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por Gebaldo José de Sousa

Domingo de maio


Para Adelmo Café


No domingo o sol era o senhor da manhã de céu azul, límpido e belo, onde uma nuvem solitária velozmente singrava os ares, perdida naquela imensidão de anil. No ar havia uma como conspiração de beleza.

No clube, o rebuliço e o burburinho de crianças a brincar, pular e gritar, sob o olhar preguiçoso dos pais, burocratas em recesso. A vida se manifestava em todos os extremos.

Em meio aos brinquedos e a sua volta, inúmeras árvores, viçosas e verdes, abrigavam borboletas de várias colorações e abelhas diligentes. O vento bulia com as ramagens, levando-as ora para um lado, ora para outro; e os galhos, suavemente, vergavam-se ao receber suas leves, suaves carícias.

Espalhados pelas sombras, aqui e ali, bancos de cimento, para o cansaço dos adultos.

Em um deles, uma senhora de seus oitenta anos, de cabeça aureolada por brancos cabelos, cuidava, agilmente, de um tricô, a cruzar duas agulhas, que se bicavam numa disputa sem fim.

Meus filhos se encantaram com a avozinha laboriosa, de faces cuidadas e coradas. Emanava de seu vulto uma beleza serena de quem se cuida e se enfeita discretamente, pois sabe-se bela.

Também eu me pus a admirá-la: seu porte ereto e digno de quem não se entrega aos queixumes do tempo e de mazelas, conservando a lucidez e ganhando sabedoria com a longa existência.

Imagino como foram de trabalhos seus dias, pois que até hoje se aplica e é útil. Atravessou o século e muito viveu, muito viu. Quanta coisa a contar! Quantas histórias!

Ao ver tanta ternura, aproximei-me de um colega que por ali brincava com os filhos e indaguei:

– Quem é essa matrona linda que ali está? Você a conhece?

E ele, surpreso, respondeu-me, emocionado, com voz embargada e os olhos brilhantes:

– Conheço sim. É minha mãe!

Em mais de trinta anos vividos não me lembro de galanteio mais puro e espontâneo, mas que me haja deixado tão constrangido e embaraçado!

Fatos assim nos ocorrem e nunca mais se apagam de nossa lembrança! (*)

 

(*) Publicado em jan./1983, no opúsculo “Rua do Sapo e outras crônicas”, com o pseudônimo João Ternura.

 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita