Força, guerreiro!
É muito comum, inclusive nas relações no
interior das atividades espíritas, a utilização
de metáforas bélicas para se referir as
atividades cotidianas. Trabalhos são vistos como
lutas, obsessores como inimigos, e
trabalhadores, como guerreiros. Uma forma de
enxergar a realidade como uma grande batalha,
com lados e vitórias.
Uma visão polarizada, superficial e maniqueísta
da vida, na qual existe um lado certo,
hegemônico, ungido, e que deve se sobrepor a um
outro errado, que deve ser combatido, o que
pouco dialoga com uma fé raciocinada, que
discute e promove a construção do conhecimento,
por meio do estudo constante e disciplinado,
como propõe o espiritismo.
Palavras tem forças, atraem modelos mentais e ao
nos referirmos as nossas atividades como se
fossem batalhas, trazemos uma carga bem
diferente da mansidão do nazareno, o cordeiro de
Deus, e deixamos de lado um sentimento de
construção da paz interior, para dar espaço a
visões de que os problemas estão fora de nós, em
inimigos a serem destruídos. Mais distante do
ideal espírita, impossível.
O amor que une, concilia e perdoa, perde para um
sentimento bélico de força, que dialoga com a
raiva, o medo e o ódio. O espiritismo é algo que
se faz na essência das relações, e não na
etiqueta de denominações, e se agimos de forma
diferente da mensagem do Cristo, que nos mandou
amar nossos inimigos, os efeitos concretos serão
de igual natureza.
O espiritismo não nos convida para uma batalha
espiritual, e sim para a construção do homem de
bem por meio do estudo e da prática do bem, em
uma proposta de solidariedade e de busca do
conhecimento como chaves do processo evolutivo.
A superficial e tentadora ideia de lutar contra
inimigos externos já se mostrou fadada ao
insucesso na história do cristianismo, servindo
aos interesses da manipulação e da hipocrisia.
Não somos guerreiros, e sim discípulos de um
filho de carpinteiro, estudiosos da obra dos
espíritos trazida por um professor francês, e
vemos como a maior vitória a ser obtida aquela
sobre as nossas imperfeições durante a
encarnação. Não há inimigos, há irmãos. Não há
batalhas, há trabalho. Não há vitória, apenas
evolução.