Pensar para falar
Uma crítica muito comum nos tempos atuais é de que não
podemos falar o que pensamos, pois as pessoas se
sentiriam ofendidas, mas ao mesmo tempo, ao não falarmos
o que vem à nossa mente, estaríamos sendo hipócritas,
escondendo a nossa verdadeira essência.
Essa argumentação, um tanto pueril, é comum entre os que
se incomodam por serem repreendidos socialmente por
exporem as suas opiniões sobre a aparência, a raça, a
orientação sexual, dentre outras características das
pessoas, por acharem que é a sua opinião e deve ser
expressa.
Valem duas ponderações nesse sentido, e o conhecimento
espírita será essencial nessa construção.
O primeiro ponto é que expressar a opinião ofensiva
sobre a característica de qualquer pessoa é um
desrespeito, uma ofensa, e, em última instância, uma
falta de caridade. Daí nascem o bullying, o
preconceito, o ódio nas relações, que se afastam da
solidariedade e da empatia, dando espaço para suicídio,
brigas e ataques de fúria.
Se a característica da pessoa não produz efeitos danosos
a outrem, ela deve ser respeitada, e mesmo que
supostamente cause danos, a forma de tratar a questão
não dispensa o amor no coração, dado que, como
espíritas, seguimos aquele que diante da prostituta a
ser apedrejada invocou a primeira pedra.
Palavras são navalhas e falas ofensivas, em especial
derivadas de parentes próximos, são instrumentos que
causam dor moral, e distante de ser uma forma de ajudar
um irmão em dificuldades, se for o caso, é apenas um
tipo de agressão, que ofende e afasta, distante do amor
ao próximo que pauta o Espiritismo.
O segundo argumento é de que no convívio social nos
pautamos pela tríade pensamento-palavra-ação, e que
deixar de fazer ou falar o mal é uma forma de educar
nosso pensamento, pela reflexão, para que aos poucos
tenhamos este mais coerente com o que buscamos na
essência da palavra do Cristo.
Se fazemos coisas reprováveis, é interessante cessar.
Mas, se ainda assim, falamos, é preciso abandonar esse
caminho aos poucos. E fruto dessas reflexões, nosso
pensamento se modifica. Essa é a essência da ideia da
evolução. Muitos de nós no passado, inclusive nesta
encarnação, agredimos física e verbalmente pessoas por
conta de características, e agora vemos que essas
atitudes eram equivocadas, e fomos abandonando essas
práticas paulatinamente, e hoje, renovados, pensamos
diferente, o que se reflete nas falas e nas ações.
O pensamento é a fonte das falas e das ações, mas essas
também alimentam e reforçam o nosso coração, em um eixo
aprisionador, que precisa ser quebrado para garantir a
renovação, e o exercício da empatia, de se colocar no
lugar do próximo, amando-o como a si mesmo, é um bom
caminho nesse sentido.
No Espiritismo aprendemos que podemos fazer, falar e
pensar o que quisermos, mas também sabemos que
colheremos as consequências dessa sintonia, que é, nada
mais, nada menos, que um reflexo de nosso grau
evolutivo, que não é uma marca fossilizada, e sim uma
condição transitória, e que estamos nesta encarnação
para superar e ser algo melhor ao final dela.