Natural de Iacri e residente em Bauru (ambos
municípios paulistas) desde 1981, Milton
Francisco Puga (foto) é publicitário/designer.
Vincula-se ao CEAC - Centro Espírita Amor e
Caridade, de Bauru, desde quando chegou à
cidade. Colaborador assíduo da instituição,
coordena a reunião pública presencial em todas
as segundas-feiras, que é transmitida ao vivo
pela Rádio e TV CEAC e FM 87. De sua convivência
com o escritor Richard Simonetti e as
experiências com o CVV, Milton relata fatos
marcantes nesta entrevista:
Sendo profissional da área de comunicação
visual, especialmente, como encara esse recurso
para a divulgação espírita?
A comunicação visual é tão importante quanto a
comunicação geral da doutrina; ela deve espelhar
a seriedade, a clareza, a pureza e a vanguarda
tal qual a mensagem espírita, para que o
“produto espírita” chegue com eficiência àqueles
que necessitam desse alimento para nutrir a alma
e valorizar em plenitude a vida neste período de
transição planetária que tanto tem afetado o
equilíbrio e o norte da maioria das pessoas
desatentas.
Das capas e ilustrações de livros de Richard
Simonetti, qual a experiência que o marcou mais
nessa atividade específica?
De todas as capas e trabalhos em que pude
colaborar com o Richard e a doutrina, a mais
forte e impactante foi a primeira capa para o
best seller “Quem tem medo da Morte?” que foi o
sétimo livro do Simonetti. Essa capa tem uma
síntese muito forte com um palito de fósforo
queimado em uma página totalmente branca com o
destaque no título que é uma grande pergunta, em
letras garrafais. Cada capítulo do livro é
seguido de ilustrações bem limpas, com o clone
de personagem principal em linhas mais finas,
personificando o perispírito. O livro é um
sucesso nacional e internacional, até hoje!
Muito menos pelo sucesso e muito mais porque
marcou a nossa parceria, que foi uma das
melhores coisas que aconteceram na minha
encarnação.
Como foi seu convívio com Richard?
Alguém disse que somos nós que dirigimos a nossa
vida, mas há algumas exceções que são
significativamente relevantes em nossa jornada,
como foi o meu caso, com a minha mudança para
Bauru, que impactou definitiva e positivamente a
minha vida. Entre tantas coisas boas, uma foi o
“reencontro” com o Richard, com quem logo de
cara nos afinizamos e ele me tratou o tempo todo
com o cuidado e o carinho de irmão mais velho,
sempre me chamando docilmente de Menino, desde
que nos conhecemos em 1981 até as visitas
enquanto convalescia em seu leito antes de
desencarnar em 3 outubro de 2018. O meu convívio
com o Richard foi só aprendizado, um orgulho, um
privilégio e honra de poder estar desfrutando da
sabedoria e da boa energia deste espírita
consciente, disciplinado e comprometido
seriamente em divulgar e vivenciar o Espiritismo
na essência.
Sua experiência com o CVV como o marcou?
O meu encontro com o CVV (Centro de Valorização
da Vida) foi uma sequência natural, uma vez que
o nosso trabalho no movimento espírita é um
trabalho permanente dedicado ao acolhimento,
promoção e valorização da vida, que é um MBA de
prevenção do suicídio. Fui convidado a ajudar a
não deixar o CVV Bauru fechar, a priori, por
meio da comunicação, mas a proposta de vida e a
missão do CVV me tocaram muito e mergulhei de
cabeça nesse trabalho, que coincidia com o apelo
da OMS (Organização Mundial de Saúde) relativo
ao crescente avanço da depressão e do suicídio,
principalmente entre jovens de 14 a 29 anos, o
que se transformou em pandemia silenciosa, dando
início no mundo todo, em especialmente no
Brasil, da campanha Setembro Amarelo,
para tirar esse tabu de baixo do tapete, a
exemplo que ocorreu com o Outubro Rosa, olhando
o câncer de frente e seriamente para mobilizar o
mundo para o trabalho e políticas públicas de
conscientização, prevenção e tratamentos.
Acabei ajudando na divulgação, mobilização e
fazendo, também, o curso para a seleção de
voluntários, ingressando nesse trabalho
humanitário maravilhoso, que faço desde agosto
de 2015. Mais que um trabalho voluntário de
Valorização da Vida e da Prevenção do suicídio,
trata-se de um MBA de autocrescimento.
A partir do Setembro Amarelo e também pelos
efeitos da tragédia em janeiro de 2013, com 242
mortos e 636 sobreviventes, no incêndio da Boate
Kiss em Santa Maria no Rio Grande do Sul, no dia
10 de março de 2017, o Ministério da Saúde
firmou uma parceria com o CVV, permitindo que as
ligações se tornassem gratuitas, a exemplo do
192 Samu (urgência e emergência), 193 Corpo de
Bombeiros o 188 para apoio emocional. A ideia
não só deu certo no Sul como foi-se expandindo e
em junho de 1988 implantada em todos os estados
brasileiros, incluindo o Distrito Federal.
Diante de uma experiência para ilustrar, seja em
capa de livro ou num outdoor, quais
aspectos mais importantes lhe orientam a ação?
Estando na era digital e de multiplicidade da
mídia, alguém já disse com muita propriedade que
“Quem não é visto não é lembrado!” e muito menos
percebido, visto, adquirido ou acessado. Isso
vale para toda peça de comunicação, seja um outdoor ao
ar livre, uma publicação impressa nas bancas ou
divulgação em redes sociais ou em todo ponto de
venda, físico ou virtual. A comunicação precisa
ser atraente, objetiva, instigante, impactante e
eficaz, sempre acompanhando a dinâmica da
linguagem visual que se altera e evolui, hoje
mais que nunca com a velocidade da internet.
Qual a melhor técnica para sensibilizar um
público?
Como o tempo está cada vez mais reduzido, diante
da gigantesca e incomensurável quantidade de
informações e comunicações disponíveis nesta
era, uma capa de livro ou outra peça qualquer de
comunicação ainda continua valendo, para toda
peça de comunicação atual, o velho slogan do
genial publicitário Nizan Guanaes para o
outdoor: “Sem querer você já leu!”
Trazendo isso para a divulgação espírita, como
conquistar e atrair pessoas para um evento?
Na comunicação visual de divulgação dos
“produtos espíritas” vale sempre a objetividade
sintética, a ética, a transparência, a sinergia
com o conteúdo e os valores espíritas,
emoldurado com uma boa e agradável estética
visual. Sempre limpa e informativa e nunca
apelativa, de conformidade com a conduta e ética
espírita. A rede social, atualmente é a maneira
mais econômica, mais ágil, mais eficaz e mais
rápida de se chegar ao público alvo e atingir
metas e objetivos.
Como sensibilizar ou conquistar alguém que tenha
a ideação suicida?
Quando se quebra um braço, uma perna ou outra
parte do corpo físico, todos enxergam a situação
do doente, mas infelizmente a depressão, os
medos, as inseguranças, o remorso, a ideação
suicida e as dores internas não são aparentes e
notadas instantaneamente, principalmente num
tempo onde a maioria das pessoas estão com os
olhos e as atenções voltadas para o celular,
para si. Nunca tivemos tanta evolução na
comunicação como agora, mas nunca tivemos tanto
isolamento social e tanta solidão como agora. Às
vezes estamos ao lado de um suicida e não
percebemos, por isso necessitamos olhar para
quem está ao nosso lado, na nossa casa, com o
vizinho, com o companheiro de trabalho, no
convívio social, onde quer que estejamos. Somos
gente, precisamos perceber o outro,
aproximar-nos, oferecer ajuda, um olhar amoroso,
um abraço, um gesto de gentileza, uma
cordialidade, um bom-dia olhando no olho, porque
as pequenas atitudes podem fazer a diferença,
pode salvar vidas. Se for o caso, além da
aproximação, da oferta de atenção, carinho e
atenção, oferecer para acompanhar alguém mais
próximo da família à busca de ajuda médica,
emocional e espiritual.
Ninguém está isento de passar por situações de
perdas, de baixa emocional, não podemos resolver
os problemas do mundo e de qualquer pessoa, mas
podemos sim, tal qual fazemos em um velório,
estar junto da pessoa, com ela, compreendendo o
momento de dor. Estar compreendendo e
respeitando a dor e o momento do outro e
disponibilizando-se para ajudá-la, isso ajuda a
se sentir notada, compreendida, respeitada e
amada. Todos nós podemos fazer a prevenção,
tenhamos o olhar atento às pessoas que nos
envolvem, onde quer que estejamos. Isso é
simples, está ao alcance de todos.
Suas memórias mais marcantes e suas palavras
finais.
Agradeço muito esta oportunidade de poder falar
de um ser humano que soube como ninguém
Valorizar a Vida e trabalhar para a promoção
humana e fazendo a prevenção do suicídio, em
suas ações humanitárias, em seus artigos, em
suas palestras e em seus 65 livros. Esse é o
Richard Simonetti e quanto fui privilegiado e
presenteado por Deus por poder estar servindo
com ele no que pude, e poder falar do CVV, essa
instituição filantrópica criada por sonhadores
jovens espíritas em 1962, que souberam trabalhar
disciplinada e exemplarmente, através de seus
exemplos, porque nenhum sonho morre quando
acreditamos e fazemos a nossa parte, visto que o
universo conspirará para que esse sonho vire
realidade.
Hoje o CVV, com 61 anos oferecendo apoio
emocional gratuitamente, de forma sigilosa e 24
horas por dia, é algo que merece celebrar, muito
menos pelo tempo de existência e trabalho
realizado, mas muito mais pela instituição em
si, que é composta por cada ser humano que
encontra tempo para estar disponível a outras
pessoas de forma voluntária, permanente e sabe
que ainda necessitamos de mais pessoas para
minimizar essa triste estatística que vem num
crescente principalmente entre jovens de 14 a 29
anos. Que possamos ser o Samaritano a estes
emocionalmente caídos nos caminhos do nosso
entorno, necessitando de ânimo e um olhar
humano.
Gratidão eterna por esta oportunidade e por este
espaço. Que O Voluntário Maior continue nos
iluminando, nos inspirando e nos intuindo.
Sempre!
|