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por Rogério Miguez

 

O dom da fala


Muitos se perguntam quando observam pessoas detentoras de especiais e variadas capacidades em diversificadas áreas, por qual razão também não detém pelo menos uma destas possibilidades?

Para estes, não é incomum surgir uma pontinha de inveja e, talvez, mais grave, certa mágoa com o Criador por também não tê-los agraciado com algum dom, por menor que seja.

Entretanto, as dádivas do Criador às suas criaturas são tantas que bastaria um mínimo de atenção para identificá-las. Entre tantas poderíamos destacar a capacidade de falar, comum à maioria dos humanos.

O dom da fala é tão importante que é por ela que se iniciam muitas hecatombes no planeta por meio do mau uso do verbo. É, igualmente, origem de quase todos os desvarios da humanidade; seja por meio das guerras ou através das grandes tragédias sociais.

Uma das principais peças no aparelho fonador para se articular as palavras é a pequenina língua, órgão que funciona como modesto leme a guiar o que sai de nossas bocas, direcionando frases com o poder de construir ou destruir.

Felizmente, embora apenas em raras ocasiões, é usada para consolar, edificar, apaziguar, comunicando a tão desejada esperança àqueles que as ouvem.

Por outro lado, está sempre pronta para excitar, disputar, deprimir, agredir, enxovalhar, acusar, ferir impiedosamente, fazendo, em consequência, surgir o desalento, as rixas e as incontáveis discórdias. O seu poder é imenso, contudo é usada frequentemente de forma mesquinha, pequena, às vezes tirânica, espalhando dúvidas sobre tudo e todos.

A palavra doce, suave, branda, desinteressada, honesta, esclarecedora, ajuda imensamente a criar valores nobres naqueles que as escutam, daí a importância de seu uso adequado nas preleções tão em voga no movimento espírita.

O seu bom uso é tão importante que Emmanuel, amigo e anjo da guarda do médium uberabense – Chico Xavier –, era muito exigente na questão do trato com os outros, ao longo do desempenho de sua tarefa na qualidade de médium educador. Emmanuel explicou que, no trato com o próximo, a luz do Evangelho de Jesus deve ser comunicada de quem fala para quem ouve. A partir desta orientação, sempre que Chico Xavier conversava com qualquer pessoa em voz áspera, com impaciência, com agressividade, com anotações de maledicência ou com azedume, ele deixava passar os momentos infelizes do diálogo e, depois, principalmente quando o médium se recolhia para meditações e preces da noite, ele o reprendia severamente, lamentando as suas faltas.1

É certo, por hora, desconhecemos a arte de falar.

Entretanto, pelo dom da fala podemos retirar incontáveis pérolas deste tesouro oculto que Deus nos oferece, hoje, e, se soubermos usá-lo a contento, no futuro também.

O mau uso, sistemático, na emissão de palavras torpes e doentias, manchadas pelo veneno do coração desequilibrado, impregnadas de ódio e cólera oriundos de uma mente doentia, cria, ao longo do tempo, as condições determinantes para que o indivíduo, em futuro próximo, reencarne com as anomalias características no aparelho fonador que traduzem, inequivocamente, a contaminação do perispírito do reencarnante, por conta de fluidos maléficos emitidos de forma contínua pelo portador dessa dádiva divina em existências pretéritas.

É oportuno lembrar que as boas palavras devem sempre ser acompanhadas por uma vida de igual teor, com exemplos consoantes à boa fala, sob pena de se perder, pelo mal viver, o ensino dito da boca para fora.

E, quando a noite for chegando, e a hora do descanso do corpo se fizer necessária, reflitamos: - “Terei neste dia utilizado a minha língua do mesmo modo que Jesus utilizou a d’Ele quando por aqui esteve?”

 

Referência:

1 BARBOSA, Elias. No mundo de Chico Xavier. Edição Calvário/São Paulo, 1968. cap. 5. item 14.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita