O tríplice aspecto da alforria
Arrependimento, expiação e reparação constituem
as três condições necessárias para apagar os
traços de uma falta e de suas consequências.
“(...) Quando o homem obedece aos Códigos
Soberanos e às leis humanas, logra paz,
sendo-lhe factível o triunfo espiritual e a
felicidade terrena.” Joanna
de Ângelis
Para a completa erradicação de todo prejuízo
causado à nossa economia espiritual por nossa
própria incúria, ignorância e invigilância,
faz-se necessário um longo processo, normalmente
doloroso, do qual podemos distinguir três fases
bem distintas:
1 – Arrependimento;
2 – Expiação;
3 – Reparação.
As duas primeiras fases do processo de alforria
espiritual, isto é, o arrependimento e
a expiação, só dizem
respeito ao infrator, ao Espírito calceta,
aquele que cometeu a transgressão às leis tanto
divinas quanto humanas. Por isso não bastam,
pois não são suficientes...
Mas aí chegamos, finalmente, na terceira e
última fase do processo redentor: a reparação.
A reparação já não diz mais respeito ao infrator
senão àqueles que foram vitimados por seus
equívocos passados. Portanto, a reparação
será a pá de cal no processo de resgate. É
ela que nos dá a quitação dos débitos,
conservando e refazendo o que destruímos.
Em várias perguntas formuladas
por Allan Kardec, os Espíritos elucidam para
todos nós os aspectos do arrependimento e
expiação como componentes básicos da alforria
definitiva. Vejamos: “o
arrependimento pode ocorrer tanto no estado
espiritual quanto no estado corporal, e tal só
se dará no momento em que compreendermos a
diferença entre o bem e o mal.
Quando o arrependimento se dá no estado
espiritual, o arrependido deseja uma nova
encarnação para se purificar, porque compreende
que as imperfeições o privam de ser feliz.
Quando o arrependimento se dá no estado
corporal, o arrependido inicia, sem perda de
tempo a reparação de suas faltas, vez que a
consciência o exproba e lhe mostra a imperfeição
que lhe cumpre alijar, visualizando, assim, a
possibilidade de melhorar- se sem adiamentos.
Da mesma forma, a expiação se cumpre tanto no
estado corporal quanto no espiritual: no estado
corporal, traduz-se nas provas a que o Espírito
se acha submetido, e na vida espiritual pelos
sofrimentos morais, inerentes ao estado de
inferioridade do Espírito”.
Portanto, concluímos – com Kardec – que, já
desde esta vida podemos ir resgatando as nossas
faltas, reparando-as.
Ensinam os Espíritos Superiores: “(...) não
creiais que as resgateis mediante algumas
privações pueris, ou distribuindo em esmola o
que possuirdes, depois que morrerdes, quando de
nada mais precisais. Deus não dá valor ao
arrependimento estéril, sempre fácil e que
apenas custa o esforço de bater no peito. A
perda de um dedo mínimo, quando se esteja
prestando um serviço, apaga mais faltas do que o
suplício da carne suportado durante anos, com
objetivo exclusivamente pessoal.
Só por meio do bem se repara o mal e a reparação
nenhum mérito apresenta, se não atinge o homem
nem em seu orgulho, nem nos seus interesses
materiais. De que serve ao Espírito humilhar-se
diante de Deus, se perante os homens conserva o
seu orgulho?!
Ao encarnado que reconhece suas faltas, mas não
tem tempo de repará-las, já que a desencarnação
está próxima, abre-se, à sua frente o futuro que
jamais se tranca”.
O arrependimento apressa a reabilitação, mas não
absolve. Vejamos isso na prática com a história
de Joseph Maître.
De existência moldada em conduta exemplar, sua
vida era um enigma de indagações sem respostas
que só a Doutrina Espírita pode explicar: aos
vinte anos perdeu a visão, aos quarenta a
audição, tudo aceitando resignado, sem queixumes
e desencarnou aos cinquenta anos. Evocado após
o decesso, contou o seguinte: “era
a segunda vez que expiava a privação da vista.
Na minha precedente existência fiquei cego aos
trinta anos, em decorrência de excessos de todo
gênero que, arruinando-me a saúde, me
enfraqueceram o organismo. Anatematizei Deus,
reneguei-O, acusei-O, acrescentando que, se
acaso existisse, devia ser injusto e mau por
deixar penar assim as Suas criaturas.
Suicidei-me!...
Que despertar, então, no Mundo Espiritual!!
Finalmente, fatigado, extenuado, pude
analisar-me a mim mesmo, e compreendi o
ascendente de um poder superior, que sobre mim
atuava, e considerei que se essa Potência podia
oprimir-me, também poderia aliviar-me. E
implorei piedade. À proporção que orava e o
fervor se me aumentava, alguém me dizia que a
minha situação teria um termo. Por fim se fez
a luz e extremo foi o meu arroubo de alegria ao
entrever as claridades celestes, distinguindo os
Espíritos que me rodeavam, sorrindo, benévolos,
bem como os que, radiosos, flutuavam no Espaço.
Ao querer seguir-lhes os passos, força invisível
me reteve. Foi então que um deles me disse: ‘o
Deus que negaste teve comiseração do teu
arrependimento e permitiu-nos te déssemos a luz,
mas tu só cedeste pelo sofrimento, pelo cansaço.
Se quiseres participar desta felicidade aqui
fruída, forçoso é provares a sinceridade do teu
arrependimento e das tuas boas disposições,
recomeçando a prova terrestre em condições que
te predisponham às mesmas faltas, porque esta
nova provação deverá ser mais rude que a outra’.
- Aceitei, pressuroso, prometendo não mais
falir. Assim voltei à Terra na condição que
sabeis. Não me foi difícil compreender a
situação, porque eu não era mau por índole;
revoltara-me contra Deus, e Deus me puniu.
Reencarnei trazendo a fé inata, razão por que
não murmurei, antes aceitei a dupla enfermidade,
resignado, como expiação que era, oriunda da
soberana justiça.
Tendo-me arrependido e expiado, ainda me faltava
reparar. A última encarnação só a mim
aproveitou, pelo que espero recomeçar novamente
por uma existência que me permita ser útil ao
próximo, reparando por esse meio a inutilidade
anterior”.
O código penal da vida futura,
estipula o seguinte: “o arrependimento,
conquanto seja o primeiro passo para a
regeneração, não basta por si só; são precisas
a expiação e a reparação.
Arrependimento, expiação e reparação constituem,
portanto, as três condições básicas e
necessárias para apagar os traços de uma falta e
de suas consequências. O arrependimento suaviza
os travos da expiação, abrindo pela esperança o
caminho da reabilitação; só a reparação,
contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a
causa, do contrário o perdão seria uma graça,
não uma anulação.
A reparação consiste em fazer o bem àqueles a
quem se havia feito o mal.
Joanna de Ângelis recomenda:
“(...) paga em renovação interior, o gravame
cometido. Levanta-te e segue além.
Reencontrarás, adiante, essa sementeira ingrata,
que poderias ter evitado. Recolhe os espinhos,
resgata com alegria e te sentirás bem. Não
somes, à queda, novas trombadas. Ergue-te e
caminha.
Cada manhã é bênção da vida, após a noite
assustadora, trazendo a beleza da claridade que
dilui os fantasmas do medo e da insegurança.
Jesus é sempre o Amigo seguro dos equivocados e
caídos que O buscam, pois que somente n`Ele
encontram o apoio e a paz para a vitória que
parece tardar.
Não desistas de buscar o triunfo, seja qual for
a circunstância em que te encontres. Há leis que
jazem desconhecidas e são responsáveis pelas
ocorrências da vida. Dormem no inconsciente
humano, aguardando ativação...
Programa um roteiro mental e passa a vivê-lo
afirmando-o, mentalmente, até que se modele no
mundo das formas. A mente plasma tudo. Bem
conduzida, de maneira inteligente, alcança o
triunfo. Este esforço resultará da oração e da
certeza de que, sendo filho de Deus, não estás
desamparado. Pouco te importem todos os
insucessos anteriores. Renasce deles, afirma o
bem e segue adiante!”
-
KARDEC, Allan. O Livro dos
Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]:
FEB, 2006, questões 990 a 1002.
-
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 51.ed.
Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 2ª parte.
-
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 51.ed.
Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, 1ª parte –
cap. VII, 16º e 17º.