Senso de urgência
Chega a ser um autêntico truísmo afirmar que a simples
observação do comportamento das pessoas revela muito do
que são na essência, mas, às vezes, temos de assim
proceder com vistas à análise de certos aspectos. Nesse
sentido, reparem, por exemplo, o modo como muitos
dirigem seus veículos nas principais avenidas e
marginais das grandes cidades. Há pessoas atrás do
volante de um carro absolutamente despreocupadas, não
raro ocupando as faixas da esquerda em velocidade muito
abaixo do permitido – complicando ainda mais o já
caótico trânsito.
Para elas, assim inferimos, a vida caminha serena e
tranquila não importando quem está atrás... Creio que
muitas não fazem por mal, mas, ao assim se conduzirem,
acabam atrapalhando outras que necessitam literalmente
correr atrás dos seus compromissos. Tais indivíduos
parecem nefelibatas, se considerarmos o estado de
desligamento em que se encontram. De modo geral, nossas
cidades estão abarrotadas de gente e veículos, já que a
preferência pela vida urbana se tornou uma realidade
inconteste. Nas últimas décadas, aliás, houve um
movimento intenso e acelerado nessa direção, já que os
bons empregos e oportunidades de trabalho não se
encontram mais no campo como outrora. Entretanto, como
sabemos, nas metrópoles a rotina é totalmente distinta
da vida interiorana, já que a maioria vive de maneira
apressada, brigando, por assim dizer, contra o relógio e
as responsabilidades. Afinal de contas, a vida moderna
praticamente nos impõe crescentes obrigações, deveres e
desafios à nossa sobrevivência.
Enquanto isso, outros desfrutam de uma existência
aparentemente sem estresse, pressão, aborrecimentos ou
qualquer senso de urgência. Por conta disso, passam os
dias em regime de excessiva calmaria, sem muita
preocupação ou iniciativa mais elevada. Devido ao seu
estilo de vida modorrento, acabam não atentando para
determinados imperativos inerentes ao ato de existir. E
vivendo sob tal ritmo de lentidão, a inconsciência de
certos sinais lhes domina quase que por completo. Em
resumo: “veem”, mas não “enxergam”.
Todavia, a imarcescível realidade espiritual, que
hodiernamente se tornou, enfim, objeto de atenção e
reflexão humana, exige mais esforço e dedicação de todos
nós, a fim de que nossa experiência corporal seja uma
etapa realmente proveitosa. A propósito, o Espírito
Emmanuel já ponderava, no prefácio da obra Nos
Domínios da Mediunidade, ditada pelo Espírito André
Luiz (psicografia de Francisco Cândido Xavier) e
publicada em 1955, sobre essa questão. No entanto, tal
conhecimento implica em profundas mudanças de nossa
parte, que, como ele bem adverte: “Sem noção de
responsabilidade, sem devoção e prática do bem, sem amor
ao estudo e sem esforço perseverante em nosso próprio
burilamento moral, é impraticável a peregrinação
libertadora para os Cimos da Vida”.
Nessa acanhada e imperfeita dimensão em que ora
estagiamos pode significar, dependendo do rumo que
escolhermos: um passo importante ao nosso avanço
espiritual ou mais um desperdício de oportunidade. Se
optarmos pela senda espiritual, certamente a alternativa
mais promissora divisada pela eminente entidade
espiritual acima mencionada, tenhamos em mente que a
escola na qual transitamos demanda muito mais empenho de
nós. Assim sendo, é preciso aplicar corretamente o
significado dos verbos trabalhar, amar, doar,
fraternizar, estudar e cooperar sob as bençãos de Deus.
Esses elementos são o cerne do processo de sublimação do
indivíduo. Evidentemente que não se trata de algo fácil
de realizar, não nos enganemos, mas certamente é o único
caminho para que superemos de vez a aridez das nossas
almas e alcemos voos bem mais altos do nosso espírito.
Por
fim, é preciso que tenhamos senso de urgência na
aquisição e conquista do que realmente importa para nós
sermos verdadeiramente felizes e plenos. Assim sendo, o
desperdício de tempo e a conduta excessivamente
despreocupada não nos ajudam nesse sentido.
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