Jesus pede que sejamos humildes:
por quê?
A virtude da humildade é tão importante que
recebeu de Jesus uma citação no imortal Sermão
da Montanha: Bem-aventurados os pobres de
espírito. Entende-se, hoje, com o
Espiritismo, que ser pobre de espírito é ser
humilde, e não destituído de inteligência ou
capacidade de raciocínio, como alguns acreditam.
Na sequência do texto desta particular bem
aventurança, Jesus acrescenta que o Reino dos
céus lhes pertence.
Sendo assim, já podemos indicar uma razão ou
resposta à questão proposta no título, ou seja,
este seria o primeiro porquê, pois, se não nos
tornarmos humildes, jamais adentraremos o Reino
dos céus.
É oportuno informar que este Reino não está
localizado em algum quadrante do Universo
delimitado por um conjunto de coordenadas.
Não, o Condomínio Celestial não existe, aliás,
quando estamos caminhando pelos trilhos divinos,
nos conduzindo com moral e ética no cotidiano,
sentimos as alegrias e branduras do céu em nosso
íntimo, sem necessidade de deixar o planeta,
isto, por conta da consciência tranquila
lastreada pelo dever cumprido; por outro lado, a
sensação de inferno pode ser experimentada na
Terra sempre que nos afastamos – por atos,
palavras e pensamentos -, das leis divinas,
passamos então a sentir as labaredas do inferno
em nosso íntimo.
A simplicidade do coração pode nos proporcionar
sentimentos de verdadeiro regozijo,
característicos deste suposto céu imaginado por
muitos em incontáveis momentos de nossa
História.
Observando a questão onde Allan Kardec indagou
sobre a propriedade da prece, podemos
identificar outra justificativa para Jesus ter
enfatizado a necessidade da humildade em nossos
corações e mentes:1
A prece é agradável a Deus?
“A prece é sempre agradável a Deus, quando
ditada pelo coração, pois, para Ele, a intenção
é tudo, e a prece do coração é preferível àquela
que podes ler, por mais bela que seja, se for
lida mais com os lábios do que com o pensamento.
A prece é agradável a Deus quando dita com fé,
com fervor e sinceridade. Mas, não creiais que o
sensibilize a prece do homem vão, orgulhoso e
egoísta, a menos que signifique, de sua parte,
um ato de sincero arrependimento e de verdadeira
humildade.”
Como se nota, a prece para ser aceita por Deus
precisa ser dita mais com o coração do que com
orgulho, sob pena de perder sua eficácia. Agora
temos outra razão para buscarmos a humildade,
senão, nossas rogativas não serão escutadas por
Deus.
Em relação aos cristãos podemos imaginar outra
razão para o sábio pedido do Bom Pastor. Se o
indivíduo deseja seguir o Mestre e, Ele sabia
que iria cativar o coração de muitos ao longo
dos tempos, é absolutamente necessário ser
humilde, como Ele o foi, senão é impossível se
dizer verdadeiramente cristão: outra razão, e
Ele nos ofereceu vários exemplos, como quando
entrou em Jerusalém montado em um jumentinho.
E mais, como Governador da Terra e Espírito
puro, Ele bem conhece o seu particular rebanho,
e como são orgulhosas estas ovelhas do Pai.
Por isso, além de nos concitar a construir a
admirável virtude da humildade nos deixou
algumas parábolas e ensinos diretos onde
enfatiza que a modéstia e a submissão aproximam
de Deus, enquanto a altivez e a soberba nos
afastam Dele.
É preciso repensar os muitos motivos que podem
exaltar o orgulho, tais como: títulos, diplomas,
posições sociais, suposta supremacia de raça,
beleza física, fortunas, considerando que nenhum
poderá ser levado para a vida verdadeira,
deixaremos todos os bens materiais na Terra e
mais, do lado de lá não há doutor, nem
eminência, muito menos santidade, tampouco
alteza, só há o Espírito com suas conquistas
imateriais, outra razão para ser humilde.
A propósito, falando de doutores, é oportuno
lembrar o que aconteceu com André Luiz em Nosso
Lar, que acabou limpando o chão das vastas
câmaras de retificação localizadas nas
vizinhanças do Umbral, por conta dos fluidos
negros despejados pela boca dos Espíritos
enfermos e sofredores ali recolhidos, contudo,
não era esta a atividade que gostaria de
exercer, uma vez que tinha sido médico na Terra
e acreditava poder clinicar no espaço com os
limitados conhecimentos de medicina obtidos
quando estava encarnado. O fato levou Narcisa a
se contentar por conta da inciativa espontânea e
humilde do antigo doutor.2
Mas o que realmente podemos levar? – O
conhecimento adquirido sobre as diversas áreas
do saber humano; a inteligência desenvolvida
pelo esforço pessoal no aprendizado das muitas
leis de Deus; e, talvez a bagagem mais
importante, virtudes conquistadas pela prática
do fazer ao próximo o que gostaríamos que nos
fosse feito, e a humildade é certamente uma
delas.
Uma sugestão do Rabi que pode nos ajudar e
muito, é nos tornarmos tais crianças, tentando
reproduzir a simplicidade e sinceridade,
características marcantes dos Espíritos quando
ainda estão atravessando a fase infantil.
Desta forma, se desejamos ser considerados os
eleitos do Senhor, merecedores da tão desejada
paz e felicidade, devemos nos acostumar a ideia
de que é preferível servir do que ser servido -
como fez o Filho do Homem -, nos tornando os
maiores no Reino dos Céus, desejo de muitos
religiosos, um desafio e tanto para Espíritos
vaidosos e orgulhosos como nós ainda somos.
Referências:
1 KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução
Evandro Noleto Bezerra. 3ª Edição Comemorativa
do Sesquicentenário. Brasília/DF: FEB, 2006. q.
658.
2 XAVIER,
Francisco C. Nosso Lar. Pelo Espírito
André Luiz. ed. 33. Brasília/DF: FEB, 1987. O
trabalho, enfim.