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por Rogério Miguez

 

Jesus pede que sejamos humildes: por quê?


A virtude da humildade é tão importante que recebeu de Jesus uma citação no imortal Sermão da Montanha: Bem-aventurados os pobres de espírito. Entende-se, hoje, com o Espiritismo, que ser pobre de espírito é ser humilde, e não destituído de inteligência ou capacidade de raciocínio, como alguns acreditam.

Na sequência do texto desta particular bem aventurança, Jesus acrescenta que o Reino dos céus lhes pertence.

Sendo assim, já podemos indicar uma razão ou resposta à questão proposta no título, ou seja, este seria o primeiro porquê, pois, se não nos tornarmos humildes, jamais adentraremos o Reino dos céus.

É oportuno informar que este Reino não está localizado em algum quadrante do Universo delimitado por um conjunto de coordenadas.

Não, o Condomínio Celestial não existe, aliás, quando estamos caminhando pelos trilhos divinos, nos conduzindo com moral e ética no cotidiano, sentimos as alegrias e branduras do céu em nosso íntimo, sem necessidade de deixar o planeta, isto, por conta da consciência tranquila lastreada pelo dever cumprido; por outro lado, a sensação de inferno pode ser experimentada na Terra sempre que nos afastamos – por atos, palavras e pensamentos -, das leis divinas, passamos então a sentir as labaredas do inferno em nosso íntimo.

A simplicidade do coração pode nos proporcionar sentimentos de verdadeiro regozijo, característicos deste suposto céu imaginado por muitos em incontáveis momentos de nossa História.

Observando a questão onde Allan Kardec indagou sobre a propriedade da prece, podemos identificar outra justificativa para Jesus ter enfatizado a necessidade da humildade em nossos corações e mentes:1

A prece é agradável a Deus?

“A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração, pois, para Ele, a intenção é tudo, e a prece do coração é preferível àquela que podes ler, por mais bela que seja, se for lida mais com os lábios do que com o pensamento. A prece é agradável a Deus quando dita com fé, com fervor e sinceridade. Mas, não creiais que o sensibilize a prece do homem vão, orgulhoso e egoísta, a menos que signifique, de sua parte, um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.”

Como se nota, a prece para ser aceita por Deus precisa ser dita mais com o coração do que com orgulho, sob pena de perder sua eficácia. Agora temos outra razão para buscarmos a humildade, senão, nossas rogativas não serão escutadas por Deus.

Em relação aos cristãos podemos imaginar outra razão para o sábio pedido do Bom Pastor. Se o indivíduo deseja seguir o Mestre e, Ele sabia que iria cativar o coração de muitos ao longo dos tempos, é absolutamente necessário ser humilde, como Ele o foi, senão é impossível se dizer verdadeiramente cristão: outra razão, e Ele nos ofereceu vários exemplos, como quando entrou em Jerusalém montado em um jumentinho.

E mais, como Governador da Terra e Espírito puro, Ele bem conhece o seu particular rebanho, e como são orgulhosas estas ovelhas do Pai.

Por isso, além de nos concitar a construir a admirável virtude da humildade nos deixou algumas parábolas e ensinos diretos onde enfatiza que a modéstia e a submissão aproximam de Deus, enquanto a altivez e a soberba nos afastam Dele.

É preciso repensar os muitos motivos que podem exaltar o orgulho, tais como: títulos, diplomas, posições sociais, suposta supremacia de raça, beleza física, fortunas, considerando que nenhum poderá ser levado para a vida verdadeira, deixaremos todos os bens materiais na Terra e mais, do lado de lá não há doutor, nem eminência, muito menos santidade, tampouco alteza, só há o Espírito com suas conquistas imateriais, outra razão para ser humilde.

A propósito, falando de doutores, é oportuno lembrar o que aconteceu com André Luiz em Nosso Lar, que acabou limpando o chão das vastas câmaras de retificação localizadas nas vizinhanças do Umbral, por conta dos fluidos negros despejados pela boca dos Espíritos enfermos e sofredores ali recolhidos, contudo, não era esta a atividade que gostaria de exercer, uma vez que tinha sido médico na Terra e acreditava poder clinicar no espaço com os limitados conhecimentos de medicina obtidos quando estava encarnado. O fato levou Narcisa a se contentar por conta da inciativa espontânea e humilde do antigo doutor.2

Mas o que realmente podemos levar? – O conhecimento adquirido sobre as diversas áreas do saber humano; a inteligência desenvolvida pelo esforço pessoal no aprendizado das muitas leis de Deus; e, talvez a bagagem mais importante, virtudes conquistadas pela prática do fazer ao próximo o que gostaríamos que nos fosse feito, e a humildade é certamente uma delas.

Uma sugestão do Rabi que pode nos ajudar e muito, é nos tornarmos tais crianças, tentando reproduzir a simplicidade e sinceridade, características marcantes dos Espíritos quando ainda estão atravessando a fase infantil.

Desta forma, se desejamos ser considerados os eleitos do Senhor, merecedores da tão desejada paz e felicidade, devemos nos acostumar a ideia de que é preferível servir do que ser servido - como fez o Filho do Homem -, nos tornando os maiores no Reino dos Céus, desejo de muitos religiosos, um desafio e tanto para Espíritos vaidosos e orgulhosos como nós ainda somos.

 

Referências:

1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução Evandro Noleto Bezerra. 3ª Edição Comemorativa do Sesquicentenário. Brasília/DF: FEB, 2006. q. 658.

XAVIER, Francisco C. Nosso Lar. Pelo Espírito André Luiz. ed. 33. Brasília/DF: FEB, 1987. O trabalho, enfim.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita