Algumas
propostas explicativas sobre a evolução têm sido colocadas.
A
explicação clássica do cristianismo tradicional é a criacionista ou fixista,
segundo a qual os humanos, como os outros animais, são como sempre
foram, sem qualquer mudança. Essa visão crê em um Deus criador, o qual
teria originado o mundo tal como vemos hoje. Nenhum ser vivo “vem” de
qualquer outro, pois não existe evolução. Na comunidade científica
ninguém leva a sério essa teoria, pois as evidências em prol da evolução
biológica são indiscutíveis.
A
teoria que prevalece na comunidade científica afirma que as espécies
evoluíram de outras espécies, e as espécies que existem hoje,
provavelmente, não existiam no início do mundo, e que a evolução se dá
por uma série de mutações genéticas aleatórias e seleção natural. A
crítica mais contundente a essa teoria oficial refere-se à complexidade
de certos órgãos, como os olhos dos vertebrados, e a sistemas, como o da
coagulação sanguínea. Quase inconcebível que estruturas assim tenham
surgido por obra do acaso.
Uma
terceira possibilidade procura conciliar as duas anteriores, a teoria
do Projeto inteligente. Os proponentes do Projeto inteligente
ressaltam a dificuldade, se não a impossibilidade, de explicar
estruturas tão complexas, como o olho humano, por meio apenas de
mutações ao acaso e seleção natural. Eles afirmam que estruturas e
órgãos complexos mostram uma integração criativa de muitos componentes
diferentes porque foram projetados de modo inteligente. Eles deixam em
aberto a questão do projetista, mas a resposta óbvia é Deus.
A
grande crítica que se faz a essa teoria é que nem sempre as coisas deram
certo. Acredita-se que mais de 90 % das espécies que surgiram na Terra
foram extintas. Assim, esse projetista não seria tão inteligente como se
crê.
Uma
quarta hipótese se apresenta: nem o acaso nem uma inteligência externa.
Os organismos vivos podem ter uma criatividade interna, como os
seres humanos têm. As novas ideias surgem, ninguém sabe como nem por
quê. O ser humano tem uma criatividade inerente, e todos os organismos
vivos também podem ter uma criatividade inerente que se manifesta em
maior ou menor grau. Segundo essa hipótese, as máquinas exigem
projetistas externos, os organismos não.
A
teoria da criatividade interna remonta a pensadores bem antigos como
Erasmus Darwin (1731-1802), o avô de Charles de Darwin. Ele dizia que
Deus dotava a vida ou a natureza de uma capacidade criativa inerente que
depois se manifestava sem a necessidade de orientação ou intervenção
divina. Os seres vivos eram capazes de se aprimorar, e os resultados dos
esforços dos pais eram herdados por seus descendentes.
Outro
proponente dessa teoria foi Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829). Segundo
ele, os animais adquiriam novos hábitos em resposta ao seu ambiente e
suas adaptações eram transmitidas aos seus descendentes. Um poder
inerente à vida produziu organismos cada vez mais complexos, elevando-os
na escala animal.
A
teoria da criatividade inerente aos organismos vivos não se sustenta à
luz dos postulados espíritas. Mesmo porque a criatividade, a
inteligência e a vontade são atributos não do organismo vivo, mas do
princípio espiritual, que é sede de tudo isso.
Aceitar
que o princípio espiritual, na fase evolutiva das plantas e animais, e
mesmo na fase humana seja capaz de resolver problemas tão complexos como
aqueles que decorrem da sua sobrevivência e especialização crescente é
ilógico.
A
solução da maior parte desses empeços evolutivos passa por modificações
na estrutura do DNA, localizado nos cromossomos, no núcleo das células.
São estruturas inacessíveis às mentes mais bem-dotadas, quanto mais ao
princípio inteligente que sequer possui mente em grande parte de sua
evolução.
Vejamos
um exemplo ao examinarmos a resistência adquirida pelo HIV a antivirais.
Imaginemos que um novo medicamento antiviral seja dado a certo
paciente. O medicamento, após atingir a intimidade da célula, vai fazer
com que o ambiente onde os vírus se encontram se modifique. Teremos,
assim, um ambiente novo, pois nunca, anteriormente, aquela substância
química existiu na célula.
Uma
determinada mudança genética será necessária para que o vírus não seja
destruído pelo medicamento; ele necessita adquirir resistência ao
medicamento. No nível genético, é preciso que ocorra uma mutação. A
mutação consiste em um conjunto de mudanças específicas na sequência da
molécula do gene.
Para
que isso se verifique, o vírus teria de reconhecer que o ambiente mudou,
identificar a mudança necessária para a adaptação às novas condições e
então causar a correta alteração na molécula de DNA, ou seja, promover
uma mutação. E o vírus teria que fazer isso em um ambiente nunca antes
experienciado por ele.
Mesmo
que fosse possível imaginar-se a ocorrência de mutações dirigidas por
uma possível criatividade do organismo no caso da resistência vital a
drogas, mudanças evolutivas de um órgão mais complexo (como o cérebro ou
olho) exigiriam praticamente um milagre.
A
quinta proposta é a espírita. Sem negar a proposta da ciência oficial,
segundo a qual a evolução se dá por mutações e por seleção natural, o
Espiritismo vai além e informa que as mutações que deram origem às
espécies novas e ao aprimoramento gradual dos organismos vivos foram,
muitas vezes, promovidas por Espíritos desencarnados vinculados à
evolução do planeta. Nesse particular, temos vasta literatura.
Segundo
Léon Denis, a teoria da evolução deve ser completada pela da
percussão, isto é, pela ação das potências invisíveis, que ativa e
dirige esta lenta e prodigiosa marcha ascensional. [i]
E
ainda, Denis: Espíritos
químicos, físicos, naturalistas, astrônomos atuam em todos os lugares
sobre a matéria sutil, que fazem passar por preparações, por
modificações destinadas a obras que a imaginação humana teria
dificuldades em conceber. [ii]
O
médico francês Gustavo Geley segue na mesma linha; A
evolução das espécies se acha guiada, em certa medida, por uma
influência superior e profunda. As aparições intermitentes das
principais espécies e dos instintos são conforme às necessidades
ambientes e às necessidades vitais, obedecendo à finalidade adquirida.
Mas há ainda, tudo como na obra do artista, ao lado de realizações
geniais, erros, imperfeições, esquecimentos, exagerações, tentativas...[iii]
Na
literatura mediúnica de Chico Xavier, encontramos fartas informações que
ratificam esses conceitos. Emmanuel coloca que
assim como o químico humano encontra no hidrogênio a fórmula mais
simples para estabelecer a rota de suas comparações substanciais, os
Espíritos que cooperaram com o Cristo, nos primórdios da organização
planetária, encontraram, no protoplasma, o ponto de início para a
atividade realizadora, tomando-o como base essencial de todas as células
vivas do organismo terrestre. [iv]
E
também, André Luiz:
Os
arquitetos espirituais, entrosados à supervisão celeste, gastariam
longos séculos preparando as células que serviriam de base ao reino
vegetal, combinado nucleoproteínas a glúcides e outros elementos
primordiais, a fim de que se estabelecesse um nível seguro de forças
constantes, entre a bagagem do núcleo e do citoplasma.
Com
semelhante realização, o princípio inteligente começa a desenvolver-se
do ponto de vista fisiopsicossomático. Não apenas a forma física do
futuro promete então revelar-se, mas também a forma espiritual.
Fixam-se, vagarosamente, sob influenciação magnética, os fragmentos de
cromatina, organizando-se os cromossomas em que seriam condensadas as
fórmulas vitais da reprodução. Múltiplos processos de divisão passam a
ser experimentados. [v]
Mostra
também que plantas e animais, após estágio no plano espiritual, ao
retornarem ao plano físico, pelo mecanismo reencarnatório, tornam-se
elementos de transformação:
Plantas e animais domesticados pela inteligência humana, durante
milênios, podem aí ser aclimatados e aprimorados, por determinados
períodos de existência, ao fim dos quais regressam aos seus núcleos de
origem no solo terrestre, para que avancem na romagem evolutiva,
compensados com valiosas aquisições de acrisolamento, pelas quais
auxiliam a flora e fauna habituais a Terra, com os benefícios das
chamadas mutações espontâneas. [vi]
E
apresenta esse pensamento elucidativo:
O
plano físico é o berço da evolução que o plano extrafísico aprimora. O
primeiro insufla o sopro da vida, cujas edificações o segundo
aperfeiçoa. A reencarnação multiplica as experiências, somando-as, pouco
a pouco. [vii]
Podemos
deduzir, pelo exposto, que a interferência dos Espíritos afeitos à
evolução da Terra se deu em momentos fundamentais da evolução
planetária, onde, utilizando-se de profundos conhecimentos técnicos,
operaram no genoma dos seres viventes, quando no instante devido, para
que o progresso se desse a contento.
Uma
crítica que poderia ser feita à proposta espírita se refere ao
desaparecimento de milhões de espécies. Se Espíritos superiores
dirigiram o processo, como entender o surgimento de formas animais que
não deveriam prevalecer com o passar dos anos?
É
preciso que se entenda que a evolução do princípio espiritual na Terra
tem sido um processo de construção criativa, de que participam o próprio
princípio inteligente, como campo organizador da forma e armazém das
conquistas adquiridas, e uma inumerável falange de Espíritos
desencarnados, certamente com especialidades em diferentes áreas do
conhecimento, mas também em processo de crescimento. O trabalho desses
Espíritos deve ser colocado à conta de experiências evolutivas também
para eles. Encontram-se provavelmente numa fase avançada de progresso,
mas ainda carentes de desenvolvimento em setores específicos da
evolução. Assim se justificam processos ou situações que nos parecem
equivocados, mas que são exercícios e experiências de almas incompletas.
Há que
se considerar também, as necessidades do princípio espiritual em
trânsito evolutivo. Estruturas prontas e completas, não lhes seriam o
substrato sobre o qual se daria o desenvolvimento necessário.
E
também precisam ser consideradas as limitações do próprio orbe.
Emmanuel, examinando a questão dos ensaios monstruosos que deram origem
aos animais horrendos das eras primitivas, lembra que a máquina celular
foi aperfeiçoada, no limite do possível, em face das leis físicas do
globo. [viii]
Em
resumo:
-
Espíritos planejadores não são perfeitos e podem apresentar suas
limitações (cientistas competentes erram, com frequência).
- A
ação se dá via campos de energia ainda imaturos (incapazes de fixar os
sistemas mais complexos).
- Os
limites impostos pelas leis físicas, químicas e biológicas do planeta e
da evolução planetária
- A
necessidade de elaboração paulatina do princípio inteligente.
[i] O
problema do ser, cap. IX, parte I
[ii] O
problema do ser, cap. XII, parte I
[iii] Do
inconsciente ao consciente
[iv] O
Consolador, item 6
[v] Evolução
em dois mundos,
parte I, cap. VII. 8. ed. Brasília: FEB,1958.
[vi] Evolução
em dois mundos, parte
I, cap. XIII. 8. ed. Brasília: FEB,1958.
[viii] A
caminho da luz, cap. 2