Página ao homem
Romeiro da ansiedade, em lágrimas avanças,
A estrada é solidão enquanto a luz declina,
Esbravejam bulcões na tela vespertina,
Faz-se a noite aguaceiro em súbitas mudanças!…
Nem estrelas no céu, nem lar nas vizinhanças,
Mais granizo a descer, mais sombra, mais neblina…
A tempestade ruge, o caos troa e domina,
A calhaus e marnéis mais trôpego te lanças…
Não temas! Segue e vence a lúrida procela,
Não procures saber se o frio te enregela,
Nem te prendas ao fel da senda atormentada…
Resguarda-te na fé! Sofre, luta, porfia!…
Renascerá da treva a bênção de outro dia
Nos caminhos de sol da nova madrugada.
Glossário:
1 – Bulcões (plural de bulcão): 1.
Aglomeração de nuvens densas e compactas.2. Nevoeiro
espesso que antecede uma tempestade.3. Redemoinho de
vapores, fluidos ou partículas sólidas em turbilhão.
2 – Calhau: Pedra dura e solta de
diferentes tamanhos; seixo.
3 – Marnéis (plural de marnel): Campo
alagadiço, apaulado e que só em pequenos barcos se pode
vadear.
4 – Lúrida (forma feminina de lúrido): 1. Pálido,
lívido, descorado.2. Poét. Escuro,
sombrio.
5 – Procela: Tempestade
marítima;
tormenta.
Do livro Poetas redivivos, obra psicografada pelo
médium Francisco Cândido Xavier.