Importância do Centro Espírita
Quando Allan Kardec lançou as bases da Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas, obtendo o registro do
seu estatuto e o devido aval de funcionamento,
inaugurava uma nova fase de estudo e divulgação do
Espiritismo, que já havia ganho O Livro dos Espíritos e
a Revista Espírita: o primeiro centro espírita
oficial estava inaugurado, tendo por finalidade o estudo
da doutrina e sua aplicação prática através das reuniões
mediúnicas e esclarecimento das consciências, assim como
consolação aos corações, num grande intercâmbio entre os
encarnados, e entre estes e os desencarnados. Assim,
através desse exemplo partido do próprio Codificador, os
centros espíritas espalharam-se pelo mundo e, com eles,
multiplicaram-se também os congressos, as palestras, os
seminários, os encontros doutrinários, reunindo as
pessoas interessadas em melhor compreender o Espiritismo
e melhor praticá-lo. No Brasil, em particular, a pujança
do movimento espírita, através de milhares de centros
espíritas espalhados pelo seu território, num esforço de
fraternidade e solidariedade, mostra a força da doutrina
e da união de seus adeptos, com o desdobramento de
atividades nas mais diversas áreas.
Aconteceu, então, a epidemia da Covid, com o vírus
alastrando-se pela população e, obedecendo as normas
sanitárias determinadas pelas autoridades
governamentais, os centros espíritas tiveram que
suspender suas atividades presenciais, como aliás toda e
qualquer organização teve que fazer. Era preciso conter
a disseminação do vírus, e assim foi feito, evitando-se
a aglomeração de pessoas. O conhecimento sobre a doença
ganhou amplitude e, graças principalmente à vacina, as
barreiras sanitárias começaram a ser levantadas, tendo
os templos religiosos e outras organizações da sociedade
recebido o aval para retomarem suas atividades
presenciais. Igrejas católicas, templos protestantes,
sinagogas judaicas, templos budistas, assim como as
empresas comerciais e industriais, as escolas, as
repartições públicas, todos voltaram ao funcionamento
normal, menos os centros espíritas. Conhecemos casos de
centros espíritas que ficaram fechados por dois anos
consecutivos, realizando apenas atividades online, via
internet.
Então surgiram as palestras virtuais, o passe virtual, o
tratamento espiritual online e, para nosso espanto,
agora surge a ideia da desobsessão virtual, em que
dirigente, dialogador e médium estariam ligados apenas
virtualmente, pela internet, cada um isolado em sua
respectiva residência. A constatação é que os espíritas
estão com medo de voltar a se encontrar, reunir e
trabalhar no centro espírita, com medo de contrair o
vírus, entretanto a maioria voltou a fazer compras no
supermercado, a passear no shopping, a ir ao cinema e
tudo o mais que se faz numa vida normal. Tivemos o
prazer de encontrar no supermercado certa amiga
espírita, que desde o início da epidemia afastou-se do
centro espírita, e isso já perfaz pouco mais de três
anos. Perguntamos quando a veríamos de volta às
atividades doutrinárias, tendo ela esclarecido que não
voltaria mais ao centro espírita, pois tinha muito medo
de contrair a doença, e que preferia estudar de casa,
online. Nada temos contra a internet e as atividades que
se possam fazer através desse meio de comunicação, aliás
muito útil, mas nossa amiga não demonstrava nenhum temor
em relação ao supermercado, que estava cheio, nem ao
ônibus repleto de pessoas para ir e vir do trabalho
profissional, todos os dias. Perguntamos: por que
somente o centro espírita é local perigoso para
disseminação do vírus da Covid?
Agora recebemos a informação de um dirigente espírita
que está à frente de uma atividade comemorativa regional
do movimento espírita, para a qual fomos convidado como
palestrante, que está difícil alcançar um número de
inscrições satisfatório. De outro lado, temos
acompanhando o noticiário informando que eventos
musicais estão lotando arenas, teatros e estádios; que
as estâncias turísticas estão repletas; e assim por
diante. Naturalmente vamos encontrar entre as pessoas,
nesses eventos e locais, muitos espíritas, que, por sua
vez, apesar de estarem aglomerados com dezenas, centenas
e mesmo milhares de pessoas, morrem de medo de
frequentar o centro espírita, num verdadeiro paradoxo,
preferindo ficar na zona de conforto de suas casas,
estudando online, isso quando, de fato, prestam atenção
à palestra ou ao grupo de estudo; sabemos de espíritas
que, por não gostarem muito de eventos virtuais, estão
apenas lendo os livros doutrinários.
Diante do que aprendemos com o Espiritismo e sabendo que
somos seres de relação, tudo isso seria inconcebível se
não fosse realidade. Sim, o vírus da Covid, com suas
variantes, continua em circulação, mas agora temos todo
um esquema de cobertura vacinal, assim como podemos
perfeitamente utilizar máscara de proteção, se assim o
desejarmos, como continuar a fazer a higiene constante
das mãos, práticas essas comprovadamente eficientes.
Agora, uma onda de calor está lotando as praias
brasileiras, e não temos visto ninguém se preocupar com
essas normas, mas no centro espírita…
O centro espírita é muito importante para o estudo e a
prática do Espiritismo, para o desenvolvimento da
fraternidade e da solidariedade, para o contato direto
com a caridade, e não podemos esquecer que nele temos a
companhia de equipes espirituais que querem nosso bem.
Fugir do centro espírita é atestar não ser um verdadeiro
espírita, lembrando que nem tudo pode ser feito
virtualmente, online, e que Deus, nosso Pai, espera
nossa decisiva ação na humanidade para a sua
transformação moral.
Saiamos da zona de conforto! Fujamos ao comodismo!
Voltemos aos centros espíritas!
Marcus De Mario é escritor, educador,
palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo online de
estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no
YouTube; possui mais de 35 livros publicados.
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