Qual a paz que eu quero?
“A
minha paz vos dou, a minha paz vo-la deixo. Não a dou
como o mundo a dá.” Jesus
(João, 14:27)
As
anotações de João, o Discípulo Bem-Amado, neste ponto,
revelam a clara linha divisória que o Mestre traçou
entre a paz mundana e a Paz Crística.
A
partir de então, ficou claro para todos nós, seus
aprendizes, que uma escolha se impõe: entre a paz
oferecida pelo mundo, pela sociedade, pelas pessoas, em
geral e a pacificação que o Cristo nos convida a
experimentar.
Na
estrutura capitalista em que estagiamos, ressalto a
primeira vantagem da Paz do Cristo: é gratuita – “a
minha paz vos dou”.
A
paz do mundo, ao contrário, cobra um alto preço a fim de
ser usufruída: em geral, entregamos, em troca, a própria
consciência. Isso porque é baseada na inércia, na
omissão.
Desviamos o nosso olhar da “população de rua”, fazemos
de conta que não são seres humanos como nós, os quais
foram descartados do corpo social, como peças
desgastadas de um automóvel.
Vamos ao “shopping” ou gastamos dinheiro que não temos
(afinal, “todo mundo deve”) por meio da rede mundial de
computadores, também conhecida como “internet”.
Será coincidência o movimento da “Black Friday” em pleno
Mês da Consciência Negra?
O
que vale é nos alienarmos, nos alhearmos da dura
realidade diante de nós; o jeito é nos refugiarmos nos
nossos “templos do consumo”, aos quais corremos a adorar
o bezerro de ouro, em sua versão atualizada, em família,
religiosamente, assim como algumas décadas atrás
frequentávamos as missas aos domingos.
Quem viveu tal situação se lembra.
O
exercício da faceta espiritual era mais simplório:
repetíamos algumas frases, maquinalmente, como por
exemplo: “- A paz do Cristo seja convosco!”
“-
Ele está no meio de nós!”
“-
Corações ao alto!”
“-
Nossos corações estão em Deus!”
“-
Saudemo-nos uns aos outros em nome do Cristo.”
E
voltávamos felizes e satisfeitos aos nossos lares, para
o tão esperado “almoço de domingo”, uma refeição
demorada e caprichada, com direito a sobremesa; hoje,
paradoxalmente, as famílias saem de casa em busca de uma
refeição “caseira”.
Como alternativa às missas maçantes, surgiram os “shows”
dos que se autodenominam “evangélicos”, mas gostam mesmo
é do Velho Testamento.
O
Patriarcado no seu estado mais puro.
E o
dízimo é alto!
Melhor ir ao “shopping”, lá tem praça de alimentação,
salas de cinema, tudo muito limpo e organizado, parece
outro mundo.
E
é.
Lá
os “indigentes” são proibidos de entrar.
Ninguém vai estragar o seu dia suplicando por alguns
trocados ou um prato de comida.
Este é o tipo de paz que o mundo nos oferta.
Enganosa, diria até mentirosa, artificial, passageira,
porque fundamentada em coisas, em bens materiais e,
portanto, perecíveis.
Já
a Paz do Cristo é totalmente diversa: fulcrada nos bens
verdadeiros, os espirituais, que “as traças não roem”
nem será alcançada pelos ladrões e, por conseguinte,
permanentes.
É a
pacificidade (nada a ver com passividade), porque
baseada na ação, no esforço, no trabalho contínuo de
autoeducação.
Educação dos nossos gostos, dos nossos desejos, dos
nossos ímpetos.
Nessa jornada, aprenderemos a ver e a ouvir, com
compaixão. Atentos, vigilantes à realidade que nos
cerca, empenhados em asserenar nossos corações e nossas
mentes.
Vamos diminuir o ritmo, desacelerar e, com isso,
respiraremos de maneira mais compassada.
E
para ajudar no equilíbrio da frequência cardíaca,
escutarei e auscultarei as necessidades do meu próximo.
A começar dos mais próximos. O(a) companheiro(a) que
elegi para a caminhada; os filhos e as filhas, os irmãos
e as irmãs, os pais e as mães.
Treinarei com eles a paciência (a ciência da paz), a
tolerância, o olhar carinhoso, o sorriso franco, as
atitudes acolhedoras.
Depois sairei para o mundo. E me esforçarei para fazer
com os outros tudo aquilo que aprendi em casa.
“-
Sonho!”, dirão alguns.
“-
Loucura!”, atacarão outros.
Afinal, em um mundo repleto de violência, agir assim é
ser como uma ovelha em meio aos lobos. E não estarão
totalmente destituídos de razão, porque no contexto
histórico e geográfico no qual Jesus escolheu se inserir
o sistema era muitas vezes mais bruto.
Tanto que Ele se voluntariou ao sacrifício extremo. No
entanto, desde então, o mundo nunca mais foi o mesmo.
Não
à toa a História foi repartida entre a.C e d.C.
O
antes e o depois são muito claros.
Antes d’Ele, para ilustrar, os leprosos e deficientes
eram marginalizados, excluídos; depois, surgiram os
leprosários e os hospitais.
Os
pobres não tinham acesso à educação; contamos agora com
um sistema educacional público e universal, ao menos
aqui no Brasil e em vários outros países.
Longe do ideal, é verdade, porque, como sociedade, não
valorizamos a educação.
Àquela época, as mulheres eram apedrejadas nas praças
públicas, pela turba ensandecida.
Atualmente são assassinadas por indivíduos, na maior
parte das vezes, dentro dos próprios lares, é verdade; o
ponto é que a violência contra a mulher não é mais
institucionalizada e estimulada oficialmente.
O
quadro, em geral, já poderia ser outro, muito melhor, se
ao menos tentássemos, de verdade, exercitar o Amor que o
Cristo nos conclama a vivenciar.
Amor com “A” maiúsculo, sem fronteiras, sem barreiras.
Amor a tudo e a todos, amor às plantas e aos animais.
Amor ao Planeta Terra, Amor à Vida!
Em
antecipação aos pessimistas de plantão, me despeço com
este extrato da lição de Emmanuel, a de n. 65, do livro Pão
Nosso,
“Tenhamos paz”:
“Cada mente encarnada constitui extenso núcleo de
governo espiritual, subordinado agora a justas
limitações, servido por inúmeras potências, traduzidas
nos sentidos e percepções.
Quando todos os centros individuais de poder estiverem
dominados em si mesmos, com ampla movimentação no rumo
do legítimo bem, então a guerra será banida do planeta.”
|