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por Marcus De Mario

 

Importância do Centro Espírita


Quando Allan Kardec lançou as bases da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, obtendo o registro do seu estatuto e o devido aval de funcionamento, inaugurava uma nova fase de estudo e divulgação do Espiritismo, que já havia ganho O Livro dos Espíritos e a Revista Espírita: o primeiro centro espírita oficial estava inaugurado, tendo por finalidade o estudo da doutrina e sua aplicação prática através das reuniões mediúnicas e esclarecimento das consciências, assim como consolação aos corações, num grande intercâmbio entre os encarnados, e entre estes e os desencarnados. Assim, através desse exemplo partido do próprio Codificador, os centros espíritas espalharam-se pelo mundo e, com eles, multiplicaram-se também os congressos, as palestras, os seminários, os encontros doutrinários, reunindo as pessoas interessadas em melhor compreender o Espiritismo e melhor praticá-lo. No Brasil, em particular, a pujança do movimento espírita, através de milhares de centros espíritas espalhados pelo seu território, num esforço de fraternidade e solidariedade, mostra a força da doutrina e da união de seus adeptos, com o desdobramento de atividades nas mais diversas áreas.

Aconteceu, então, a epidemia da Covid, com o vírus alastrando-se pela população e, obedecendo as normas sanitárias determinadas pelas autoridades governamentais, os centros espíritas tiveram que suspender suas atividades presenciais, como aliás toda e qualquer organização teve que fazer. Era preciso conter a disseminação do vírus, e assim foi feito, evitando-se a aglomeração de pessoas. O conhecimento sobre a doença ganhou amplitude e, graças principalmente à vacina, as barreiras sanitárias começaram a ser levantadas, tendo os templos religiosos e outras organizações da sociedade recebido o aval para retomarem suas atividades presenciais. Igrejas católicas, templos protestantes, sinagogas judaicas, templos budistas, assim como as empresas comerciais e industriais, as escolas, as repartições públicas, todos voltaram ao funcionamento normal, menos os centros espíritas. Conhecemos casos de centros espíritas que ficaram fechados por dois anos consecutivos, realizando apenas atividades online, via internet.

Então surgiram as palestras virtuais, o passe virtual, o tratamento espiritual online e, para nosso espanto, agora surge a ideia da desobsessão virtual, em que dirigente, dialogador e médium estariam ligados apenas virtualmente, pela internet, cada um isolado em sua respectiva residência. A constatação é que os espíritas estão com medo de voltar a se encontrar, reunir e trabalhar no centro espírita, com medo de contrair o vírus, entretanto a maioria voltou a fazer compras no supermercado, a passear no shopping, a ir ao cinema e tudo o mais que se faz numa vida normal. Tivemos o prazer de encontrar no supermercado certa amiga espírita, que desde o início da epidemia afastou-se do centro espírita, e isso já perfaz pouco mais de três anos. Perguntamos quando a veríamos de volta às atividades doutrinárias, tendo ela esclarecido que não voltaria mais ao centro espírita, pois tinha muito medo de contrair a doença, e que preferia estudar de casa, online. Nada temos contra a internet e as atividades que se possam fazer através desse meio de comunicação, aliás muito útil, mas nossa amiga não demonstrava nenhum temor em relação ao supermercado, que estava cheio, nem ao ônibus repleto de pessoas para ir e vir do trabalho profissional, todos os dias. Perguntamos: por que somente o centro espírita é local perigoso para disseminação do vírus da Covid?

Agora recebemos a informação de um dirigente espírita que está à frente de uma atividade comemorativa regional do movimento espírita, para a qual fomos convidado como palestrante, que está difícil alcançar um número de inscrições satisfatório. De outro lado, temos acompanhando o noticiário informando que eventos musicais estão lotando arenas, teatros e estádios; que as estâncias turísticas estão repletas; e assim por diante. Naturalmente vamos encontrar entre as pessoas, nesses eventos e locais, muitos espíritas, que, por sua vez, apesar de estarem aglomerados com dezenas, centenas e mesmo milhares de pessoas, morrem de medo de frequentar o centro espírita, num verdadeiro paradoxo, preferindo ficar na zona de conforto de suas casas, estudando online, isso quando, de fato, prestam atenção à palestra ou ao grupo de estudo; sabemos de espíritas que, por não gostarem muito de eventos virtuais, estão apenas lendo os livros doutrinários.

Diante do que aprendemos com o Espiritismo e sabendo que somos seres de relação, tudo isso seria inconcebível se não fosse realidade. Sim, o vírus da Covid, com suas variantes, continua em circulação, mas agora temos todo um esquema de cobertura vacinal, assim como podemos perfeitamente utilizar máscara de proteção, se assim o desejarmos, como continuar a fazer a higiene constante das mãos, práticas essas comprovadamente eficientes. Agora, uma onda de calor está lotando as praias brasileiras, e não temos visto ninguém se preocupar com essas normas, mas no centro espírita…

O centro espírita é muito importante para o estudo e a prática do Espiritismo, para o desenvolvimento da fraternidade e da solidariedade, para o contato direto com a caridade, e não podemos esquecer que nele temos a companhia de equipes espirituais que querem nosso bem. Fugir do centro espírita é atestar não ser um verdadeiro espírita, lembrando que nem tudo pode ser feito virtualmente, online, e que Deus, nosso Pai, espera nossa decisiva ação na humanidade para a sua transformação moral.

Saiamos da zona de conforto! Fujamos ao comodismo! Voltemos aos centros espíritas!

 

Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo online de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; possui mais de 35 livros publicados.


 
 

     
     

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