Em 1969, Chico Xavier pingou, finalmente, o ponto final
em seu centésimo livro: Poetas Redivivos. Sentiu
vontade de correr pelas ruas, de gritar, de festejar.
Tinha cumprido o acordo assumido com Emmanuel dez anos
antes. Aos 59 anos, estava pronto para diminuir o ritmo.
Chegou até a avisar o amigo Ranieri: - Já escrevi muito.
Livros, livros, livros. Agora é preciso o povo executar.
A mensagem já está dada.
O anúncio foi precipitado. Chico ouviu uma contraordem de seu
guia e ficou perplexo: - Estou na obrigação de dizer a você que
os mentores da Vida Superior, que nos orientam, expediram uma
instrução: ela determina que sua atual reencarnação seja
desapropriada, em benefício da divulgação dos princípios
espírita-cristãos. Sua existência, do ponto de vista físico,
fica à disposição das entidades espirituais que possam colaborar
na execução das mensagens e livros, enquanto seu corpo se mostre
apto para nossas atividades.
Chico não se conformou: - Devo trabalhar na recepção de
mensagens e livros até o fim da minha vida atual?
- Sim, não temos outra alternativa.
O autor dos cem livros insistiu:
- E se eu não quiser? A doutrina espírita ensina que somos
portadores do livre-arbítrio para decidir sobre os nossos
próprios caminhos.
Emmanuel sorriu e deu o veredito:
- A instrução a que me refiro é semelhante a um decreto de
desapropriação, quando lançado por autoridade na Terra. Se você
recusar o serviço a que me reporto, os orientadores dessa obra
de nos dedicarmos ao cristianismo redivivo terão autoridade
bastante para retirar você de seu atual corpo físico.
Assunto encerrado.
Chico manteve a conversa em segredo. Os espíritas estavam em
festa mais uma vez. Comemoraram o centésimo livro de Chico como
o milésimo gol de Pelé. O número redondo era um recorde. Chico
era saudado como o único, entre os escritores vivos, com cem
obras publicadas no país. Vendia dez vezes mais que Carlos
Drummond de Andrade. Só o best seller Jorge Amado
era páreo para ele. Entre os autores brasileiros de sucesso, era
o mais eclético. Sua obra incluía reportagens, poemas, crônicas,
títulos infantis, contos e romances históricos.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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