Fim das dores
“Este Evangelho do Reino será proclamado em toda terra
habitada, para testemunho a todas as nações. E então
virá o fim.” Mateus,
24:14
Ao anunciar que “este
Evangelho será proclamado”, Jesus explicava aos
Seus discípulos o contexto difícil em que a suprema Luz
da Verdade se revelaria, como consta em O Evangelho
Segundo o Espiritismo, capítulo 23, item 16: “Não
creias que a Minha doutrina se estabeleça pacificamente;
ela conduzirá a lutas sangrentas, das quais meu nome
será pretexto, porque os homens não me terão
compreendido” (...) “Eu vim lançar o fogo sobre a Terra
para limpá-la dos erros e dos preconceitos” (...) porque
desse conflito a verdade sairá triunfante. Da guerra
sucederá a paz; do ódio dos partidos, a fraternidade
Universal.” (...) “Cansados, enfim, de um combate sem
resultado que não arrasta atrás de si senão a desolação
e leva a perturbação até o seio das famílias, os homens
reconhecerão onde estão os seus verdadeiros interesses
para esse mundo e para o outro...”
O paganismo, embora em declínio naquela época, nutria os
interesses institucionais do Império vigente e a
acomodação das mentes não facilitaria, de modo algum, as
propostas renovadoras do Cristo. Ele trazia calor ao
Espírito enregelado na indiferença e no vício de séculos
incessantes. Labareda de fé renovadora, suscetível de
purificar-nos o sentimento e soerguê-lo à prática da
caridade genuína, fogueira ardente de amor que nos
apruma a alma arrojada ao pó das velhas desilusões, a
fim de que possamos penetrar como filhos de Deus, o
santuário de nossa sublimação para a divina
imortalidade.
Há mais de dois mil anos os homens se estraçalham em Seu
nome, inventando bandeiras de separatividade e
destruição. Incendiaram e trucidaram em nome de Seus
ensinos de perdão e de amor, massacrando esperanças em
todos os corações. No entanto, a dor completará as obras
generosas da Verdade Cristã, porque os homens repeliram
o amor em suas cogitações de progresso.
Trazendo o assunto para os dias de hoje, vamos
compreender que as dores vão modelando, como fazem as
ondas do mar nas rochas, o amortecimento das
resistências e do interesse pessoal em relação ao
Evangelho do Mestre.
A transição pela qual a Terra passa intensifica a
revisão dos hábitos e viciações herdados de eras remotas
e primitivas, obrigando os homens e suas instituições a
profundas mudanças que sinalizam a moral evangélica, em
sua essencialidade, como único caminho a ser percorrido.
Mas a Boa Nova, expressando boas notícias, não poderia
ser proclamada em terra desabitada, referindo-se a
ilustrações, composições, experiências já instituídas,
pois as reencarnações são instrumentos da Providência
para revelação de potenciais dormentes do Espírito.
Assim sendo, todos os sofrimentos, como misérias,
decepções, dores físicas, perda de entes queridos,
encontram consolação na fé no futuro, na confiança, na
Justiça Divina que o Cristo veio ensinar.
Por isso a encarnação é necessária ao duplo progresso:
moral e intelectual do Espírito. Ao progresso
intelectual, pela atividade obrigatória do trabalho e ao
progresso moral pela necessidade recíproca dos homens
entre si.
A vida social é a pedra de toque das boas ou más
qualidades, pois, para cada nova existência na matéria,
o Espírito entra com o cabedal adquirido nas existências
anteriores em aptidões, conhecimentos intuitivos,
inteligência e moralidade. Cada existência é assim um
passo avante no caminho do progresso.
Temos a expressão da Lei de Causa e Efeito esculpindo o
talento das criaturas e fazendo cumprir a justiça Divina
na criação. Desta forma, terra habitada, representa o
campo mental de cada um de nós, com os valores que já
agregamos e que, por si só, não se bastam.
A Humanidade é um ser coletivo em que se operam as
mesmas resoluções morais pelo qual passa
Todo ser individual, com a diferença de que umas se
realizam de ano em ano e, outras de séculos em séculos.
Ao acompanharmos a Humanidade em suas evoluções através
dos tempos, veremos a vida das diversas raças marcadas
por períodos que dão a cada época uma fisionomia
especial.
Se no plano sociológico da Terra encontramos povos e
nações apresentando caracteres e hábitos distintos
conforme as condições de sua existência, assim como a
cultura herdada dos ancestrais, identificamos em nosso
Espírito as marcas da evolução através dos tempos, como:
crenças, tendências, habilidades..., de algum modo
retratando essas nações vividas e nutridas por nós em
outras reencarnações.
Nos seres inferiores da Criação, naqueles a quem, ainda,
falta-lhes o senso moral, em os quais a inteligência,
ainda, não substituiu o instinto, a luta não pode ter
móvel senão a satisfação de uma necessidade material.
Há no homem um período de transição em que ele mal se
distingue do bruto, mas à medida que o senso moral
prepondera, a sensibilidade desenvolve e diminui assim,
a necessidade de destruir. Só a custa de muita atividade
o homem adquire conhecimento, experiência e se despoja
dos últimos vestígios da animalidade.
As grandes partidas coletivas transformam mais
rapidamente o Espírito da massa, livrando-o das más
influências e dando maior ascendente às ideias novas.
Apesar das imperfeições, muitos já estão maduros para a
transformação e desta forma, muitos partem a fim de
apenas se retemperarem, fortalecerem em fonte mais pura.
Uma estada no Mundo dos Espíritos bastará para lhes
abrir os olhos, por isso que aí veem o que não podiam
ver na Terra.
Olhemos para dentro de nós e mentalizemos o futuro. Já
vivemos existências incontáveis e trazemos no bojo, no
coração do Espírito as conquistas alcançadas em longo
percurso de experiências, na ronda dos milênios.
Vivemos novamente na carne para o burilamento do nosso
Espírito. A reencarnação é o caminho da grande Luz.
Vamos amar e trabalhar. Trabalhar e servir.
Perante o bem quase sempre temos sido somente constantes
na inconstância e fieis à infidelidade, esquecidos de
que tudo se transforma com exceção da necessidade de nos
transformar e renovar.
Em face disso, podemos entender que a missão do
Evangelho representa a redenção dos costumes, dos
anseios, das experimentações – a perfeição e a
depuração.
Vamos cumprir o objetivo supremo da evolução regendo-nos
pelo senso moral que é o coroamento de todas as
faculdades em desenvolvimento, através das
reencarnações.
Saibamos, pois, refletir o mundo em torno, recordando
que, se o espelho inerte e frio retrata todos os
aspectos dignos e indignos à nossa volta, o pintor
consciente e respeitável, busca criar atividade
superior, somente exteriorizando na pureza da tela os
ângulos nobres e construtivos da vida.
Bibliografia:
Reformador,
Janeiro 1958.
KARDEC, Allan – O Céu e o Inferno –
38ª edição – Editora FEB – Brasília /DF – 1ª Parte,
capítulo 3. Itens 8 e 9 – 1992.
XAVIER, Francisco Candido - A Caminho
da Luz – 38ª edição – Editora FEB – Brasília / DF –
Capítulo 12- subtítulo A Palavra Divina – 2013.
KARDEC, Allan – A Gênese – 28ª
edição – Editora FEB – Brasília/ DF – capítulo 18, item
12, 31 e 32; capítulo 03, item 24 – 1985.
XAVIER, Francisco C e VIEIRA, Waldo – O
Espírito da Verdade – 18ª edição – Editora FEB –
Brasília/DF – capítulo 18 -2019.