“Titanic” dos pretos no Mediterrâneo
De tempos em tempos ocorrem situações críticas,
mundialmente conhecidas, que estimulam a fraternidade, a
colaboração e o espírito de entreajuda, como nos grandes
terramotos, entre outras situações.
Neste mês de Junho de 2023, um pequeno submarino de
turismo – o Titan – cujo objectivo era visitar os
destroços do Titanic (navio afundado após colisão com um
iceberg, no início do século XX), com 5 milionários a
bordo (cada um pagou 250 mil dólares americanos pela
aventura), perdeu as comunicações com a sua base de
apoio e, desencadeou uma das maiores operações de busca
naval.
Meios ultrassofisticados dos EUA, Inglaterra, França e
Canadá, entre outros países, especialistas de todo o
tipo, médicos, de tudo se fez (e bem) para tentar salvar
os referidos passageiros que, acabaram por falecer nessa
viagem catastrófica.
Sem dúvida que a situação a todos sensibilizou e é, sem
sombra de dúvidas, digno de louvor todo o esforço
internacional, a solidariedade, a fraternidade, a
colaboração, a dedicação, o esforço, em prol da possível
salvação daquela tripulação.
No Mar Mediterrâneo, morreram afogadas 26.000 pessoas
nos últimos 10 anos.
Na mesma altura em que morreram os 5 tripulantes ricos,
morreram 600 pretos, miseráveis, a sul da costa grega,
migrantes em busca de um futuro melhor na Europa.
Apenas foram resgatados com vida 110 homens.
Dezenas de mulheres e uma centena de crianças viajavam
dentro do porão.
Os milhões que se gastaram na busca e salvamento de 5
muito ricos, contrastam com o abandono de 600 pessoas no
cemitério em que se transformou o Mar Mediterrâneo.
O grande problema destas pessoas é que são “invisíveis”,
são pretos, que vêm de África, sem nada, escravizados
por gangues que comercializam carne humana e, que a
Europa, tal como os EUA, Canadá, França e Inglaterra
(que tanto se esforçaram no caso do Titan) nada fazem
para resolver, numa situação dramática, à qual fecham os
olhos e vão empurrando com a barriga.
A doutrina dos Espíritos (Espiritismo ou doutrina
espírita), que não é mais uma religião ou seita, mas sim
uma filosofia de vida espiritualista, universal e
universalista, apresenta ao Homem em “O Livros dos
Espíritos”, de Allan Kardec, as Leis Morais que são
transversais ao Universo.
Entre outras, encontramos as Leis de Sociedade,
Igualdade, Liberdade, Justiça, Amor e Caridade, que nos
demonstram a nossa natureza divina, as obrigações
sociais mútuas.
Com o Espiritismo, nas suas componentes científica,
filosófica e moral, encontramos as provas da
imortalidade do Espírito, da comunicabilidade dos
Espíritos, da Reencarnação, da Lei de Causalidade e a
pluralidade dos mundos habitados.
A vida humana não vale mais de acordo
com a cor da pele ou do local do desastre:
somos todos filhos de Deus e irmãos em evolução.
Em essência, aprendemos com o Espiritismo a
solidariedade, a fraternidade, a colaboração e o amor ao
próximo nos seus índices máximos, já que sabemos que na
próxima reencarnação podemos nascer num país qualquer,
com um corpo de uma cor qualquer, numa condição social
qualquer, num local bom ou difícil, na condição
masculina ou feminina e, em locais degradados ou
poupados, do ponto de vista ecológico.
Não se consegue entender esta dualidade de critérios,
fruto do egoísmo humano, onde se empenham meios humanos
e materiais que valem milhões, para salvar 5 vidas, por
serem brancos e ricos e, se abandonam à sua sorte
milhares de pessoas, por serem pretos e miseráveis, que
apenas buscam um futuro melhor, uma luz ao fundo do
túnel.
Lembramos o médico das almas, Jesus de Nazaré que, há 21
séculos nos deixou uma filosofia de vida para a
felicidade de todos, sem excepção, no planeta Terra: “não
fazer ao próximo o que não desejamos para nós e, fazer
ao próximo o que desejaríamos que nos fizessem”.
O conceito é simples, eficaz, mas, de facto, é
incompreensível que depois de 21 séculos ainda não
tenhamos aprendido a base das bases da essência da
fraternidade, da solidariedade, da caridade que eleva,
do Amor ao próximo.
Se houvesse um Titanic no Mar Mediterrâneo, talvez os
pretos tivessem melhor sorte.
Se calhar todos nós, ocidentais, enclausurados no nosso
egoísmo doentio, somos titanics naufragados moralmente
e, ainda não descobrimos isso.
A lei da evolução levar-nos-á adiante, quer queiramos ou
não – são leis naturais ou divinas – sendo que essa
evolução não sendo pelo amor, será inevitavelmente pela
dor colectiva, fruto do egoísmo dos titanics humanos da
actualidade.
“Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sem
cessar, tal é a Lei.”
José Lucas reside em Óbidos, Portugal.
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