A missão da família e a falta de educação
Com cinco anos de idade o menino, depois de uma
repreensão da avó, lhe disse enfático e com autoridade:
“Você tem que respeitar minha vontade!”. A avó,
mostrando tranquilidade, retrucou: “Mas acontece que
você é uma criança, não sabe tudo, e nem todas as suas
vontades podem ser satisfeitas”. Ao que o menino
contrapôs: “Mas a mamãe disse que os outros não mandam
em mim”. Essa cena, muito mais comum do que podemos
supor, mostra com todas as letras a deseducação que
muitos pais estão dando aos filhos, ensinando-os a não
respeitar o direito dos outros, priorizando sempre o seu
querer, ou seja, é a aplicação de um processo
educacional que os torna egoístas, individualistas e
indiferentes.
Outra cena bastante comum é dar aos filhos em tenra
idade total autonomia, fazendo-lhes as vontades,
chegando mesmo os infantes a dar ordens aos pais, a
fazer prevalecer o que eles querem, mesmo que isso não
seja o ideal nem para eles, nem para os demais
familiares. “O que você quer comer?”, “onde você quer
sentar?”, “qual filme ou desenho você quer assistir?”,
demonstram que os pais se colocam na dependência dos
filhos. Seja por ignorância, seja por fraqueza, muitos
pais estão promovendo futuros títeres, adultos
insensíveis que não pensarão duas vezes antes de
atropelar alguém, se isso significar manter ou
conquistar algum privilégio.
É de tal ordem o desleixo com a educação moral, a
formação do caráter, o desenvolvimento das virtudes, o
combate às más tendências e a criação de bons hábitos,
que a hipocrisia virou moda, mantendo a corrupção, a
violência, a injustiça, de geração em geração, dando a
impressão que a humanidade não tem mais jeito, está
totalmente perdida. Será que essa impressão é correta?
Será que não há como transformar essa situação?
O Espiritismo afirma que essa situação é transitória, e
que há um remédio infalível para combater na raiz as
causas desses males: a educação moral. Urge, antes,
detectarmos e colocarmos à mostra as causas que
engendram todos os vícios e descalabros humanos. Essas
causas são o egoísmo e o orgulho, que uma educação
materialista e utilitarista excita, ao invés de
combatê-las; que uma educação meramente cognitiva, de
memorização de conhecimentos, rega generosamente, como
se regam as plantas. Mas que adianta regar a planta e
adubar o solo onde ela cresce, se não trabalhamos para
evitar que seu tronco se desvie, que suas folhas sejam
infestadas por fungos, e que seus frutos sejam
contaminados por pragas? Assim também é com a educação
dos filhos.
As famílias, hoje, com as suas exceções, não educam. O
que hoje mais vemos são famílias que mimam seus filhos.
Essas famílias transferem a educação para a escola que,
sobrecarregada e não existindo para substituir a
família, por sua vez pede socorro, perdida que está
entre currículos, avaliações, burocracias e tudo o mais
que a engessa. Por mais amor tenham os professores à sua
profissão e aos seus alunos, eles não existem para serem
substitutos dos pais. Como seres humanos que são, tanto
quanto os pais também o são, os professores possuem suas
deficiências geradas por uma educação deficiente que
receberam desde a infância, daí a existência de
professores indiferentes, insensíveis, egoístas, tanto
quanto temos pais indiferentes, insensíveis e egoístas.
Não é um círculo vicioso, a não ser que queiramos nos
comprazer numa zona de conforto que privilegia o nosso
bem estar e daquelas pessoas que fazem parte do nosso
círculo íntimo. Mas essa situação tende sempre a se
agravar e atingir, com o tempo, aqueles mesmos que se
achavam acima de tudo e de todos. Então, o que fazer?
Recompreender o papel da família na sociedade e sua
missão educativa das novas gerações.
Na questão 208 de O Livro dos Espíritos temos o
roteiro para a transformação da humanidade e o repensar
do papel da família:
O Espírito
dos pais não exerce influência sobre o do filho, após o
nascimento?
- Exerce, e muito, pois como já dissemos, os Espíritos
devem concorrer para o progresso recíproco. Pois bem: o
Espírito dos pais tem a missão de desenvolver o dos
filhos pela educação; isso é para eles uma tarefa. Se
nela falharem, serão culpados.
Como vemos, é tarefa inadiável e intransferível dos pais
a educação dos filhos. Tão importante é essa tarefa que,
se não for cumprida, os pais respondem perante a lei
divina. Para bom entendimento da resposta dada pelos
Espíritos Superiores, temos que deixar claro que educar
os filhos não se circunscreve apenas a matriculá-los na
escola, a comprar o material escolar, a cobrar o dever
de casa, a providenciar o uniforme e assim por diante.
Se essas providências fazem parte do cotidiano dos pais
para com os filhos, muito mais importante é dar bons
exemplos, é corrigir maus hábitos, é sensibilizar o
sentimento, o que, numa palavra, significa aplicar a
educação moral junto à alma imortal dos que reencarnam,
iniciando sua nova jornada existencial na Terra. Para
bem educar os filhos, devem os pais primeiro se
educarem.
A falta de educação a que hoje assistimos por parte de
crianças, adolescentes e jovens, provém da falta de
educação moral dos pais, do verdadeiro desmanche do lar
e da família que há décadas temos feito, levando os
responsáveis a não darem cumprimento à tarefa divina que
lhes foi delegada: educar!
Corrigir esses desvios levará tempo, mas não é
impossível.
Iniciemos, com urgência, a reeducação dos pais para que
possam colocar em prática a educação moral dos filhos,
ao mesmo tempo em que, nos esforços da chamada
evangelização espírita, educamos moralmente as crianças
para que, no futuro, sejam humildes, caridosas e
íntegras. É a conjugação dessas ações que haverá, com o
tempo, e decididamente, de transformar a humanidade para
melhor.
Marcus De Mario é escritor, educador,
palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de
estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no
YouTube; possui mais de 35 livros publicados.
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