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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Senso de urgência


Chega a ser um autêntico truísmo afirmar que a simples observação do comportamento das pessoas revela muito do que são na essência, mas, às vezes, temos de assim proceder com vistas à análise de certos aspectos. Nesse sentido, reparem, por exemplo, o modo como muitos dirigem seus veículos nas principais avenidas e marginais das grandes cidades. Há pessoas atrás do volante de um carro absolutamente despreocupadas, não raro ocupando as faixas da esquerda em velocidade muito abaixo do permitido – complicando ainda mais o já caótico trânsito.

Para elas, assim inferimos, a vida caminha serena e tranquila não importando quem está atrás... Creio que muitas não fazem por mal, mas, ao assim se conduzirem, acabam atrapalhando outras que necessitam literalmente correr atrás dos seus compromissos. Tais indivíduos parecem nefelibatas, se considerarmos o estado de desligamento em que se encontram. De modo geral, nossas cidades estão abarrotadas de gente e veículos, já que a preferência pela vida urbana se tornou uma realidade inconteste. Nas últimas décadas, aliás, houve um movimento intenso e acelerado nessa direção, já que os bons empregos e oportunidades de trabalho não se encontram mais no campo como outrora. Entretanto, como sabemos, nas metrópoles a rotina é totalmente distinta da vida interiorana, já que a maioria vive de maneira apressada, brigando, por assim dizer, contra o relógio e as responsabilidades. Afinal de contas, a vida moderna praticamente nos impõe crescentes obrigações, deveres e desafios à nossa sobrevivência.

Enquanto isso, outros desfrutam de uma existência aparentemente sem estresse, pressão, aborrecimentos ou qualquer senso de urgência. Por conta disso, passam os dias em regime de excessiva calmaria, sem muita preocupação ou iniciativa mais elevada. Devido ao seu estilo de vida modorrento, acabam não atentando para determinados imperativos inerentes ao ato de existir. E vivendo sob tal ritmo de lentidão, a inconsciência de certos sinais lhes domina quase que por completo. Em resumo: “veem”, mas não “enxergam”.

Todavia, a imarcescível realidade espiritual, que hodiernamente se tornou, enfim, objeto de atenção e reflexão humana, exige mais esforço e dedicação de todos nós, a fim de que nossa experiência corporal seja uma etapa realmente proveitosa. A propósito, o Espírito Emmanuel já ponderava, no prefácio da obra Nos Domínios da Mediunidade, ditada pelo Espírito André Luiz (psicografia de Francisco Cândido Xavier) e publicada em 1955, sobre essa questão. No entanto, tal conhecimento implica em profundas mudanças de nossa parte, que, como ele bem adverte: “Sem noção de responsabilidade, sem devoção e prática do bem, sem amor ao estudo e sem esforço perseverante em nosso próprio burilamento moral, é impraticável a peregrinação libertadora para os Cimos da Vida”.

Nessa acanhada e imperfeita dimensão em que ora estagiamos pode significar, dependendo do rumo que escolhermos: um passo importante ao nosso avanço espiritual ou mais um desperdício de oportunidade. Se optarmos pela senda espiritual, certamente a alternativa mais promissora divisada pela eminente entidade espiritual acima mencionada, tenhamos em mente que a escola na qual transitamos demanda muito mais empenho de nós. Assim sendo, é preciso aplicar corretamente o significado dos verbos trabalhar, amar, doar, fraternizar, estudar e cooperar sob as bençãos de Deus. Esses elementos são o cerne do processo de sublimação do indivíduo. Evidentemente que não se trata de algo fácil de realizar, não nos enganemos, mas certamente é o único caminho para que superemos de vez a aridez das nossas almas e alcemos voos bem mais altos do nosso espírito.

Por fim, é preciso que tenhamos senso de urgência na aquisição e conquista do que realmente importa para nós sermos verdadeiramente felizes e plenos. Assim sendo, o desperdício de tempo e a conduta excessivamente despreocupada não nos ajudam nesse sentido.

 
 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita