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por Flávio Bastos do Nascimento

 

Qual a paz que eu quero?


“A minha paz vos dou, a minha paz vo-la deixo. Não a dou como o mundo a dá.”
 Jesus (João, 14:27)


As anotações de João, o Discípulo Bem-Amado, neste ponto, revelam a clara linha divisória que o Mestre traçou entre a paz mundana e a Paz Crística.

A partir de então, ficou claro para todos nós, seus aprendizes, que uma escolha se impõe: entre a paz oferecida pelo mundo, pela sociedade, pelas pessoas, em geral e a pacificação que o Cristo nos convida a experimentar.

Na estrutura capitalista em que estagiamos, ressalto a primeira vantagem da Paz do Cristo: é gratuita – “a minha paz vos dou”.

A paz do mundo, ao contrário, cobra um alto preço a fim de ser usufruída: em geral, entregamos, em troca, a própria consciência. Isso porque é baseada na inércia, na omissão.

Desviamos o nosso olhar da “população de rua”, fazemos de conta que não são seres humanos como nós, os quais foram descartados do corpo social, como peças desgastadas de um automóvel.

Vamos ao “shopping” ou gastamos dinheiro que não temos (afinal, “todo mundo deve”) por meio da rede mundial de computadores, também conhecida como “internet”.

Será coincidência o movimento da “Black Friday” em pleno Mês da Consciência Negra?

O que vale é nos alienarmos, nos alhearmos da dura realidade diante de nós; o jeito é nos refugiarmos nos nossos “templos do consumo”, aos quais corremos a adorar o bezerro de ouro, em sua versão atualizada, em família, religiosamente, assim como algumas décadas atrás frequentávamos as missas aos domingos.

Quem viveu tal situação se lembra.

O exercício da faceta espiritual era mais simplório: repetíamos algumas frases, maquinalmente, como por exemplo: “- A paz do Cristo seja convosco!”

“- Ele está no meio de nós!”

“- Corações ao alto!”

“- Nossos corações estão em Deus!”

“- Saudemo-nos uns aos outros em nome do Cristo.”

E voltávamos felizes e satisfeitos aos nossos lares, para o tão esperado “almoço de domingo”, uma refeição demorada e caprichada, com direito a sobremesa; hoje, paradoxalmente, as famílias saem de casa em busca de uma refeição “caseira”.

Como alternativa às missas maçantes, surgiram os “shows” dos que se autodenominam “evangélicos”, mas gostam mesmo é do Velho Testamento.

O Patriarcado no seu estado mais puro.

E o dízimo é alto!

Melhor ir ao “shopping”, lá tem praça de alimentação, salas de cinema, tudo muito limpo e organizado, parece outro mundo.

E é.

Lá os “indigentes” são proibidos de entrar.

Ninguém vai estragar o seu dia suplicando por alguns trocados ou um prato de comida.

Este é o tipo de paz que o mundo nos oferta.

Enganosa, diria até mentirosa, artificial, passageira, porque fundamentada em coisas, em bens materiais e, portanto, perecíveis.

Já a Paz do Cristo é totalmente diversa: fulcrada nos bens verdadeiros, os espirituais, que “as traças não roem” nem será alcançada pelos ladrões e, por conseguinte, permanentes.

É a pacificidade (nada a ver com passividade), porque baseada na ação, no esforço, no trabalho contínuo de autoeducação.

Educação dos nossos gostos, dos nossos desejos, dos nossos ímpetos.

Nessa jornada, aprenderemos a ver e a ouvir, com compaixão. Atentos, vigilantes à realidade que nos cerca, empenhados em asserenar nossos corações e nossas mentes.

Vamos diminuir o ritmo, desacelerar e, com isso, respiraremos de maneira mais compassada.

E para ajudar no equilíbrio da frequência cardíaca, escutarei e auscultarei as necessidades do meu próximo. A começar dos mais próximos. O(a) companheiro(a) que elegi para a caminhada; os filhos e as filhas, os irmãos e as irmãs, os pais e as mães.

Treinarei com eles a paciência (a ciência da paz), a tolerância, o olhar carinhoso, o sorriso franco, as atitudes acolhedoras.

Depois sairei para o mundo. E me esforçarei para fazer com os outros tudo aquilo que aprendi em casa.

“- Sonho!”, dirão alguns.

“- Loucura!”, atacarão outros.

Afinal, em um mundo repleto de violência, agir assim é ser como uma ovelha em meio aos lobos. E não estarão totalmente destituídos de razão, porque no contexto histórico e geográfico no qual Jesus escolheu se inserir o sistema era muitas vezes mais bruto.

Tanto que Ele se voluntariou ao sacrifício extremo. No entanto, desde então, o mundo nunca mais foi o mesmo.

Não à toa a História foi repartida entre a.C e d.C.

O antes e o depois são muito claros.

Antes d’Ele, para ilustrar, os leprosos e deficientes eram marginalizados, excluídos; depois, surgiram os leprosários e os hospitais.

Os pobres não tinham acesso à educação; contamos agora com um sistema educacional público e universal, ao menos aqui no Brasil e em vários outros países.

Longe do ideal, é verdade, porque, como sociedade, não valorizamos a educação.

Àquela época, as mulheres eram apedrejadas nas praças públicas, pela turba ensandecida.

Atualmente são assassinadas por indivíduos, na maior parte das vezes, dentro dos próprios lares, é verdade; o ponto é que a violência contra a mulher não é mais institucionalizada e estimulada oficialmente.

O quadro, em geral, já poderia ser outro, muito melhor, se ao menos tentássemos, de verdade, exercitar o Amor que o Cristo nos conclama a vivenciar.

Amor com “A” maiúsculo, sem fronteiras, sem barreiras.

Amor a tudo e a todos, amor às plantas e aos animais.

Amor ao Planeta Terra, Amor à Vida!

Em antecipação aos pessimistas de plantão, me despeço com este extrato da lição de Emmanuel, a de n. 65, do livro Pão Nosso,
“Tenhamos paz”:

“Cada mente encarnada constitui extenso núcleo de governo espiritual, subordinado agora a justas limitações, servido por inúmeras potências, traduzidas nos sentidos e percepções.

Quando todos os centros individuais de poder estiverem dominados em si mesmos, com ampla movimentação no rumo do legítimo bem, então a guerra será banida do planeta.”


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita