Quando o “bem” é bom?
Gosto muito de acompanhar o cenário político de nosso
país e neste campo é muito comum escutarmos a seguinte
frase:
“É o velho toma lá, dá cá”.
Ou seja, para boa parte dos que vivem neste segmento da
atividade humana há, quase sempre, um interesse velado
ou transparente quando se proporciona ao outro algum
benefício.
Pois bem, mas não é de política e políticos que quero
falar, até porque, bem o sabemos, o espaço espírita não
é terreno interessante para debatermos essas questões,
pois que elas suscitam visões bem apaixonadas e causam
divisões nada saudáveis.
Vamos à Revista Espírita pensar um pouco com Kardec.
Allan Kardec fez preciosas reflexões na Revista
Espírita. Eu, particularmente, gosto muito de seus
textos publicados na revista porque nos remetem ao tempo
em que ele viveu, e as tintas que ele escreve trazem a
emoção vivida naqueles momentos. É como se, claro que de
maneira pálida, visitássemos os bastidores da construção
do Espiritismo.
Num belíssimo texto que está publicado no já citado
periódico, de novembro de 1866, Kardec, dentre tantas
profundas reflexões, toca na questão que envolve o
desinteresse, que, diga-se, era raro no século XIX e
prossegue sendo no século XXI.
Desinteresse, aliás, que é irmão inseparável da
caridade, pois esta inexiste sem desinteresse.
Kardec aborda no texto o desinteresse que envolve o
médium de cura.
O médium de cura pode duplicar sua força caso esteja
trabalhando as questões morais e atue
desinteressadamente.
O poder fluídico do médium curador conta um bocado, mas
o que faz com que este poder fluídico seja mais eficaz,
durável e obtenha um sucesso, digamos, duradouro, é a
influência moral do médium.
E o mais interessante é que Kardec pontua sobre o
desinteresse moral, ou seja, o desapego do médium com
relação a bajulação, agradecimentos e reconhecimento de
seu trabalho. Eu sei que não é uma tarefa simples, ainda
mais em se tratando de Espíritos ainda aprendizes, como
nós, aqui neste mundo, mas eis que fica lançado o
desafio, e desafios são para serem vencidos.
Pois bem, falamos apenas dos médiuns, mas podemos
alargar um pouco mais este ponto e estendê-lo a outros
trabalhadores espíritas.
Vale lembrar que este desinteresse serve a todos que
trabalham no campo espírita, enfim, escritores,
oradores, expositores, dirigentes...
O bem "bom" é aquele desinteressado tanto material
quanto moralmente, e que nos ouçam, ou melhor, leiam, os
espíritas e, também, os políticos...