Os obsessores são “tinhosos”, cuidado!
Na obsessão, a causa do mal é exterior e é preciso
desembaraçar o doente de um inimigo invisível
opondo-lhe, não remédios, mas uma força moral superior à
sua. A experiência prova que, em semelhante caso, os
exorcismos não produziram jamais nenhum resultado
satisfatório, e que antes agravaram do que melhoraram a
situação. Só o Espiritismo, indicando a verdadeira
causa do mal, pode dar os meios de combatê-lo.
É preciso, de certa maneira,
educar moralmente o Espírito obsessor; por conselhos
inteligentes, pode-se fazê-lo melhor e determinar-lhe
declinar espontaneamente ao tormento da vítima, e então
esta se liberta. Todavia, não se pode esquecer que os
obsessores são hábeis e inteligentes, perfeitos
estrategistas que planejam cada passo e acompanham as
presas por algum tempo, observando suas tendências, seus
relacionamentos, seus ideais. Identificam seus pontos
vulneráveis (quase sempre ligados ao descaminhamento
sexual) e os exploram pertinazes.
Para a escola psiquiátrica
obsessão é um pensamento, ou impulso, persistente ou
recorrente, indesejado e aflitivo, e que vem à mente
involuntariamente, a despeito de tentativa de ignorá-lo
ou de suprimi-lo.
Psiquiatras que não admitem
nada fora da matéria não podem entender uma causa
oculta; mas quando a academia científica tiver saído da
rotina materialista, ela reconhecerá na ação do mundo
invisível que nos cerca e no meio do qual vivemos, uma
força que reage sobre as coisas físicas, tanto quanto
sobre as coisas morais.
Esse será um novo caminho
aberto ao progresso e a chave de uma multidão de
fenômenos mal compreendidos do psiquismo humano.
Sob o enfoque espírita,
obsessão é a ação persistente que um mau Espírito exerce
sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito
diferentes, que vai de uma simples influência moral sem
sinais exteriores sensíveis até a perturbação completa
do organismo e das faculdades mentais.
Quanto à subjugação
obsessiva (2) representa um constrangimento físico
sempre exercido por Espíritos bastante vingativos e que
pode ir até à mortificação do livre-arbítrio.
Ela se limita, muitas
vezes, a simples impressões incomodativas, mas resulta,
muitas vezes, movimento psicomotores desordenado,
atitudes incoerentes, crises, palavras inadequadas ou
injuriosas, as quais aquele que dela é alvo tem
consciência por vezes de todo o ridículo, mas da qual
não pode se defender.
"Esse estado difere
essencialmente da loucura patológica, com a qual se
confunde erradamente, porque não há nenhuma lesão
orgânica; as causas sendo diferente, os meios curativos
devem ser outros.
Aplicando-lhe o procedimento
ordinário das duchas e dos tratamentos corporais,
chega-se, muitas vezes, a determinar uma verdadeira
loucura, aí onde não havia senão uma causa moral".(3)
Esse desarranjo
psicoespiritual deverá ser eliminado do Orbe, no
instante em que o lídimo exemplo do amor for
experimentado e disseminado em todas as direções,
consoante Jesus consubstanciou e vivenciou até a agrura
da morte, e prosseguindo desde dos tempos apostólicos
até os dias atuais.
O Espiritismo, desvendando a
intervenção dos Espíritos endurecidos no mal em nossas
vidas, lança luzes sobre questões ainda desconsideradas
pelas ciências materialistas como de causa
psicopatológica. E, óbvio, não descartando a
possibilidade da anomalia psicossomática a Doutrina
Espírita faz conhecer outras fontes das misérias
humanas, mantidas pela fragilidade moral dos seres.
Reconhecemos que o uso dos
fármacos antidepressivos estabelece a harmonia química
cerebral, melhorando o humor do paciente, no entanto,
agem simplesmente no efeito, uma vez que os medicamentos
não curam a obsessão em suas intrínsecas causas; apenas
restabelecem o trânsito das mensagens neuroniais,
corrigindo o funcionamento neuroquímico do SNC (sistema
nervoso central).
Sócrates já afirmava: "se os
médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das
moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma.
Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é
que uma parte dele passe bem”. (4)
Se diante dos nossos
fracassos momentâneos costumamos olvidar,
sistematicamente a paciência e equilíbrio, a oração e a
vigília, então é urgente estabelecer o momento para
introspecção, nos arcabouços da mente, a fim de que
venhamos fazer em nós mesmos as correções prementes.
Nessas situações cotidianas,
costumamos entronizar a ideia de obsessão, possessão,
subjugação supondo-nos "vítimas"(5) de entidades
perseguidoras.
A questão, no entanto, não
se restringe só à influenciação espiritual dos inimigos
que se nos embute na frequência psíquica, mas,
sobretudo, diz respeito a nós próprios.
A obsessão de vários graus
se constitui de tratamento de longo curso, por muito
delicado e complexo e o resultado ditoso depende da
renovação espiritual do paciente, na razão em que
desperte para a seriedade da conjuntura aflitiva em que
se encontra.
Simultaneamente, a
solidariedade fraternal, envolvendo ambos enfermos em
orações e compaixão, esclarecimentos e estímulos para o
futuro saudável, conseguem romper o círculo vigoroso de
energias destrutivas, abrindo espaço para a ação
benéfica, o intercâmbio de esperança e de libertação.
Muitas vezes procurado pelos
obsedados o Cristo penetrava psiquicamente nas causas da
sua inquietude, e, usando de autoridade moral, libertava
tanto os obsessores quanto os obsidiados,
permitindo-lhes o despertar para a vida animada rumo a
recuperação e à pacificação da própria consciência.
Porém, é muito importante lembrar que Jesus não libertou
os obsidiados sem lhes impor a intransferível
necessidade de renovação íntima, nem expulsou os
perseguidores inconscientes sem fornecer-lhes o endereço
de Deus.
Em qualquer processo de
ordem obsessiva a parte mais importante do tratamento
está reservada ao paciente. Sua fixação em permanecer no
desequilíbrio constitui entraves de difícil remoção na
terapia do refazimento.
A terapia espírita é a do
convite ao enfermo para a responsabilidade, convocando-o
a uma autoanálise honesta, de modo a que ele possa
eliminar em definitivo suas incursões nas voragens dos
desvios morais.
Esforcemo-nos, pois, pela
vigília constante e orando para que nos libertemos da
vergasta das obsessões, no firme propósito de
modificação de hábitos e atitudes negativos, ingressando
no seio dos valores enobrecedores da vida pela efetiva
mudança de comportamento.
Referências:
1- Kardec, Allan. O Livro
dos Médiuns, Rio de Janeiro: Editora FEB, 2001 e
Revista Espírita, fevereiro, março e junho de 1864 A
jovem obsedada de Marmande.
2- A subjugação obsessiva, o
mais ordinariamente, é individual; mas, quando uma
falange de Espíritos maus se abate sobre uma população,
ela pode ter um caráter epidêmico Foi um fenômeno desse
gênero que ocorreu ao tempo do Cristo; só uma poderosa
superioridade moral podia domar esses seres malfazejos,
designados então sob o nome de demônios, e devolver a
calma às suas vítimas [Uma epidemia semelhante castigou
por vários anos uma aldeia da Haute-Savoie, conforme
relata a Revista Espírita, abril e dezembro de 1862;
janeiro, fevereiro, abril e maio de 1863: Os possessos
de Morzine].
3- Kardec, Alan, O Que é
o Espiritismo, Cap II, Escolho dos Médiuns, Rio de
Janeiro: Editora FEB, 2003.
4- Kardec,
Allan, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Resumo
da doutrina de Sócrates e de Platão, item XIX, Rio de
Janeiro: Editora FEB, 20015- Os chamados obsessores, na
maioria das vezes, são de fato nossas vítimas reais do
passado.