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por Anselmo Ferreira Vasconcelos

 

Livrando-se do lixo mental


Na obra que ostenta precisamente o seu nome no título (psicografada por Francisco Cândido Xavier), o Espírito Emmanuel discorre, entre outras coisas, sobre a “ideoplasticidade do pensamento”. Como tal fenômeno ainda não é devidamente compreendido pelas criaturas humanas, necessário se faz retomar o assunto para melhor elucidá-lo. Posto isto, no dicionário Espiritismo, Metapsíquica e Parapsicologia, de autoria de João Teixeira de Paula, somos informados que se trata basicamente da “modelagem da matéria pelo pensamento”. Embora o termo tenha sido cunhado por Durand, em 1860, com o sentido de sugestibilidade, foi Ochorowicz, em 1884, que lhe redefiniu o significado ao propor a ideia de “realização fisiológica de uma ideia”. Ou seja, tal expressão refere-se, essencialmente, à materialização do pensamento.

E pensamento representa força altamente poderosa pela qual os indivíduos se expressam e se definem perante Deus e a sociedade. Vale recordar que cogitei alhures1 que os nossos pensamentos revelam a nossa essência e, por extensão, nosso grau evolutivo. Argumentei também que os pensamentos são o alimento das nossas almas. Aliás, segundo estudos, pela nossa tela mental passam cerca de 95.000 pensamentos diários. Desse modo, cumpre destacar que a nossa atividade mental é intensa ou, em outras palavras, inerente à nossa existência. Portanto, sem ela deixamos simplesmente de viver.

Cabe mencionar igualmente que a relevância dessa capacidade é tão acentuada que o iluminado Espírito Joanna de Ângelis esclarece, na obra Atitudes Renovadas (psicografia de Divaldo Pereira Franco), que A força dinâmica geradora e mantenedora do universo é o Divino Pensamento”. Supõe-se, então, que a criação divina opera suas maravilhas através do seu acendrado pensamento, dando vida, assim, às criaturas e a uma miríada de mundos e universos em ritmo infrene.

Por sua vez, Emmanuel explica, na obra Fonte Viva Nosso (psicografia de Francisco Cândido Xavier), que:

“Pensamento é fermentação espiritual. Em primeiro lugar estabelece atitudes, em segundo gera hábitos e, depois, governa expressões e palavras, através das quais a individualidade influencia na vida e no mundo. Regenerado, pois, o pensamento de um homem, o caminho que o conduz ao Senhor se revela reto e limpo.” 

E Joanna de Ângelis complementa afirmando que “...cada qual vive no mundo edificado pelo seu pensamento.” Infelizmente, abrigamos em nossa mente muitos pensamentos – provavelmente sem consciência disso - prejudiciais à nossa paz interior. Por isso, necessitamos proceder periodicamente uma autêntica higiene nessa esfera, a exemplo de outras partes do corpo, para nos livrarmos das suas correspondentes sujidades (basicamente maus pensamentos, ideias, desejos e aspirações). Emmanuel sugere, no livro Pão Nosso (psicografia de Francisco Cândido Xavier), que observemos as nossas experiências diárias, já que elas repercutem diretamente no nosso interior. Afinal de contas, elas constituem “o material de reflexão” que acolhemos em nossa consciência (campo mental).

Já Joanna de Ângelis pondera que “Aquele que não tem bom, possui maus pensamentos, não havendo, nessa área, um tipo de neutralidade em que a mente nada elege”. Dito isto, que tipo de alimento (pensamentos) nutrimos à nossa alma? Se pudéssemos ler a mente dos indivíduos criminosos, por exemplo, certamente encontraríamos imensa atividade mental focada na criação e execução de atividades espúrias e degradantes à dignidade humana, ao passo que nos cientistas, médicos e professores voltados ao bem provavelmente identificaríamos farto material sendo engendrado com vistas ao auxílio e progresso geral.

Seja como for, exceção aos santos, a maioria de nós não consegue elaborar mentalmente pensamentos elevados ou de teores positivos de maneira permanente. Na verdade, oscilamos na maior parte do tempo, pois inúmeras coisas prendem a nossa atenção – nem sempre elogiáveis - quebrando as nossas melhores disposições d’alma. Por essa razão, é imprescindível nos libertamos de todo o lixo mental que esteja encastelado no nosso eu.

Nesse importante ponto cabe indagar: Mas, afinal, o que é lixo mental? Grosso modo, poderíamos considerar que é tudo aquilo que enseja escolhas infelizes de nossa parte tais como: desejo de vingança, manifestação de agressividade, orgulho ferido, ideias malsãs em geral, vícios, linguagem ferina, má interpretação das adversidades e contrariedades da vida, ausência do cultivo de valores superiores do espírito, inveja, atitudes equivocadas, conduta mesquinha e assim por diante.

De modo geral, todo o pensamento que não nos conduz ao aperfeiçoamento moral, ao comportamento reto e a conduta ética acaba nos causando algum tipo de desvio, mesmo que este se resuma apenas e tão somente na omissão diante de certas situações críticas – o que também não é bom para nós. Mas, sobretudo, devemos evitar pensar o mal, como recomendava Jesus (Mateus, 9: 4), pois nele estão as causas das desgraças, tragédias e afastamentos afetivos. Nesse sentido, convém ressaltar que Deus sempre espera o melhor de nós, isto é, nesta perspectiva envolve fundamentalmente pensamentos bons, tolerantes e construtivos para que as nossas ações efetivas sejam pautadas pelo bem. 

De maneira similar, como sugere o Espírito Kelvin Van Dine, na obra Técnica de Viver (psicografia de Waldo Vieira), na higiene mental cumpre “Purificar as ideias. Elevar emoções, efetuar a triagem dos pensamentos, como se procede à faxina diária dentro da casa. Imaginar o melhor e buscar o melhor”. Mais ainda, conforme aconselha ele, “No trânsito do cotidiano, coloque o ‘certo’ no coração e no raciocínio para que os nossos olhos e ouvidos não se tornem assalariados para as atividades infelizes do ‘errado’”. Por fim, lembremos que os pensamentos são os mecanismos indutores das emoções, e a nós deve interessar apenas dar impulso àquelas de teor eminentemente positivo, pois são elas que nos dão alegria e serenidade para o enfrentamento das lutas abençoadas e para o nosso progresso espiritual.  

 

Nota:

(1) VASCONCELOS, A.F. Pensamentos: O alimento da alma. Presença Espírita, nº 284, p. 11-16, maio-junho 2011.

 
 
 

     
     

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita