O dom da fala
Muitos se perguntam quando observam pessoas detentoras
de especiais e variadas capacidades em diversificadas
áreas, por qual razão também não detém pelo menos uma
destas possibilidades?
Para estes, não é incomum surgir uma pontinha de
inveja e, talvez, mais grave, certa mágoa com o
Criador por também não tê-los agraciado com algum dom,
por menor que seja.
Entretanto, as dádivas do Criador às suas criaturas são
tantas que bastaria um mínimo de atenção para
identificá-las. Entre tantas poderíamos destacar a
capacidade de falar, comum à maioria dos humanos.
O dom da fala é tão importante que é por ela que se
iniciam muitas hecatombes no planeta por meio do mau uso
do verbo. É, igualmente, origem de quase todos os
desvarios da humanidade; seja por meio das guerras ou
através das grandes tragédias sociais.
Uma das principais peças no aparelho fonador para se
articular as palavras é a pequenina língua, órgão que
funciona como modesto leme a guiar o que sai de nossas
bocas, direcionando frases com o poder de construir ou
destruir.
Felizmente, embora apenas em raras ocasiões, é usada
para consolar, edificar, apaziguar, comunicando a tão
desejada esperança àqueles que as ouvem.
Por outro lado, está sempre pronta para excitar,
disputar, deprimir, agredir, enxovalhar, acusar, ferir
impiedosamente, fazendo, em consequência, surgir o
desalento, as rixas e as incontáveis discórdias. O seu
poder é imenso, contudo é usada frequentemente de forma
mesquinha, pequena, às vezes tirânica, espalhando
dúvidas sobre tudo e todos.
A palavra doce, suave, branda, desinteressada, honesta,
esclarecedora, ajuda imensamente a criar valores nobres
naqueles que as escutam, daí a importância de seu uso
adequado nas preleções tão em voga no movimento
espírita.
O seu bom uso é tão importante que Emmanuel, amigo e
anjo da guarda do médium uberabense – Chico Xavier –,
era muito exigente na questão do trato com os outros,
ao longo do desempenho de sua tarefa na qualidade de
médium educador. Emmanuel explicou que, no trato com o
próximo, a luz do Evangelho de Jesus deve ser comunicada
de quem fala para quem ouve. A partir desta orientação,
sempre que Chico Xavier conversava com qualquer pessoa
em voz áspera, com impaciência, com agressividade, com
anotações de maledicência ou com azedume, ele deixava
passar os momentos infelizes do diálogo e, depois,
principalmente quando o médium se recolhia para
meditações e preces da noite, ele o reprendia
severamente, lamentando as suas faltas.1
É certo, por hora, desconhecemos a arte de falar.
Entretanto, pelo dom da fala podemos retirar incontáveis
pérolas deste tesouro oculto que Deus nos oferece, hoje,
e, se soubermos usá-lo a contento, no futuro também.
O mau uso, sistemático, na emissão de palavras torpes e
doentias, manchadas pelo veneno do coração
desequilibrado, impregnadas de ódio e cólera oriundos de
uma mente doentia, cria, ao longo do tempo, as condições
determinantes para que o indivíduo, em futuro próximo,
reencarne com as anomalias características no aparelho
fonador que traduzem, inequivocamente, a contaminação do
perispírito do reencarnante, por conta de fluidos
maléficos emitidos de forma contínua pelo portador dessa
dádiva divina em existências pretéritas.
É oportuno lembrar que as boas palavras devem sempre ser
acompanhadas por uma vida de igual teor, com exemplos
consoantes à boa fala, sob pena de se perder, pelo mal
viver, o ensino dito da boca para fora.
E, quando a noite for chegando, e a hora do descanso do
corpo se fizer necessária, reflitamos: - “Terei neste
dia utilizado a minha língua do mesmo modo que Jesus
utilizou a d’Ele quando por aqui esteve?”
Referência:
1 BARBOSA,
Elias. No mundo de Chico Xavier. Edição
Calvário/São Paulo, 1968. cap. 5. item 14.