A invasão organizada
Deus permitiu o erguimento do véu que ocultava o mundo
invisível
“(...) E eu rogarei ao Pai e Ele vos enviará outro
Consolador”. Jesus.
(Jo., 14:16.)
Tal conforme a promessa e o planejamento de Jesus, as
hostes do Consolador já tomaram a Terra de assalto...
Prefaciando “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”, declarou o
Espírito de Verdade: “os
Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual
imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do
seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra
e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os
caminhos e abrir os olhos aos cegos.
Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em
que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu
verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir
os orgulhosos e glorificar os justos. As grandes vozes
do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos
anjos se lhes associam. Nós vos convidamos, a vós
homens, para o divino concerto...”
Na verdade, muito antes
da promessa de Jesus, já profetizara Joel, acerca da
efusão do Espírito: “(...)
derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos
filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos
terão sonhos, os vossos mancebos terão visões. E também
sobre os servos e sobre as servas naqueles dias
derramarei o meu Espírito”. Mais tarde, o apóstolo
Paulo resgataria essa profecia de Joel, conforme podemos
ler em Atos dos Apóstolos, 2:16 a 18.
Segundo Herculano Pires, antes da concretização dessa
profecia, isto é, antes dessa “invasão organizada”, viriam
os “patrulheiros”, que são os elementos que
exercem a função de pontas-de-lança, os que efetuam uma
espécie de reconhecimento do terreno e de preparação da
invasão.
O Espiritismo teve, portanto, os seus precursores dos
quais podemos nomear em linha reta através dos tempos:
Sócrates, Platão, Swedenborg, Edward Irving, Andrew
Jackson Davis, as irmãs Fox, Home, os irmãos Davenport
Edy e Homes, Slade, Eusápia Paladino e outros...
Um século antes de Allan
Kardec e dois séculos antes do advento da portentosa,
singular e inigualável “Série André Luiz” aportada
entre nós através das mãos abendiçoadas de Chico Xavier,
já revelava Emmanuel
Swedenborg o resultado de suas viagens astrais: “(...)
O outro mundo para onde vamos após a morte, consiste em
várias esferas, representando outros tantos graus de
luminosidade e felicidade; cada um de nós irá para
aquela a que se adapta a nossa condição espiritual.
Somos julgados automaticamente, por uma lei espiritual
de similitudes, e tal aferição é determinada pelo
resultado global de nossas vidas, como muito bem o
esclareceu Jesus ao afirmar que ‘a cada um será
outorgado segundo as próprias obras’ (Mt., 16:27.), de
modo que a absolvição ou o arrependimento no leito de
morte têm pouco proveito. Nessas esferas o cenário e
as condições de nosso mundo são reproduzidos fielmente,
do mesmo modo que a estrutura da sociedade. Lá existem
casas onde vivem famílias, templos de se praticam
cultos, auditórios onde os Espíritos se reúnem para fins
sociais, palácios onde moram os chefes...
A morte era suave, dada a presença de seres celestiais
que ajudavam os recém-chegados na sua nova existência.
Esses recém-vindos passavam imediatamente por um período
de absoluto repouso. Reconquistavam a consciência em
poucos dias, segundo a nossa contagem. Havia anjos e
demônios, mas eram de ordem diversa da nossa: eram seres
humanos, que tinham vivido na Terra e que ou eram almas
retardatárias, como demônios, ou altamente desenvolvidas
como anjos.
De modo algum mudamos com a morte. O
homem nada perde pela morte: sob todos os pontos de
vista é ainda um homem, conquanto mais perfeito do que
quando na matéria. Levou consigo não só as suas forças,
mas os seus hábitos mentais adquiridos, as suas
preocupações, os seus preconceitos... Todas as crianças
eram recebidas igualmente, fossem ou não batizadas.
Cresciam no outro mundo; jovens lhes serviam de mães,
até que chegassem as mães verdadeiras.
Não havia penas eternas. Os que se achavam nos
infernos podiam trabalhar para a sua saída, desde que
sentissem vontade. Os que se achavam no Céu não tinham
lugar permanente: trabalhavam por uma posição mais
elevada”.
Com sua verve de escritor
judicioso, celebrizado entre outras coisas como o
criador de Sherlock Holmes, continua Sir Arthur Conan
Doyle a descrever as peripécias de Swedenborg pelo Mundo
Espiritual durante suas emancipações oníricas: (...)
não havia detalhes insignificantes para a sua observação
no Mundo Espiritual. Fala da arquitetura, do artesanato,
das flores, dos frutos, dos bordados, da arte, da
música, da literatura, da ciência, das escolas, dos
museus, das academias, das bibliotecas e dos esportes...
Tudo isso pode chocar as inteligências convencionais,
conquanto se possa perguntar por que toleramos coroas e
tronos e negamos outras coisas menos materiais.
Os que saíram deste mundo velhos, decrépitos, doentes,
ou deformados, recuperavam a mocidade e, gradativamente,
o completo vigor. Os casais continuavam juntos, se os
seus sentimentos recíprocos os atraíam. Caso contrário,
era desfeita a união. Dois amantes verdadeiros não são
separados pela morte, vez que o Espírito do morto habita
com o do sobrevivente, até à morte deste último, quando
se encontram e se unem, amando-se mais ternamente do que
antes.
Eis algumas amostras tiradas da massa enorme de
informações mandadas por Deus através de Swedenborg.
Elas têm sido reiteradas pela boca e pela pena dos
nossos iluminados espíritas. O mundo as desprezou,
taxando-as de concepções insensatas. Sem embargo, estes
novos conhecimentos vão abrindo caminho. Quando forem
aceitos inteiramente, a verdadeira grandeza da missão de
Swedenborg será reconhecida”.
Não falece dúvida, portanto, que o nome de Swedenborg
deve viver eternamente como o primeiro de todos os
homens modernos que descreveram o processo da morte e o
Mundo Espiritual, bem distante do vago extático e das
visões tacanhas e impossíveis das velhas e enferrujadas
Igrejas.
Como Jesus no Monte Tabor
que conversou com dois “mortos” ilustres,
Swedenborg conversava com os “mortos”.
Um século depois, diria
Allan Kardec:
“achando madura a humanidade para penetrar o mistério do
seu destino e contemplar novas maravilhas, permitiu
Deus fosse erguido o véu que ocultava o mundo invisível
ao mundo visível. Nada têm de extra-humanas as
manifestações; é a humanidade espiritual que vem
conversar com a humanidade corporal e dizer-lhe: ‘nós
existimos, logo o nada não existe; eis o que somos e o
que sereis; o futuro vos pertence, como a nós.
Caminhais nas trevas, vimos clarear-vos o caminho e
traçar-vos o roteiro; andais ao acaso, vimos apontar-vos
a meta. A vida terrena era, para vós, tudo, porque nada
víeis além dela; vimos dizer-vos, mostrando a vida
espiritual: a vida terrestre nada é. A vossa visão se
detinha no túmulo, nós vos desvendamos, para lá deste,
um esplêndido horizonte. Não sabíeis por que sofreis na
Terra; agora, no sofrimento, vedes a justiça de Deus. O
bem nenhum fruto aparente produzia para o futuro.
Doravante, ele terá uma finalidade e constituirá uma
necessidade; a fraternidade, que não passava de bela
teoria, assenta agora numa lei da Natureza.
Sob o domínio da crença
de que tudo acaba com a vida, a imensidade é o vazio, o
egoísmo reina soberano entre vós e a vossa palavra de
ordem é: ‘cada um por si’. Com a certeza do
porvir, os espaços infinitos se povoam ao infinito, em
parte alguma há o vazio e a solidão; a solidariedade
liga todos os seres, aquém e além da tumba. É o reino
da Caridade, sob a divisa: ‘um por todos e todos por
um’. Enfim, ao termo da vida, dizíeis eterno adeus
aos que vos são caros; agora, dir-lhes-eis: até
breve!...’ Tais, em resumo, os resultados da
revelação nova, que veio encher o vácuo que a
incredulidade cavara, levantar os ânimos abatidos pela
dúvida ou pela perspectiva do nada e imprimir a todas as
coisas uma razão de ser. Carecerá de importância esse
resultado, apenas porque os Espíritos não vêm resolver
os problemas da Ciência, dar saber aos ignorantes e aos
preguiçosos os meios de se enriquecerem sem trabalho?
Nem só, entretanto, à vida futura dizem respeito os
frutos que o homem deve colher dela. Ele os saboreará na
Terra, pela transformação que estas novas crenças hão de
necessariamente operar no seu caráter, nos seus gostos,
nas suas tendências e, por conseguinte, nos hábitos e
nas relações sociais.
Pondo fim ao reino do egoísmo, do orgulho e da
incredulidade, elas preparam o do bem, que é o Reino de
Deus, anunciado pelo Cristo”.
-
KARDEC, Allan. A Gênese. 43.ed. Rio [de
Janeiro]: FEB, 2003, cap. I, item 62, § 4º e
seguintes.