Botucatu e a vida
extraordinária de Jésus Gonçalves
Botucatu é uma cidade com apenas 168 anos! É moderna,
recepcionista, muito bonita e recebeu da Administração
Municipal –leia-se Mário Pardini – especial carinho,
dotando-a de inúmeros melhoramentos e recantos floridos,
além de ser considerada também cidade dos “Bons Ares e
das Boas Escolas” e “das Flores”. Botucatu é também
cidade de ricas tradições e berço de famílias ilustres.
Este subscritor, forasteiro, mas com raízes familiares
aqui semeadas não sabia, de início, que Botucatu era
também uma cidade escolhida por iluminados Espíritos de
Luz. A cidade acolheu em 2 de janeiro de 1889 o infante
Carmine Mirabelli, desencarnado em 30 de abril de 1951
na cidade de São Paulo, vítima de acidente de trânsito;
e por adoção o retratado de hoje, Jésus Gonçalves,
natural de Borebi-SP, onde nasceu em 12 de julho de
1902, tendo recebido seu nome na pia batismal da
Paróquia de Ubirama no dia 8 de setembro de 1902,
pertencente à Cúria Diocesana de Botucatu, onde se
encontra o original da sua Certidão de Batismo
registrada em livro próprio.
A Doutrina Espírita através de escritos por Espíritos
Superiores nos permite entender melhor de que forma
vidas passadas influenciam nas futuras através do
processo reencarnacionista.
Nos primórdios do cristianismo, século IV d.C., o
botucatuense por adoção tinha o nome de Alarico.
Geralmente, a história das grandes vidas tem o escopo de
apresentar o homem em seus lances positivos, apenas. Mas
seria impossível suavizar os fatos brutais que a
realidade apresenta.
Jésus Gonçalves foi Alarico. E quem foi Alarico? Não foi
outro senão aquele mesmo general bárbaro que dominou
Roma e os fatos não podem ser mudados a bel prazer.
Alarico I (387 d.C.) foi desumano e perverso.
Provavelmente ele foi tudo isto em encarnações
anteriores.
Quando jovem fazia carreira no Exército Romano. O ano de
395 d.C. marca o início de sua caminhada militar. Sua
personalidade vaidosa reunia qualidades de grande líder
e disciplinador, mesclado à prepotência e à perversidade
de um guerreiro visigodo. Aprendeu com os romanos a arte
militar. Como general dominou Roma e sob o seu comando
semeava a morte, o terror e a destruição.
Na ocasião encontrava-se em Roma o célebre Agostinho,
Bispo de Hipona, que tentou de várias maneiras, usando
palavras de amor, compreensão e sabedoria, reivindicar
em favor do povo romano, às portas então de uma invasão
de bárbaros. Agostinho aproxima-se de Alarico e implora,
pedindo em nome do Cristo, que o inspirou a vir a ter
com o general, complacência para com as mulheres,
crianças e idosos. Não adiantou... Roma foi invadida com
intenso vandalismo, mas as palavras pacíficas de
Agostinho calaram nos sentimentos do general, de modo
que os templos católicos não foram sequer tocados pelos
visigodos. Pela moderação do exército inimigo, os
romanos foram buscar proteção nesses templos, procurados
inclusive pelos pagãos. Muito embora não tenha evitado a
quase devastação da cidade, era o troféu haurido por
Agostinho, o soldado de Cristo que ousou, com sua
coragem, desafiar a força física do exército de vândalos
e fez-se sobrepujar mediante as qualidades morais de seu
espírito.
Alarico não permaneceu muito tempo em Roma. Fascinado
pelo poder, pretendia dar o golpe de misericórdia no
Império. Na tentativa de invadir a África, sua frota foi
dispersada e ele desencarnou em Cosenza, região da
Calábria italiana e assim encerrou sua primeira
encarnação.
A misericórdia divina lhe concedeu mais uma oportunidade
reencarnatória. E ele retornou em nova roupagem, como
Alarico II, (484 d.C.), 8º rei dos Visigodos, mas não
conseguiu refrear as inclinações ambiciosas de seu
caráter primitivo, governando pelo poder da força e do
terror. Desencarnou em batalha travada em 507 d.C.
No século XVI (9/9/1585) ocorreu sua terceira
reencarnação conhecida, agora na França e como o nome de
Armand Jean du Plessis, posteriormente cardeal
Richelieu, que atenuou as perseguições aos católicos
quando, por aproximadamente 18 anos, foi não só o homem
mais poderoso da França, arquiteto do absolutismo, como
também árbitro da política europeia. Doente, com o corpo
tomado por tumores de diagnóstico desconhecido, o braço
direito paralisado, a saúde de Richelieu, que nunca fora
boa, debilitou-se a tal ponto que mal conseguia
levantar-se do leito, vindo a desencarnar em 4 de
dezembro de 1642, em Paris, aos 57 anos.
Após 260 anos aconteceu sua última reencarnação, que é o
objeto desta crônica. O outrora poderoso cardeal francês
nasceu em família muito pobre no Vilarejo de Borebi-SP,
em 12 de julho de 1902, e seu batismo pela liturgia
católica romana deu-se no dia 8/9/1902 com o registro de
seu nome JESUS na Cúria Diocesana de Botucatu, e seus
pais com o sobrenome Gonçalves.
Precoce, desde os 14 anos teve inclinações para a música
participando da “Bandinha de Borebi”. Em 1919 sua
família mudou-se para Bauru-SP. Aos 20 anos era
tesoureiro na Prefeitura e clarinetista da “Jazz Band”
da cidade. Casou-se e teve filhos. Era poeta, escritor,
historiador, autor e ator de peças teatrais, jogador de
futebol e, no jornalismo, fundador e articulista de dois
jornais.
Em 1930 foi acometido do “mal de Hansen”. Aposentado do
serviço público, um de seus amigos, proprietário de
florescente gráfica, cedeu-lhe o usufruto de um sítio
nas proximidades da cidade. Em 1933 teve de afastar-se
compulsoriamente do convívio da família, para
internar-se no recém-inaugurado Asilo Colônia Aymorés.
Mesmo internado não esmoreceu... Foi fundador do jornal
“O Momento”, participou da criação do “Jazz Band
Aymorés” e da equipe de futebol Aymorés. Jésus liderava
quase todas as atividades sociais da Colônia para
amenizar os sofrimentos dos seus companheiros de
infortúnio.
Em 1937 foi transferido da Colônia Aymorés para o
Hospital Padre Bento em Guarulhos, porém, durante a
viagem Jésus passou muito mal e a ambulância que o
conduzia parou em Pirapitingui-SP. As dores imensas se
intensificaram e o diretor desse Hospital, sabedor das
qualidades inatas de liderança, apesar da terrível
doença, não permitiu sua saída de Pirapitingui.
A vaidade e o orgulho, traços marcantes de sua
personalidade, foram substituídos pela submissão e
simplicidade. Muito embora não acreditasse na Doutrina
Espírita, sua esposa - Anita Vilela, também moradora no
Hospital - não era portadora do mal de Hansen,
ofereceu-lhe para leitura o livro “O céu e o inferno” de
Allan Kardec e é esse o início de sua conversão do
ateísmo para o Espiritismo.
Perdendo suas convicções materialistas, dedicou-se à
leitura das obras de Kardec, Léon Denis, Flammarion,
Bozzano e outros, completando assim sua conversão. Nesse
local fundou a “Sociedade Espírita Santo Agostinho”,
primeiro Centro Espírita em hospital de hanseníase do
mundo, sendo também fundador da Rádio PRC-2, Rádio Clube
de Pirapitingui, e do jornal interno “O nosso Jornal”.
Publicava suas poesias nesse jornal; escrevia peças
teatrais e delas participava como ator.
Sua doença consumia e deformava todo o corpo, rosto
transfigurado e os órgãos começavam a falhar, cordas
vocais sem qualquer manifestação e assim, lentamente,
apagava-se a estrela do apóstolo de Pirapitingui,
regressando à Pátria Espiritual no dia 16 de fevereiro
de 1947. Desencarnado, em suas comunicações
psicografadas por Chico Xavier pediu para ser chamado de
Jésus, pois se considerava indigno de ostentar o mesmo
nome do Rabi da Galileia.
Por certo este subscritor não o conheceu pessoalmente,
no entanto tive a oportunidade de visualizar sua
presença espiritual em uma das ruas de Bauru, já com o
uniforme branco hospitalar.
Para as pessoas que acreditam na doutrina da
reencarnação é fácil o entendimento do que foi a vida de
Jésus Gonçalves, aquele que ao longo dos séculos trocou
a vestimenta do homem velho pela túnica alvinitente do
homem novo. Jésus, homem de rara inteligência e
capacidade de superar os mais incríveis obstáculos, é
hoje um dos Espíritos Guias da Humanidade.
“O homem tem que reparar, no plano físico, o mal que fez
no mesmo plano. Torna a descer no cadinho da vida, no
próprio meio onde se tornou culpado, para junto daqueles
que enganou, despojou, espoliou, sofrer as consequências
do modo por que anteriormente procedeu.” (Excerto do
livro “O problema do Ser, do Destino e da Dor”, de Léon
Denis.
Fonte: “A Extraordinária Vida de Jésus
Gonçalves”, autoria de Eduardo Carvalho Monteiro,
publicado pela EME Editora.