O sofrimento do sofrimento
“Chega um momento em nossa vida em que é preciso
abandonar o sofrimento.” – do livro Pensamentos Que
Ajudam
Reencarnamos para sofrer? Não! Absolutamente não!
Retornamos à carne para progredirmos moralmente e sermos
felizes tendo uma existência produtiva!
Mas como assim?! O sofrimento solapa a tranquilidade de
muitas pessoas que são impedidas de serem felizes!
Vamos lá. Se uma pessoa recebe o diagnóstico de ser
diabética ou portadora de pressão alta que exigirá
tratamento pelo restante da vida no corpo, ela pode ter
dois tipos de sofrimento: o sofrimento pelo diagnóstico
recebido e o sofrimento de não poder comer mais doce ou
alimentos carregados no sal, tipo embutidos, que
acompanhavam a cerveja gelada no verão.
Esse segundo sofrimento relativo ao controle com a
alimentação que impossibilita o consumo de produtos
agradáveis ao paladar da pessoa é um acréscimo de
sofrimento perfeitamente contornável.
O diabético dispõe dos produtos denominados diet e
os hipertensos de vários recursos que podem atenuar o
uso exagerado do sal, que era agradável ao paladar. Sim,
porque o hipertenso não está privado de maneira absoluta
desse tempero em suas refeições, mas sim aconselhado ao
uso moderado do produto e de temperos outros que
disfarçarão a pouca quantidade empregada daquilo que é
nocivo à sua saúde.
Até estas linhas falamos em atender aos anseios do corpo
físico. Será que não existe algo mais importante no
homem, Espírito reencarnado, que precisa também de certa
“dieta”?
Paulo, já no final de sua existência física, afirmava
que havia aprendido a ser feliz com o que tinha. Quem
leu a história de vida do apóstolo entende que a
felicidade de Paulo era ter servido a Jesus porque,
materialmente falando, só conheceu a perda de várias
situações cômodas de que era detentor. A posição no
Sinédrio, a noiva Abigail, o desprezo dos próprios
familiares. A morte de Estêvão, as prisões, as pedradas,
as perseguições, as chicotadas vieram agravar suas
perdas... E mesmo assim declarava-se feliz!
Encontramos o sofrimento em nosso retorno à vida
material como forma de expiações ou provações, que é o
que justifica nossa volta. Se não fosse para não nos
encontrarmos com as lições de que temos necessidade, o
que justificaria a reencarnação? Os encontros e
reencontros não têm sido agradáveis? Observemos o
presente!
Qual seria, então, a “dieta” necessária ao Espírito que
transita pela estrada evolutiva? Exatamente abandonar o
sofrimento, ou, pelo menos, o sofrimento do sofrimento a
que nos referimos acima.
Nesta altura do artigo, muitos indagarão: como abandonar
o sofrimento se ele, o sofrimento, não nos abandona?
Como abandonar o sofrimento ocasionado pela partida de
um ente querido, por uma enfermidade grave; uma situação
financeira que comprometa o sustento dos filhos; a
dissolução de um lar por motivo de egoísmo, orgulho ou
vaidade?
Paulo, como já mencionamos, apoiou-se no serviço a
Jesus, mas e nós, o que fazemos de tão meritório para
sofrermos menos?
Agradecermos e retribuirmos as bênçãos que recebemos até
a data em que o infortúnio veio nos visitar é um bom
caminho.
A vida é uma montanha russa. Num momento o “carrinho” em
que estamos sentados sobe lentamente e é só alegria. A
saúde nos envolve. A situação financeira está sob
controle. O lar está em paz. Os filhos vão bem,
obrigado.
Mas existe aquela hora em que o “carrinho” despenca
trilhos abaixo. Nessa hora em que tudo parece conspirar
para a nossa derrota, para o nosso fracasso, não podemos
banir da lembrança que tivemos nossos momentos de
tranquilidade que foram tão suaves que deixamos que eles
escapem do nosso arquivo mental.
Não suportaríamos em nosso estágio evolutivo apenas nos
encontrarmos com o sofrimento. Somente os Espíritos de
alta evolução suportam tal situação, como nos ensina o
Espírito Alcíone no livro Renúncia. Mas quão
distante estamos dela! Deus sabe disso de maneira plena
e permite exatamente o peso que temos condições de
suportar.
Para melhorar nossas reflexões sobre abandonar o
sofrimento, vamos nos valer de um trecho da página do
livro Pensamentos Que Ajudam, do doutor José
Carlos De Lucca, editora Intelítera, na página
intitulada A outra margem:
“Abandonar o sofrimento é deixar o papel de vítima,
aceitando que a vida é imperfeita, que nem sempre a
felicidade nos fará companhia, que dias tristes também
fazem parte do nosso roteiro, mas que, nem por isso, a
vida deixa de ser boa e bonita de ser vivida. Quando
abrirmos mão do sofrimento, daquele sofrimento inútil,
que não remenda os estragos já ocorridos, deixaremos de
ser a vítima e passaremos a ser herói. E um herói se
forja com luta, perseverança, coragem, flexibilidade,
aceitação da realidade, esforço e uma incrível vontade
de viver, apesar de todas as suas dores e fracassos. O
herói sabe que o tempo de chorar é apenas o tempo de
descansar a alma para o que a vida ainda lhe reserva
adiante.”
Lembro-me bem de uma entrevista com o espetacular ator
Paulo Autran quando perguntaram a ele se tinha medo da
morte. E ele com muita tranquilidade respondeu ao
repórter que não, porque o que embelezava a vida,
segundo ele, era exatamente a morte. Se ela não
existisse não perceberíamos a beleza da vida.
Que definição perfeita desse gênio das artes dramáticas!
A imperfeição da vida é que confere a ela toda a beleza
e o valor de estarmos em um corpo transitório aqui na
Terra, porque se a vida fosse perfeita sob o aspecto
material, ela se transformaria numa imensa monotonia
onde não encontraríamos recursos para abandonar o
sofrimento que o tédio nos imporia.