O arrependimento jamais nos livrará da
reparação
E, naqueles dias, apareceu João o Batista pregando no
deserto da Judeia, E dizendo: Arrependei-vos, porque é
chegado o reino dos céus. (Mt
3:1-2)
Considerando escritos antigos sobre o arrependimento,
tal como o citado, muitos religiosos concluem ser
suficiente arrepender-se, após o cometimento de uma ação
pecaminosa, para receber a graça de Deus, ficando livres
de qualquer repercussão de seus atos e mesmo de
possíveis punições, pois estariam perdoados, afirmam.
Entretanto, se assim fosse, não haveria justiça, Deus
seria parcial e leviano, ao relevar crimes e delitos,
sem considerar o reajuste do infrator, e mais, como
ficaria a situação do ofendido?
Lamentar a falta moral ou sentir pesar por um mal
feito ou mal dito, ou mesmo um não feito ou
um não dito, os últimos ocasionando, pela
omissão, prejuízo ao próximo, seja de qual tipo for,
representa apenas usando o jargão popular: o pontapé
inicial.
É o início do processo de reajuste com a justiça divina.
Seria muito fácil e sem efeito educativo para o pecador,
se fosse possível prejudicar o próximo e, em seguida, se
arrepender e pedir perdão a Deus acreditando estar
absolvido de qualquer medida de reajuste. Quando o mal
já está feito, é preciso agora encarar os resultados do
ato impensado, buscando a reparação dos prejuízos
causados, sejam morais ou materiais.
Todos nós sabemos que, exceto os francamente voltados à
prática do mal - os contraventores inveterados -, quando
contraímos uma dívida é muito mais nobre pagá-la, pois
nos sentimos bem ao ver o débito quitado, podermos
dormir tranquilamente sem a expectativa da vinda de
possíveis credores bater à nossa porta. Esta é a boa
lógica.
Este procedimento de ressarcimento do mal causado ao
lesado é conhecido como reparação, contudo o processo
completo de reajustamento às leis divinas não termina
apenas com essas duas etapas; há uma terceira: a
expiação, além das duas.
Contudo, como quitar os débitos morais? Os materiais são
mais imediatos, fáceis de serem identificados,
quantizados e devolvidos, no entanto os que atingem o
sentimento são mais complexos.
Há um caminho seguro, uma receita infalível para se
sentir bem intimamente, após o cometimento de um delito,
é a prática do bem no limite das forças. Através do
exercício do bem irrestrito, podemos inclusive evitar a
expiação e a reparação conforme o bem vai sendo
realizado, sem necessidade de passar necessariamente
pelos mesmos sofrimentos que fizemos o outro passar -
expiação. Com o bem compensamos simultaneamente a
expiação e a reparação e podemos quitar tanto os
prejuízos materiais, bem como os morais.
E mais, se o ofendido, desta ou de outras existências,
não desejar nos perdoar mantendo cerradas as portas da
reconciliação, por estar extremamente magoado conosco,
podemos fazer o bem para outros - mesmo que sejam
desconhecidos -, pois para Deus, possui o mesmo valor,
afinal somos todos irmãos, o bem realizado funciona como
se fosse feito ao real prejudicado.
Por esta razão Pedro, há séculos, se expressou afirmando
ser possível cobrir a multidão dos pecados pelo
exercício continuado do amor.
E o amor se traduz por ações dignas, palavras sãs e
pensamentos alinhados com o bem, enquanto o pecado
acontece sempre que desatendemos qualquer lei divina,
mesmo nos mínimos detalhes, por esta razão é que esta
parte da humanidade universal está tão endividada com a
justiça divina. A maioria esmagadora não compreende
como se forma a multidão dos pecados, crê-se que
pequenos deslizes, ligeiros pensamentos de ódio, revolta
ou possível vingança, algumas palavras ríspidas e
ferinas ditas aqui e ali, não causam nenhuma repercussão
negativa, ledo engano, a definição ampla de pecado não
está contida apenas nos Dez Mandamentos de Moisés, mas,
como dissemos, na desobediência, sejam elas quais forem,
a qualquer lei divina, não importando a intensidade ou a
gravidade do delito, por palavras, atos e pensamentos,
por menor que forem, precisa sofrer um processo de
reajustamento, pelos dois caminhos possíveis: amor ou
dor.
Não há dúvida de que o arrependimento é absolutamente
necessário, pois se ele não acontece, o processo de
reajuste íntimo também não inicia. Mesmo assim, a
expiação pode ocorrer independentemente se nos
arrependemos ou não, pois se não há o reconhecimento
prévio da falta, se o remorso não acontece, somos
cobrados mesmo assim, pois a dívida está descoberta,
embora, neste caso, ainda não alcançamos a edificação,
objetivo da expiação.
Com estas informações tão bem detalhadas pelo
Espiritismo, iniciemos um processo de reavaliação de
nossas crenças, principalmente aquelas baseadas na letra
do Antigo e Novo Testamentos. A realidade é outra, muito
mais justa, misericordiosa e coerente.
Em resumo, estes são os três passos: arrependimento,
expiação e reparação.
Como ainda somos detentores de uma verdadeira multidão
de pecados, iniciemos hoje mesmo a nossa redenção,
fazendo o bem, não importa a quem.