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por Rogério Coelho

 

A invasão organizada


Deus permitiu o erguimento do véu que ocultava o mundo invisível


“(...) E eu rogarei ao Pai e Ele vos enviará outro Consolador”. 
Jesus.  (Jo., 14:16.)


Tal conforme a promessa e o planejamento de Jesus, as hostes do Consolador já tomaram a Terra de assalto...

Prefaciando “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, declarou o Espírito de Verdade: “os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos.

Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos. As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos anjos se lhes associam. Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concerto...”

Na verdade, muito antes da promessa de Jesus, já profetizara Joel, acerca da efusão do Espírito[1]“(...) derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito”. Mais tarde, o apóstolo Paulo resgataria essa profecia de Joel, conforme podemos ler em Atos dos Apóstolos, 2:16 a 18.

Segundo Herculano Pires, antes da concretização dessa profecia, isto é, antes dessa “invasão organizada”, viriam os “patrulheiros”, que são os elementos que exercem a função de pontas-de-lança, os que efetuam uma espécie de reconhecimento do terreno e de preparação da invasão.

O Espiritismo teve, portanto, os seus precursores dos quais podemos nomear em linha reta através dos tempos: Sócrates, Platão, Swedenborg, Edward Irving, Andrew Jackson Davis, as irmãs Fox, Home, os irmãos Davenport Edy e Homes, Slade, Eusápia Paladino e outros...

Um século antes de Allan Kardec e dois séculos antes do advento da portentosa, singular e inigualável “Série André Luiz” aportada entre nós através das mãos abendiçoadas de Chico Xavier, já revelava[2] Emmanuel Swedenborg o resultado de suas viagens astrais: “(...) O outro mundo para onde vamos após a morte, consiste em várias esferas, representando outros tantos graus de luminosidade e felicidade; cada um de nós irá para aquela a que se adapta a nossa condição espiritual. Somos julgados automaticamente, por uma lei espiritual de similitudes, e tal aferição é determinada pelo resultado global de nossas vidas, como muito bem o esclareceu Jesus ao afirmar que ‘a cada um será outorgado segundo as próprias obras’ (Mt., 16:27.), de modo que a absolvição ou o arrependimento no leito de morte têm pouco proveito.   Nessas esferas o cenário e as condições de nosso mundo são reproduzidos fielmente, do mesmo modo que a estrutura da sociedade.   Lá existem casas onde vivem famílias, templos de se praticam cultos, auditórios onde os Espíritos se reúnem para fins sociais, palácios onde moram os chefes...

A morte era suave, dada a presença de seres celestiais que ajudavam os recém-chegados na sua nova existência. Esses recém-vindos passavam imediatamente por um período de absoluto repouso.    Reconquistavam a consciência em poucos dias, segundo a nossa contagem.  Havia anjos e demônios, mas eram de ordem diversa da nossa: eram seres humanos, que tinham vivido na Terra e que ou eram almas retardatárias, como demônios, ou altamente desenvolvidas como anjos.

De modo algum mudamos com a morte. O homem nada perde pela morte: sob todos os pontos de vista é ainda um homem, conquanto mais perfeito do que quando na matéria. Levou consigo não só as suas forças, mas os seus hábitos mentais adquiridos, as suas preocupações, os seus preconceitos... Todas as crianças eram recebidas igualmente, fossem ou não batizadas.   Cresciam no outro mundo; jovens lhes serviam de mães, até que chegassem as mães verdadeiras.

Não havia penas eternas. Os que se achavam nos infernos podiam trabalhar para a sua saída, desde que sentissem vontade. Os que se achavam no Céu não tinham lugar permanente:  trabalhavam por uma posição mais elevada”.  

Com sua verve de escritor judicioso, celebrizado entre outras coisas como o criador de  Sherlock Holmes, continua Sir Arthur Conan Doyle a descrever as peripécias de Swedenborg pelo Mundo Espiritual durante suas emancipações oníricas: (...) não havia detalhes insignificantes para a sua observação no Mundo Espiritual. Fala da arquitetura, do artesanato, das flores, dos frutos, dos bordados, da arte, da música, da literatura, da ciência, das escolas, dos museus, das academias, das bibliotecas e dos esportes... Tudo isso pode chocar as inteligências convencionais, conquanto se possa perguntar por que toleramos coroas e tronos e negamos outras coisas menos materiais.

Os que saíram deste mundo velhos, decrépitos, doentes, ou deformados, recuperavam a mocidade e, gradativamente, o completo vigor. Os casais continuavam juntos, se os seus sentimentos recíprocos os atraíam. Caso contrário, era desfeita a união. Dois amantes verdadeiros não são separados pela morte, vez que o Espírito do morto habita com o do sobrevivente, até à morte deste último, quando se encontram e se unem, amando-se mais ternamente do que antes.

Eis algumas amostras tiradas da massa enorme de informações mandadas por Deus através de Swedenborg. Elas têm sido reiteradas pela boca e pela pena dos nossos iluminados espíritas. O mundo as desprezou, taxando-as de concepções insensatas. Sem embargo, estes novos conhecimentos vão abrindo caminho. Quando forem aceitos inteiramente, a verdadeira grandeza da missão de Swedenborg será reconhecida”.

Não falece dúvida, portanto, que o nome de Swedenborg deve viver eternamente como o primeiro de todos os homens modernos que descreveram o processo da morte e o Mundo Espiritual, bem distante do vago extático e das visões tacanhas e impossíveis das velhas e enferrujadas Igrejas.

Como Jesus no Monte Tabor que conversou com dois “mortos” ilustres, Swedenborg conversava com os “mortos”.

Um século depois, diria Allan Kardec[3]: “achando madura a humanidade para penetrar o mistério do seu destino e contemplar novas maravilhaspermitiu Deus fosse erguido o véu que ocultava o mundo invisível ao mundo visível. Nada têm de extra-humanas as manifestações; é a humanidade espiritual que vem conversar com a humanidade corporal e dizer-lhe: ‘nós existimos, logo o nada não existe; eis o que somos e o que sereis; o futuro vos pertence, como a nós.   Caminhais nas trevas, vimos clarear-vos o caminho e traçar-vos o roteiro; andais ao acaso, vimos apontar-vos a meta. A vida terrena era, para vós, tudo, porque nada víeis além dela; vimos dizer-vos, mostrando a vida espiritual: a vida terrestre nada é. A vossa visão se detinha no túmulo, nós vos desvendamos, para lá deste, um esplêndido horizonte. Não sabíeis por que sofreis na Terra; agora, no sofrimento, vedes a justiça de Deus. O bem nenhum fruto aparente produzia para o futuro. Doravante, ele terá uma finalidade e constituirá uma necessidade; a fraternidade, que não passava de bela teoria, assenta agora numa lei da Natureza. 

 Sob o domínio da crença de que tudo acaba com a vida, a imensidade é o vazio, o egoísmo reina soberano entre vós e a vossa palavra de ordem é: ‘cada um por si’. Com a certeza do porvir, os espaços infinitos se povoam ao infinito, em parte alguma há o vazio e a solidão; a solidariedade liga todos os seres, aquém e além da tumba.  É o reino da Caridade, sob a divisa: ‘um por todos e todos por um’.   Enfim, ao termo da vida, dizíeis eterno adeus aos que vos são caros; agora, dir-lhes-eis: até breve!...’ Tais, em resumo, os resultados da revelação nova, que veio encher o vácuo que a incredulidade cavara, levantar os ânimos abatidos pela dúvida ou pela perspectiva do nada e imprimir a todas as coisas uma razão de ser. Carecerá de importância esse resultado, apenas porque os Espíritos não vêm resolver os problemas da Ciência, dar saber aos ignorantes e aos preguiçosos os meios de se enriquecerem sem trabalho? Nem só, entretanto, à vida futura dizem respeito os frutos que o homem deve colher dela. Ele os saboreará na Terra, pela transformação que estas novas crenças hão de necessariamente operar no seu caráter, nos seus gostos, nas suas tendências e, por conseguinte, nos hábitos e nas relações sociais. Pondo fim ao reino do egoísmo, do orgulho e da incredulidade, elas preparam o do bem, que é o Reino de Deus, anunciado pelo Cristo”.     


 

[1] - Joel, 2:28 e 29.

[2] - DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. São Paulo: Editora Pensamento, p. 38-39.

[3] - KARDEC, Allan. A Gênese. 43.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, cap. I, item 62, § 4º e seguintes.

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita