As consequências dos
nossos atos: algumas
reflexões
Muito se discute na
atualidade a respeito de
ética. Aliás, os
teóricos dessa área do
saber humano
enquadram-na em pelo
menos quatro vertentes
principais, a saber:
consequencialismo,
deontológica, virtudes
e, mais recentemente,
cuidado/atenção. Desse
modo, portanto, o
enfoque deontológico
ocupa-se essencialmente
de deveres e regras que
devemos respeitar. As
virtudes abrangem as
qualidades intrínsecas
que nos tornam
admirados, excelentes e
virtuosos. Cuidados ou
atenção implicam, sob o
prisma ético, a
importância de como
respondemos às
necessidades de um
indivíduo. Por fim, a
ótica consequencialista
foca em lidar com os
efeitos dos nossos atos
e decisões, ou seja,
respondermos pelo que
fazemos ou deixamos de
fazer.
Pressupõe-se, assim, que
uma pessoa possa
desenvolver - ou ampliar
se já as possuir - ao
longo da sua vida as
noções daí derivadas
para que a sua
encarnação seja
bem-sucedida. Em outras
palavras, ela precisa
necessariamente
assimilar tais conceitos
para que expresse sempre
uma conduta equilibrada,
respeitosa e positiva à
sociedade. Assim sendo,
a construção moral de um
indivíduo torna-se
perceptível pelo que ele
contribui para o
bem-estar geral. Por
exemplo, um juiz que
cumpra o seu papel de
maneira zelosa e com
total alinhamento às
leis constituídas
certamente não deverá
temer as consequências
das suas decisões. Já
outro no exercício da
mesma função, que não
esteja totalmente
alinhado aos preceitos
constitucionais vigentes
em suas deliberações,
provavelmente será autor
de injustiças, além de
estar sujeito a
enfrentar grandes
dissabores devido à sua
incúria ou má-fé.
Na prática, vemos a
questão ética sendo
massacrada por todos os
lados na atualidade,
muito embora nunca se
tenha falado tanto sobre
o assunto. Embora
saibamos perfeitamente
do que se trata, em
maior ou menor grau
continuamos
desrespeitando regras
básicas de convivência
social, bem como
cumprindo muito mal o
nosso papel nessa tão
importante e decisiva
variável existencial. No
entanto, quando a
moldura ética é bem
compreendida, ela nos
ajuda a aperfeiçoar o
nosso caráter
facultando-nos, assim, o
nosso progresso
espiritual. Mas como
ainda estamos apegados a
uma visão estreita do
significado da vida, não
raro optamos por
caminhos desastrosos,
que nos trazem
sofrimentos e angústias
desnecessárias.
Quando libertos, enfim,
do invólucro material,
retornamos às paragens
espirituais e lá somos
geralmente defrontados
pelo nosso passivo, já
que muito poucos chegam
como autênticos
vencedores na
experiência corpórea. A
propósito, vale
ressaltar que Allan
Kardec dedicou
considerável tempo para
dissecar a realidade dos
Espíritos malsucedidos.
Em suas palavras
exaradas n’O Livro
dos Espíritos lemos
o seguinte comentário: “Interrogamos,
aos milhares, Espíritos
que na Terra pertenceram
a todas as classes da
sociedade, ocuparam
todas as posições
sociais; estudamo-los em
todos os períodos da
vida espírita, a partir
do momento em que
abandonaram o corpo;
acompanhamo-los passo a
passo na vida de
Além-túmulo, para
observar as mudanças que
se operavam neles, nas
suas ideias, nos seus
sentimentos e, sob esse
aspecto, não foram os
que aqui se contaram
entre os homens mais
vulgares os que nos
proporcionaram menos
preciosos elementos de
estudo. Ora, notamos
sempre que os
sofrimentos guardavam
relação com o proceder
que eles tiveram e cujas
consequências
experimentavam; que
a outra vida é fonte de
inefável ventura para os
que seguiram o bom
caminho. Deduz-se daí
que, aos que sofrem,
isso acontece porque o
quiseram; que, portanto,
só de si mesmos se devem
queixar, quer no outro
mundo, quer neste”
(ênfase minha).
De maneira similar, o
Espírito André Luiz
observa, no livro Evolução
em Dois Mundos (psicografado
pelos médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo
Vieira), que “sofre a
alma culpada minucioso
processo de purgação,
tanto mais produtivo
quanto mais se lhe
exteriorize a dor do
sofrimento e, apenas
depois disso, consegue
elevar-se a esferas de
reconforto e reeducação”
(ênfase minha). Mas
diferentemente do plano
imperfeito em que ora
estagiamos rumo à
conquista da libertação
das nossas almas, no
mundo maior a nossa
“bagagem espiritual”
fala por nós, definindo
exatamente o que somos
na essência. Aliás,
muitas vezes nos
empenhamos
obsessivamente em
ocultar dos outros as
sombras que dominam a
nossa personalidade.
Todavia, de Deus nada
escondemos...
Dentro desse cenário,
não é difícil prever o
que aguarda o criminoso
contumaz, o político
corrupto, o executivo
sem ética, o trabalhador
negligente e assim por
diante. Mas o raciocínio
é igualmente válido para
os que fracassam na
esfera da lealdade, no
respeito aos
semelhantes, na prática
do bem e da caridade, na
busca da elevação dos
sentimentos, no
exercício da
maternidade/paternidade,
no emprego da
inteligência e
habilidades para
finalidades dignas, na
utilização sadia e
esclarecedora do poder
da palavra e dos
escritos, no cultivo de
valores edificantes etc.
Com efeito, se abundam
as oportunidades de
sermos melhores,
tenhamos em vista que o
mesmo ocorre com relação
aos erros. Ascensão ou
queda moral são escolhas
do Espírito através do
seu livre-arbítrio e que
lhe determinarão, aliás,
um futuro risonho ou um
sofrimento reparador.
Desse modo, busquemos
trabalhar por trilhar
uma vida espiritualmente
rica em realizações e
conquistas interiores.
Jamais façamos aos
outros o que não
desejamos para nós
mesmos, como ensinou
Jesus. Sejamos prudentes
em nossa conduta para
não sentirmos depois o
amargor do
arrependimento e da
derrocada. Dominemos
nossas reações e
pensamentos para que não
reflitam desajustes. Por
fim, lembremos que
estamos sendo
atentamente observados
pela espiritualidade.
Almas amigas nos
acompanham e inspiram
sempre para o lado do
bem, mas façamos a nossa
parte nos corrigindo e
autoiluminando. Como
sabiamente pondera o
Espírito Emmanuel, na
obra que leva o seu nome
no título e psicografada
por Francisco Cândido
Xavier, “Oxalá
possam os homens
compreender a
excelsitude do
ensinamento dos
Espíritos e aproveitar o
fruto bendito das suas
experiências; com o
entendimento
esclarecido,
interpretarão com
fidelidade o ‘Amai-vos
uns aos outros’, em sua
profunda significação”.
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