Energia e ternura no discurso de Jesus
Os evangelhos são um convite de Jesus aos homens para
que descubram os caminhos da transcendência. Bem
provavelmente por isso seus ensinos estão centrados na
vida futura, para onde todos seguem depois de terem
vivido na Terra, e onde todos se defrontam com a própria
consciência, colhendo o resultado de suas ações.
Os argumentos de Jesus eram os de um profundo conhecedor
da natureza humana. Embora sua linguagem tenha em alguns
momentos o tom imperativo como, por exemplo, em Mateus,
V: 44-48: “Sede vós, logo perfeitos, como também vosso
Pai celestial é perfeito”, Jesus sempre soube que só o
tempo levaria os homens a se conhecerem e se verem como
irmãos.
O fato de que ele falava a homens pouco adiantados e
pouco afeitos às questões do Espírito justifica a
energia ou a ternura que aplicava à voz, dependendo das
circunstâncias. Longe de caracterizar intolerância ou
condescendência injustificável, o discurso do Mestre era
um estímulo para arrancar os homens da inércia e
levá-los ao aperfeiçoamento moral.
Elucidando esta passagem de Mateus, Allan Kardec
pergunta em O Evangelho segundo o Espiritismo,
capítulo XVII: — “Mas em que consiste essa perfeição?”.
E o próprio Kardec responde: “Jesus mesmo o disse: ‘Amai
os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos têm ódio, e
orai pelos que vos perseguem e caluniam’”.
São orientações que exigem esforço e determinação para
serem cumpridas; requerem alto grau de humildade,
renúncia e devotamento, o que significa dizer, alto grau
de compreensão humana. Aquele que assim procede com um
inimigo já terá aprendido a amar o semelhante,
denotando, portanto, superioridade moral.
Por reconhecer a grande dificuldade que os homens tinham
para compreender suas alegações foi que Jesus fez
referências constantes ao futuro, onde seriam
beneficiados pelo avanço geral das ideias e pelo
desenvolvimento individual de cada um.
A expressão “Sede vós, logo perfeitos”, portanto,
convida a não mais adiarmos o início do trabalho moral
em nós, e que nos fará entrar no difícil, mas inevitável
caminho do bem.
Para isso, a senha é a caridade no seu mais amplo
significado, na sua mais extensa aplicação; da mais
recôndita intenção ao mais abnegado ato de coragem.
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