Árido deserto
“Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada:
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada.
E que não chega nunca em toda a vida.”
Esta vida na Terra é um vale de lágrimas! Viemos aqui só
para sofrer e aprender o que ainda não sabemos! A
felicidade não é deste mundo!
Os Espíritos já nos ensinaram isso!
Calma nessa hora! Muita calma.
A vida está repleta de belezas para todos aqueles que
têm olhos de ver e ouvidos de ouvir, como já alertava
Jesus.
O que acontece conosco é semelhante a um carrinho de
montanha russa, aquele brinquedo apavorante no qual não
andaria por nenhum motivo.
Altos e baixos. Lentas subidas e desembaladas descidas
como queda em precipício!
Quando o carrinho está subindo fazendo um enorme esforço
como se não fosse aguentar chegar ao topo, ele
representa as pessoas que concordam com as palavras do
grande poeta Vicente de Carvalho que se encontram num
trecho da poesia que transcrevemos logo no início.
Nós nos fixamos nos momentos difíceis que existem, sem
dúvida nenhuma, mas que buscam fornecer as oportunidades
para nosso crescimento espiritual e não para sofrermos
por toda uma existência. Sentimo-nos semelhante ao
carrinho da montanha russa que está subindo. Enxergamos
e valorizamos os menores detalhes dos nossos
sofrimentos.
Mas, semelhante a esse brinquedo, o carrinho também
percorre descidas facílimas e rápidas de términos tão
curtos.
Isso também ocorre conosco. A misericórdia de Deus
permite momentos felizes que não detectamos e, portanto,
não valorizamos como fazemos com os sofrimentos,
procurando eternizá-los como se na escola abençoada da
Terra somente colhêssemos espinhos.
Como você se sente diante da mesa de café pela manhã
enquanto muitos procuram, muitas vezes em vão, um pedaço
de pão amanhecido em latas de lixo? Não constitui isso
motivo para alegria? Será preciso faltar para entender
que somos felizes sim por esse café abençoado?
Como você se sente quando retorna do trabalho para a
refeição do almoço com uma mesa com o necessário para a
alimentação do seu corpo, enquanto muitos estendem as
mãos em busca da caridade alheia que tantas vezes falta?
Não é a mesa abençoada motivo de alegria? Será preciso
faltar para perceber quanto somos felizes por tê-la em
nosso lar?
E por falar em lar, como você se sente tendo para onde
se dirigir à noite após encerrar seus compromissos junto
ao trabalho que lhe permite o sustento, enquanto tantos
permanecem nas ruas por não terem para onde ir? Não será
momento de alegria a realidade de termos um local para
voltar? Será preciso que ele falte para podermos
valorizar esse local feliz?
Como você se sente por ter dois braços perfeitos e poder
estreitar seus entes queridos num abraço amoroso
exprimindo os seus sentimentos? Não são esses braços
motivos para nossa alegria? Será preciso perdê-los para
despertarmos e sermos felizes?
E que pensar de podermos articular as palavras, enxergar
a beleza de uma flor, ouvir o canto de um pássaro? Esse
manancial de coisas boas não é suficiente para você ser
feliz? Procure raciocinar sobre a possibilidade de não
possuir a voz, de não ouvir as palavras de um ser
querido e você verá como neste mundo existem muitos
motivos para sermos felizes!
No livro do doutor José Carlos de Lucca denominado Feliz,
publicado pela editora Intelítera, encontramos um
lembrete para o nosso dia a dia que talvez possa
ajudá-lo a identificar as oportunidades de ser feliz,
que faz parte de uma crônica de Danuza Leão: “As pessoas
vivem reclamando, e nem prestam atenção aos pequenos e
maravilhosos prazeres que a vida oferece. É preciso
estar atento para identificar cada um deles no momento
exato em que aconteceu”.
O poeta Vicente de Carvalho também comparece na poesia
acima dando uma explicação para o nosso julgamento de
que neste mundo não encontramos a felicidade:
“Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa, que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.”
Ah! Somos felizes, sim! A Terra não é um deserto árido
onde somente encontramos dores, problemas, dificuldades.
Não é mesmo! Sentirei saudades das salas de aula que
frequentei como um mau aluno na atual existência,
esperando que a misericórdia de Deus me matricule neste
bendito educandário na próxima reencarnação.