Motivos do atendimento mediúnico
Quando o médium que devemos atender no diálogo de
esclarecimento entra em transe a sua expressão corporal
modifica-se e a personalidade também. Começa por
refletir, de forma muito diversificada de caso para
caso, as preocupações evidenciadas naquele momento.
Ressalvando-se que neste tipo de reuniões de auxílio
espiritual os Espíritos esclarecidos que as gerem retêm
o foco sobretudo nos casos necessitados de auxílio em
condições de o absorverem, é verdade que alguns se
manifestam inicialmente com expressões de dor física
e/ou psicológica, mas também sem elas.
Na amostra que reflete mais de duas centenas de
atendimentos, na sua maioria através de três médiuns
psicofónicos, verificou-se que a predominância de
sensações físicas de sofrimento atingiu 28,05%. (Veja
o gráfico abaixo.)
Em muitas destas situações, embora careça de confirmação
mais detalhada, estes Espíritos desencarnados não
necessitariam de ter esse tipo de impressão dolorosa. A
maioria decerto já não estará ligada ao corpo físico,
pelo que as sensações não teriam como chegar até ao
corpo espiritual e depois ao Espírito, que é em
condições ditas normais quando ocorre a percepção. Qual
seria nesses casos a razão para evidenciarem essa
sensação de sofrimento?
Deverá haver diversas, mas uma das que se afigura
verosímil é a de encalharem num momento traumático –
apesar da expressão física de natureza essencialmente
psicológica – e demorarem por vezes anos, na nossa noção
de tempo, a conseguirem ser resgatados desse quadro
auto-imposto.
Por sua vez, os que evidenciaram sobretudo sofrimento
psicológico foram 20,36%. Junta muitas situações de
sentimento de culpa, mas também de tristeza, de cólera,
de arrependimento, vingança, entre outros. Essa forma de
desequilíbrio é uma extensão simples do que se sente na
vida material e que continua a perdurar por um tempo
variável, mas não poucas vezes considerável, no
preâmbulo mais ou menos prolongado do regresso à vida
espiritual. Todos acabarão também por se libertar dessas
amarras criadas por si próprios.
Há também outros, os que de início pensavam estar ainda
noutro lugar, que não a sala da reunião. Estes marcaram
o valor de 14,93%. Por vezes pensavam ainda estar
doentes num hospital, em casa ou noutros locais.
Uma nova fasquia reúne os que começavam por dizer não
saberem onde se encontravam: chegaram a 5,88%. Estes
referem cenários estranhos, como se se tivessem perdido
por exemplo numa cidade pouco hospitaleira,
desorganizada, em que parecem saber dos seus segredos
mais escondidos.
Por sua vez, os obsessores assumidos foram 11,31%.
Pessoas desencarnadas que partilham vícios como o
alcoolismo, por exemplo, procuram pessoas encarnadas com
gostos afins para satisfazerem o seu desejo. Outras
gostam de perseguir outrem, seja inspiradas por impulsos
de vingança seja integradas em organizações criminosas,
pensando estar a seguir missões que não podem deixar de
cumprir a não ser sob duros castigos, podem estar nesse
papel. Irão acabar por se saturar de uma vida infeliz e
procurar, sem saber como, uma saída.
Outros casos, diferentes dos referidos, marcaram apenas
11,76%.
Em qualquer dos casos, o transe mediúnico próprio destas
reuniões, cujo objetivo é auxiliar quem deseja realmente
melhorar a sua vida, evidencia com seriedade o quanto a
vida mental que escolhemos ter no dia a dia pode ter
consequências práticas.
Pensar e sentir é ação que se dirige ao universo e
retorna em forma de energia enriquecida que se faz
absorver pelo corpo espiritual ou perispírito. De acordo
com o seu teor, leia-se sentimentos infelizes ou por
alternativa felizes, dão uma densidade ou leveza, uma
tonalidade mortiça ou luminosa a esse mesmo psicossoma.
Nivela igualmente a capacidade de cada entidade
espiritual para não conseguir ver ou escutar ainda os
Espíritos esclarecidos que nos amparam neste vasto
trilho evolutivo. Aliás, é esse também o mecanismo da
prece.
Na verdade, toda a tendência para a estabilidade
interior ou exterior já ocorre na vida material a toda a
hora, porém, quando a morte do “burrinho” – leia-se
“corpo material” – que carrega cada um de nós dispara
abre a porta para que as máscaras do mundo físico se
esboroem. A plasticidade de índole espiritual responde
rápido e não há como esconder o que se é no imo da
própria consciência, nem como deixar de se enquadrar nas
paisagens que costumamos procurar, mesmo sem a priori sabermos.
No momento do diálogo esclarecedor, cada médium
psicofónico funciona grosso modo como uma tela de
natureza telepática que recebe em condições controladas,
nestes casos de mediunidade educada, a realidade criada
por cada Espírito desencarnado trazido a conversar
connosco. Longe de ser estática, ou de ser sentida
aparentemente pesada pelas entidades espirituais
comunicantes, é assaz dinâmica, já que não há dor que
não venha a obter lenitivo ou aflição que não regresse
ao porto da paz.
Mesmo assim, entre o momento de aspirar a uma vida
melhor e a meta que lhe possibilita alcançá-la há um
trabalho interior a fazer. Não existem castigos e
recompensas, mas sim a claridade que se venha a
estabelecer na consciência do dever bem cumprido, a
favor do bem comum. Os circuitos de causa e efeito
espelham o funcionamento de leis naturais, criadas por
Deus, com as quais interagimos, aprendendo a otimizar a
harmonização entre elas e o comportamento mental que
vamos construindo.
De forma simples, são estes mecanismos educativos da
vida, em que semeamos e viremos a colher mais tarde ou
mais cedo, que estão por detrás das situações reunidas
no gráfico.
Nunca deixa de ser notável, dentro desta enorme
variabilidade de casos, o denominador comum do amor que
não procura retribuição evidenciado pelos amigos
espirituais. É a lição maior que se nos apesenta nos
mais recentes e imediatos milhares de anos, como seres
espirituais imortais que somos, quer se acredite disso
ou não. O amor incondicional que Jesus de Nazaré veio
explicar e que ainda tardamos em apreender, e que eles
refletem tão bem.
Nota - Esta análise foi
efetuada a partir de um grupo de serviço mediúnico
situado nos arredores da cidade do Porto, na região
Norte de Portugal, ao longo do ano de 2017. Através de
registos recolhidos das manifestações mediúnicas
habituais no grupo em que colaborámos regularmente
durante vários anos, até 2019, identificaram-se e
registaram-se a posteriori, anotando-se caso a caso
detalhes tipificados da entidade espiritual evidenciado
no diálogo decorrente do transe mediúnico. O póster
“Relação de género entre os Médiuns e os Perfis
evidenciados no transe mediúnico”, que expõe este facto,
está disponível na internet a partir da internet. Para
acessar, clique
aqui
Jorge Gomes, escritor, ex-vice-presidente da Federação
Espírita Portuguesa e ex-editor do Jornal de Espiritismo
publicado pela ADEP - Associação de Divulgadores de
Espiritismo de Portugal, da qual é membro, reside na
cidade do Porto, Portugal.
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