lídimo exemplo do amor for experimentado e disseminado em todas as direções, consoante Jesus consubstanciou e vivenciou até a agrura da morte, e prosseguindo desde dos tempos apostólicos até os dias atuais.

O Espiritismo, desvendando a intervenção dos Espíritos endurecidos no mal em nossas vidas, lança luzes sobre questões ainda desconsideradas pelas ciências materialistas como de causa psicopatológica. E, óbvio, não descartando a possibilidade da anomalia psicossomática a Doutrina Espírita faz conhecer outras fontes das misérias humanas, mantidas pela fragilidade moral dos seres.

Reconhecemos que o uso dos fármacos antidepressivos estabelece a harmonia química cerebral, melhorando o humor do paciente, no entanto, agem simplesmente no efeito, uma vez que os medicamentos não curam a obsessão em suas intrínsecas causas; apenas restabelecem o trânsito das mensagens neuroniais, corrigindo o funcionamento neuroquímico do SNC (sistema nervoso central).

Sócrates já afirmava: "se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem”. (4)

Se diante dos nossos fracassos momentâneos costumamos olvidar, sistematicamente a paciência e equilíbrio, a oração e a vigília, então é urgente estabelecer o momento para introspecção, nos arcabouços da mente, a fim de que venhamos fazer em nós mesmos as correções prementes.

Nessas situações cotidianas, costumamos entronizar a ideia de obsessão, possessão, subjugação supondo-nos "vítimas"(5) de entidades perseguidoras.

A questão, no entanto, não se restringe só à influenciação espiritual dos inimigos que se nos embute na frequência psíquica, mas, sobretudo, diz respeito a nós próprios.

A obsessão de vários graus se constitui de tratamento de longo curso, por muito delicado e complexo e o resultado ditoso depende da renovação espiritual do paciente, na razão em que desperte para a seriedade da conjuntura aflitiva em que se encontra.

Simultaneamente, a solidariedade fraternal, envolvendo ambos enfermos em orações e compaixão, esclarecimentos e estímulos para o futuro saudável, conseguem romper o círculo vigoroso de energias destrutivas, abrindo espaço para a ação benéfica, o intercâmbio de esperança e de libertação.

Muitas vezes procurado pelos obsedados o Cristo penetrava psiquicamente nas causas da sua inquietude, e, usando de autoridade moral, libertava tanto os obsessores quanto os obsidiados, permitindo-lhes o despertar para a vida animada rumo a recuperação e à pacificação da própria consciência. Porém, é muito importante lembrar que Jesus não libertou os obsidiados sem lhes impor a intransferível necessidade de renovação íntima, nem expulsou os perseguidores inconscientes sem fornecer-lhes o endereço de Deus.

Em qualquer processo de ordem obsessiva a parte mais importante do tratamento está reservada ao paciente. Sua fixação em permanecer no desequilíbrio constitui entraves de difícil remoção na terapia do refazimento.

A terapia espírita é a do convite ao enfermo para a responsabilidade, convocando-o a uma autoanálise honesta, de modo a que ele possa eliminar em definitivo suas incursões nas voragens dos desvios morais.

Esforcemo-nos, pois, pela vigília constante e orando para que nos libertemos da vergasta das obsessões, no firme propósito de modificação de hábitos e atitudes negativos, ingressando no seio dos valores enobrecedores da vida pela efetiva mudança de comportamento.

 

Referências:

1- Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2001 e Revista Espírita, fevereiro, março e junho de 1864 A jovem obsedada de Marmande.

2- A subjugação obsessiva, o mais ordinariamente, é individual; mas, quando uma falange de Espíritos maus se abate sobre uma população, ela pode ter um caráter epidêmico Foi um fenômeno desse gênero que ocorreu ao tempo do Cristo; só uma poderosa superioridade moral podia domar esses seres malfazejos, designados então sob o nome de demônios, e devolver a calma às suas vítimas [Uma epidemia semelhante castigou por vários anos uma aldeia da Haute-Savoie, conforme relata a Revista Espírita, abril e dezembro de 1862; janeiro, fevereiro, abril e maio de 1863: Os possessos de Morzine].

3- Kardec, Alan, O Que é o Espiritismo, Cap II, Escolho dos Médiuns, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2003.

4- Kardec, Allan, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Resumo da doutrina de Sócrates e de Platão, item XIX, Rio de Janeiro: Editora FEB, 20015- Os chamados obsessores, na maioria das vezes, são de fato nossas vítimas reais do passado.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita