86 anos atrás Cairbar Schutel retornava à pátria
espiritual
Daqui a dois dias, em 30 de janeiro, fará 86 anos que
Cairbar Schutel –
cognominado o Espírita número 1 do Brasil – retornou à
pátria espiritual. Fundador do jornal O Clarim e
da Revista Internacional de Espiritismo, Cairbar
completaria poucos meses depois, em setembro de 1938, 70
anos de idade.
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Natural do Rio de Janeiro (RJ), onde nasceu no
dia 22 de setembro de 1868, |
Cairbar foi um divulgador espírita em diferentes
áreas, como editor, escritor, jornalista e
palestrante. |
Profissionalmente, foi farmacêutico e teve breve atuação
no campo político na cidade de Matão (SP), tendo sido
fundamental em sua elevação de povoado para município,
do qual foi seu primeiro intendente, cargo equivalente
ao atual prefeito, que exerceu de março a outubro de
1899 e, depois, de 18 de agosto a 15 de outubro de 1900.
Sua atuação nas lides espíritas, cuja importância é
conhecida de todos os que militam no movimento espírita,
é que levou a que fosse cognominado o Espírita número 1
do Brasil, uma homenagem simbólica que o coloca ao lado
dos grandes vultos espíritas do Brasil, que se
notabilizaram pelo trabalho que realizaram nas lides
espíritas, como Bezerra de Menezes, Eurípedes
Barsanulfo, Chico Xavier, Divaldo Franco, Leopoldo
Machado, Herculano Pires, Deolindo Amorim, Batuíra e
tantos outros.
Neste texto objetivamos, no entanto, focalizar a
estatura moral e intelectual de Cairbar, tendo como
ponto de referência a resposta dada por Emmanuel à
questão 204 de seu livro O Consolador, em que o
conhecido instrutor espiritual diz que o sentimento e a
sabedoria são as duas asas com que a alma se elevará
para a perfeição infinita, os quais são entre nós
classificados como
adiantamento moral e adiantamento intelectual, ambos
imprescindíveis ao progresso.
Como Cairbar Schutel se enquadra na conceituação citada?
Vejamos nas linhas seguintes a resposta a esta questão.
A estatura moral de Cairbar
No tocante à área do sentimento ou do adiantamento moral
ninguém que acompanha o Movimento Espírita desconhece a
estatura moral de Cairbar Schutel, o homem cordial, o
amigo dos pobres e dos enfermos, aos quais curava não
somente as mazelas do corpo, mas as enfermidades da
alma.
Amante da natureza, é conhecido o amor que Cairbar
nutria pelos animais.
Nhonhô, o gato que fora sacrificado por Cairbar após uma
briga, olhava-o atentamente quando Cairbar escrevia.
Cabrito, seu último cavalo, aposentado por Cairbar
quando comprou seu primeiro carro, recebia tanto carinho
do dono que, momentos antes de morrer, veio despedir-se
do protetor e amigo.
Os cães Rolf e Leão, dois espécimes dinamarqueses,
sentavam-se à mesa e eram servidos em primeiro lugar por
seu dono. Rolf, aliás, adorava pastéis e ovos cozidos,
embora sua preferência fosse mesmo sorvete. E gostava
também de passear de carro nas visitas que Cairbar fazia
aos doentes, ocasião em que, sentado no banco traseiro,
parecia um fidalgo.
Na assistência aos obsidiados e aos enfermos de toda
ordem que chegavam a Matão, o zelo de Cairbar chegava ao
extremo de levá-los para sua própria casa, onde
construíra alguns quartos nos fundos do terreno,
exatamente para poder acolhê-los e assisti-los.
O estudioso e divulgador espírita
No tocante à área da sabedoria ou do adiantamento
intelectual existe uma faceta da obra de Cairbar que tem
sido pouco enfatizada pelos biógrafos.
Evidentemente, poucos ignoram o trabalho do
Cairbar-jornalista, fundador d’O Clarim e da Revista
Internacional de Espiritismo e pioneiro da
divulgação espírita por intermédio do rádio; do
Cairbar-orador e polemista vibrante; do
Cairbar-escritor, autor de 17 livros dentre os quais
lembramos as obras “Parábolas e Ensinos de Jesus”, “Vida
e Atos dos Apóstolos”, “O Espírito do Cristianismo”,
“Espiritismo para as crianças” e tantos outros
indispensáveis aos que pretendem ter uma sólida formação
espírita.
Pouco se fala, porém, da profundidade e mesmo do
pioneirismo com que Cairbar examinou vários assuntos
relacionados com a prática da mediunidade e as condições
da vida no Outro Mundo, algo que era confinado a poucas
pessoas antes da eclosão, na década de 1940, da Série
Nosso Lar. Como se sabe, Cairbar desencarnou em janeiro
de 1938, antes do surgimento das obras de André Luiz.
O confrade Antenor de Souza, hoje falecido, disse-nos
que em 1944, quando foi lançada a 1ª edição do livro Nosso
Lar, de André Luiz, muitos confrades de relevo deste
país, como Leopoldo Machado, tiveram dúvidas pertinentes
a aspectos da vida espiritual que lhes pareceram,
naquele momento, algo absolutamente inédito na
literatura espírita, embora Cairbar Schutel já houvesse
tratado do assunto 12 anos antes.
O que Cairbar nos ensinou sobre a prática mediúnica
Acerca da influência do meio na reunião mediúnica –
As comunicações com os Espíritos exigem muito recato,
muito respeito, muita civilidade e muito recolhimento. O
meio exerce ação considerável para o bom êxito das
sessões. Jesus estava acompanhado de três apóstolos no
episódio do monte Tabor. Em Betsaida (Marcos, 8:22), ele
conduziu o cego fora da aldeia antes de curá-lo. Fato
idêntico ocorreu com o homem surdo e gago, que Jesus
tirou da multidão e atendeu à parte (Marcos, 7:32), e
com a filha de Jairo (Mateus, 9:18). (Médiuns e
Mediunidades, pp. 73 e 74.)
Apelo à privacidade das sessões mediúnicas –
As sessões práticas devem ser privativas, com número
reduzido de assistentes convencionados e assíduos,
porque elementos estranhos prejudicam o resultado dos
trabalhos. Não se concebe, pois, a realização de sessões
mediúnicas públicas, com portas abertas, sem
circunspecção e critério exigidos para a prática
mediúnica. (Obra citada, pp. 53 e 72.)
Deveres que competem aos médiuns –
Primeiramente, estudar, porque o estudo preparatório dos
médiuns é indispensável ao exercício da mediunidade. Os
médiuns necessitam ter, ainda, muita persistência, muita
paciência, muita perseverança nas reuniões e nos
estudos, para melhor se relacionarem com o mundo
invisível. (Obra citada, pp. 75 e 76.)
Uma advertência pertinente ao diálogo com os
desencarnados –
Convém deixar o Espírito comunicante falar. (Obra
citada, p. 53.)
O recinto das sessões mediúnicas –
As sessões requerem um ambiente de semiobscuridade ou
iluminado com uma lâmpada vermelha com luz fraca. (Obra
citada, p. 51.)
A vida no mundo espiritual segundo Cairbar
Os diversos planos do Mundo Espiritual –
Há no Outro Mundo diversos planos de existência, e não
poderia ser de outro modo, porque os Espíritos,
revestidos de seu corpo espiritual, não podem viver num
meio que não esteja de acordo com sua vestimenta
espiritual, que vibra sempre ao ritmo da elevação de
cada um, em sabedoria e moralidade. Uma região isenta de
oxigênio seria hostil a Espíritos ainda necessitados de
oxigênio. Os círculos que envolvem a Terra se
diferenciam pela fluidez da matéria que os compõe. (A
Vida no Outro Mundo, pp. 82, 83, 85 e 107.)
Semelhanças entre o nosso plano e o plano espiritual –
O primeiro plano do Mundo Espiritual é bem parecido com
o plano terráqueo. Pode-se dizer que o nosso plano aqui
na Terra é uma cópia materializada desse plano, o que
explica a existência ali de habitações semelhantes às
nossas. (Obra citada, pp. 87 a 89.)
Referências sobre o assunto –
Mais de um livro ou autor fala sobre a existência de
cidades, casas, hospitais, templos e palácios no Outro
Mundo. Conan Doyle menciona em seu livro “História do
Espiritismo” vários casos, a exemplo de sir Oliver
Lodge, Carl du Prel, Swedenborg, Winifred Moyes e Lilian
Walbrook. (Obra citada, pp. 54, 56, 57, 78, 92, 95, 96,
97, 102 e 103.)
Os alimentos no plano espiritual –
Nas mensagens transcritas por Conan Doyle, além da
referência à existência de casas lindas e flores, um dos
comunicantes fala do alimento utilizado no plano em que
vivia, o qual não se parece com o nosso porque é muito
mais agradável e delicado. (Obra citada, pp. 95 a 97.)
Revelações feitas pelo sensitivo Swedenborg –
Nas obras do grande vidente sueco faz-se menção a casas,
templos, salões, palácios. As crianças são bem recebidas
no Outro Mundo, sejam ou não batizadas, e ali elas
crescem cuidadas por mulheres jovens, até que lhes
apareçam suas mães verdadeiras. (Obra citada, pp. 98 a
100.)
O trabalho no plano espiritual -
Extraída do livro “O Caso de Lester Coltman”, de Lilian
Walbrook, eis parte da mensagem dada por Coltman: “Meu
trabalho continua aqui como se iniciou na Terra, ou
seja, no terreno científico. Para progredir em meus
estudos, visito frequentemente um laboratório, onde
encontro facilidades tão completas como extraordinárias
para a realização de experiências. Tenho casa própria,
verdadeiramente bela, com uma grande biblioteca, na qual
existe toda a classe de livros de consulta: históricos,
científicos, de Medicina, e de todos os gêneros da
Literatura. Para nós, estes livros são tão interessantes
como para vós, os da Terra. Tenho uma sala de música com
toda a sorte de instrumentos. Tenho quadros de rara
beleza e móveis de gosto apurado.” Na sequência, Lester
Coltman refere-se a uma paisagem extraordinariamente
bela que ele podia descortinar de suas janelas e diz
haver ali magníficas escolas para instrução dos
Espíritos de crianças. (Obra citada, pp. 93 a 95.)
O destino do homem além da morte
Cairbar Schutel deixou-nos a propósito do destino das
criaturas humanas no pós-morte estas sábias palavras:
“O túmulo não é o ponto final da existência. Nosso
destino é grandioso. Existem mundos de luz, onde reina a
verdade; mundos que serão nossas futuras moradas! Assim
como o progresso caracteriza perfeitamente a evolução
gradativa do nosso planeta, que será um dia paraíso
terrenal, assim também essa Lei inflexível, que rege os
mundos que se balouçam no Éter, nos prepara moradas
felizes, dispersas na Casa de Deus, que é o Cosmo
infinito.
“Tenhamos fé e estudemos! Ignoramos? Progridamos! Porque
do estudo e da pesquisa vem a verdade que esclarece a
inteligência, e, desta, a evolução espiritual, que nos
guinda às alturas, para compreendermos as coisas do
Espírito, coisas que Deus reserva para todos os que
procuram crescer no Seu conhecimento e na Sua graça. Que
as luzes da caridade, que vamos conquistando, nos
ilumine toda a Ciência, toda a Religião, toda a
Filosofia, para podermos, com justos títulos, observar
as magnificências do Universo e cientificar-nos da
imortalidade e da Eternidade da Vida.” (A Vida no
Outro Mundo, de Cairbar Schutel, 5ª edição, 1978,
pág. 126.)