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por Rogério Coelho

 

Calorosas e inúteis parlendas


A conduta de cada pessoa é a sua verdadeira profissão de fé


“(...) Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor!  entrarão no Reino dos Céus.” 
Jesus. (Mt., 7:21.)


Esgrimindo a Bíblia – em plena praça pública – como se fosse uma chibata, o pobre fanático com um pugilo de acólitos dóceis e complacentes, vociferava quase espumando pelos cantos da boca: “arrependei-vos! O Juízo Final está próximo! Aceitai Jesus como Salvador e não pereçais nas labaredas do Inferno!...”

Olhos esbugalhados, feições sanguíneas, veias intumescidas, continuou por incontáveis minutos, até à rouquidão, a sua arenga estonteante e patética, vazia de conteúdo e cheia de ameaças, que na verdade, só estava repercutindo na aparelhagem de som armada para o espetáculo da fé, com o volume todo aberto, ferindo os tímpanos dos transeuntes, em inútil tentativa de arrebanhamento das ovelhas perdidas...

Com sua habitual lucidez, Emmanuel analisa[1] o perfil dessas criaturas da seguinte maneira: “(...) muitos aprendizes do Evangelho existem satisfeitos consigo mesmos tão-somente em razão de algumas afirmativas quixotescas. Congregam-se em grandes discussões, atrabiliários, irascíveis, tentando convencer gregos e troianos, relativamente à fé religiosa e, quando interpelados sobre a fúria em que se comprazem, na imposição dos pontos de vista que lhes são próprios, costumam redarguir que é imprescindível não nos envergonharmos do Mestre, nem de Seus ensinamentos perante a multidão.

Todavia, por vezes, a preocupação de preservar o Cristianismo não passa de posição meramente verbal. Tais defensores do Cristo andam esquecidos de que, antes de tudo, é indispensável não esquecer-Lhe os princípios sublimes, diante das tarefas de cada dia.

A vida de um homem é a sua própria confissão pública. A conduta de cada um é a sua verdadeira profissão de fé. São infantis o trovão da voz e a mímica verbalista, filhos da vaidade individual, junto de ouvintes incompreensíveis e complacentes, com pleno esquecimento dos testemunhos necessários com o Mestre, na oficina de trabalho comum e no lar purificador.

Torna-se indispensável não se envergonhar o aprendiz de Jesus, não em perlengas calorosas, das quais cada contendor regressa mais exasperado, mas sim perante as situações aparentemente insignificantes ou eminentemente expressivas, em que se pede ao crente o exemplo de amor, renúncia e sacrifício pessoal que o Senhor demonstrou em Sua trajetória sublime”.

Aprendemos – com Jesus e Kardec – que o Reino de Deus pertence aos brandos, humildes e caridosos... Essas assertivas estão indelevelmente registradas no capítulo cinco, versículo cinco, do Evangelho escrito por Mateus: “bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra”, e também no bojo da Codificação Espírita onde Allan Kardec dá a luminosa e definitiva diretriz: “fora da Caridade não há salvação”.


 

[1] - XAVIER, F. Cândido. Vinha de luz. 19.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, cap. 51.


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita