Calorosas e inúteis parlendas
A conduta de cada pessoa é a sua verdadeira
profissão de fé
“(...) Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor!
entrarão no Reino dos Céus.” Jesus.
(Mt., 7:21.)
Esgrimindo a Bíblia – em plena praça pública –
como se fosse uma chibata, o pobre fanático com
um pugilo de acólitos dóceis e complacentes,
vociferava quase espumando pelos cantos da
boca: “arrependei-vos! O Juízo Final está
próximo! Aceitai Jesus como Salvador e não
pereçais nas labaredas do Inferno!...”
Olhos esbugalhados, feições sanguíneas, veias
intumescidas, continuou por incontáveis minutos,
até à rouquidão, a sua arenga estonteante e
patética, vazia de conteúdo e cheia de ameaças,
que na verdade, só estava repercutindo na
aparelhagem de som armada para o espetáculo
da fé, com o volume todo aberto, ferindo os
tímpanos dos transeuntes, em inútil tentativa de
arrebanhamento das ovelhas perdidas...
Com sua habitual lucidez, Emmanuel analisa o
perfil dessas criaturas da seguinte maneira: “(...)
muitos aprendizes do Evangelho existem
satisfeitos consigo mesmos tão-somente em razão
de algumas afirmativas quixotescas. Congregam-se
em grandes discussões, atrabiliários,
irascíveis, tentando convencer gregos e
troianos, relativamente à fé religiosa e, quando
interpelados sobre a fúria em que se comprazem,
na imposição dos pontos de vista que lhes são
próprios, costumam redarguir que é
imprescindível não nos envergonharmos do Mestre,
nem de Seus ensinamentos perante a multidão.
Todavia, por vezes, a preocupação de preservar o
Cristianismo não passa de posição meramente
verbal. Tais defensores do Cristo andam
esquecidos de que, antes de tudo, é
indispensável não esquecer-Lhe os princípios
sublimes, diante das tarefas de cada dia.
A vida de um homem é a sua própria confissão
pública. A conduta de cada um é a sua verdadeira
profissão de fé. São
infantis o trovão da voz e a mímica verbalista,
filhos da vaidade individual, junto de ouvintes
incompreensíveis e complacentes, com pleno
esquecimento dos testemunhos necessários com o
Mestre, na oficina de trabalho comum e no lar
purificador.
Torna-se indispensável não se envergonhar o
aprendiz de Jesus, não em perlengas calorosas,
das quais cada contendor regressa mais
exasperado, mas sim perante as situações
aparentemente insignificantes ou eminentemente
expressivas, em que se pede ao crente o exemplo
de amor, renúncia e sacrifício pessoal que o
Senhor demonstrou em Sua trajetória sublime”.
Aprendemos – com Jesus e Kardec – que o Reino de
Deus pertence aos brandos, humildes e
caridosos... Essas assertivas estão
indelevelmente registradas no capítulo cinco,
versículo cinco, do Evangelho escrito por
Mateus: “bem-aventurados os que são brandos,
porque possuirão a Terra”, e também no bojo
da Codificação Espírita onde Allan Kardec dá a
luminosa e definitiva diretriz: “fora da
Caridade não há salvação”.