Engenheiro eletricista e analista de sistemas e
atualmente engenheiro de projetos no Programa
Poupatempo, que atende o estado de São Paulo,
Paulo Malerbi (foto) reside na capital de
São Paulo, onde nasceu. Vinculado à FEESP –
Federação Espírita do Estado de São Paulo e à
Seara Bendita, instituição igualmente localizada
na capital paulista, atua como expositor e
coordenador do grupo de apoio ao antitabagismo e
outros vícios. Na FEESP atua na área de
assistência espiritual e também na psicofonia,
além do trabalho na assistência especializada em
harmonia emocional, voltada aos envolvidos com
situações de depressão, esquizofrenia,
transtorno bipolar e similares. Autor de um
livro biográfico sobre 25 mulheres, com
expressivos legados de trabalho no bem, ele nos
fala sobre o assunto na seguinte entrevista:
Como surgiu a ideia de reunir biografias de
mulheres espíritas numa obra específica?
Antes de mais nada, minha gratidão pela
oportunidade. A ideia surgiu há cerca de 10
anos, quando percebi que, numa época de tantos
avanços no campo dos direitos das mulheres,
pouco se conhecia sobre as nobres e exemplares
lições de vida que foram construídas por
mulheres espíritas aqui no Brasil desde o final
do século 19. Nossa intenção foi homenagear
mulheres notáveis que nos dois lados do muro da
vida trabalharam e seguem trabalhando, através
da fé corajosa e da solidariedade fraterna para
a construção dos caminhos que nos levarão a um
mundo melhor, mais justo e mais fraterno.
A maioria delas já retornou ao mundo espiritual
e algumas ainda estão entre nós. Como foi esse
critério?
Dentre as 25 nobres e inspiradoras trajetórias
pessoais que o texto traz, tive a grata
oportunidade de conviver com 10 delas, algo que
agradeço a Deus diariamente, que sempre colocou
bons e inspiradores exemplos em meus caminhos.
Dentre essas 10 espíritas exemplares com as
quais tive a oportunidade de conviver, as quatro
mais jovenzinhas seguem por aqui, do lado de cá
do muro da vida.
O título da obra já sugere que elas deixaram um
legado. Que dizer ao leitor sobre isso?
Acerca do legado trazido ao mundo por esse grupo
de trabalhadoras do Cristo, escrevemos na
apresentação do livro: “As páginas a seguir
trazem uma singela homenagem às 25 mulheres
valorosas que representam um grupo muito maior
que – em todas as épocas, inclusive nos dias
atuais – protagonizam trajetórias inspiradoras
que se traduzem na conjugação de compaixão,
resiliência, dedicação, fé e trabalho
incansável. A misericórdia de Deus traz ao
convívio de cada geração grupos de almas
dedicadas à promoção de valores nobres, cuja
missão é estimular o progresso das gerações
futuras na vida das sociedades “.
Muito interessante a linha do tempo dessas
mulheres, incluída na obra. Percebe-se um
sincronismo de ações, embora localizadas em
diferentes lugares, mas com proximidade de
épocas. Como analisar esse quesito?
No esboço que fizemos, através do recurso da
linha do tempo, procuramos evidenciar dois fatos
inquestionáveis. Um deles é que todo coração que
hoje apresenta boa vontade serve como ponto de
apoio para que a espiritualidade possa alavancar
o progresso das gerações futuras. O outro fato
inquestionável é que a espiritualidade está
sempre na vanguarda, pois conforme indica a
linha do tempo que traçamos, almas valorosas,
várias delas compenetradas na tarefa de resgatar
questões pendentes de seu pretérito, aqui
renasceram em diferentes rincões e frutificaram
na fé e na caridade, mesmo tendo nascido num
país de dimensões continentais e com enorme
variedade cultural como o Brasil.
O livro também traz a localização de
referência”. O que lhe sugere acrescentar nesta
questão?
Ao desenhar sobre o mapa do Brasil o local de
nascimento dessas figuras eméritas, procuramos
evidenciar duas realidades muito presentes a
cada um de nós. Uma delas é que, da mesma forma
como o espírito errante tem mobilidade no espaço
para que possa aprender e progredir, também
aqui, enquanto encarnados, há vezes em que
precisamos empenhar porções de boa vontade e
desprendimento a fim de nos deslocar para longe
do local em que nascemos para possibilitar nosso
progresso, A outra realidade é que, em muitas
ocasiões, a transferência do local onde temos
raízes familiares para um local desconhecido
envolve diferentes formas de insegurança e
sofrimento, mas é nesse tipo de situação que
somos amplamente amparados pelo Plano Maior, que
sempre ampara e protege cada um de nós durante
os momentos desafiadores, transmitindo-nos
coragem nos momentos de decisão.
Dentre as dificuldades enfrentadas por todas
elas, considera o preconceito como um item de
expressão? E deu para perceber como enfrentaram
isso?
Sem a menor dúvida! Preconceito e discriminação
são tumores morais que prejudicam a qualidade de
vida de muita gente ainda hoje e fizeram parte
da rotina diária de cada uma de nossas
beneméritas paraninfas e das mais diferentes
formas. A Igreja Católica e seus fiéis foram
perversos com, por exemplo, Anália Franco, Anna
Prado e Zilda Gama. Adelaide Câmara enfrentou
muitos dissabores com os protestantes, que
integravam seu vínculo religioso de origem.
Benedita Fernandes foi exposta a agruras
inimagináveis por ser negra e pobre. Isso só
para citar alguns casos.
Qual delas, no livro, se apresenta como a mais
emocionante, aos seus olhos?
A sociedade atual é carente de bons e
inspiradores exemplos e, ao conhecer os feitos
dessas fantásticas mulheres cujas biografias
temos hoje a oportunidade de trazer ao
conhecimento do público, é fácil verificar como
o poder transformador da fé e do amor ao
próximo, quando aliados à disciplina, ao
trabalho e à humildade, geram resultados
magníficos e duradouros: Auta de Souza, Martha
Thomaz, Anna Motton, Laurete Godoy, Nair de
Moraes, Suely Caldas Schubert, Clory Fagundes e
Yvonne Pereira, bem como todas demais paraninfas
desta obra, ilustram bem essa realidade.
Algumas protagonistas que formam o livro são
personalidades muito conhecidas do movimento
espírita. Que dizer daquelas que não se tornaram
tão conhecidas, mas igualmente agiram em seu
tempo?
Jesus, conforme registrado em João 14:2,
afirmou: “Na casa de meu Pai há muitas moradas“.
Dentro desta perspectiva, atrevo-me a afirmar:
“Na seara de Jesus há lugar para todos que
trabalham com boa vontade”. Foi através da opção
íntima pela boa vontade na hora de superar os
desafios trazidos pela vida que a jovem Armanda
Pereira da Silva abandonou uma promissora
carreira como musicista (aluna que foi do
maestro Villa Lobos) para, sozinha, cuidar das
necessidades de sua mãe doente durante 25 anos,
tornando-se, depois disso, figura central na
direção da “Casa de Recuperação e Benefícios
Bezerra de Menezes”, no Rio de Janeiro. O mesmo
podemos dizer da memorável Clory Fagundes, cuja
vida escolar se resumiu a apenas 15 dias no
curso primário, fato que não a impediu de
construir (com as próprias mãos) as instalações
da “Associação Cristã Verdade e Luz”,
popularmente conhecida como “Lar da mamãe
Clory”, inicialmente em Andradina (1943-1948) e
depois (1969-1994) em São Bernardo do Campo;
fato que não a impediu de criar, alimentar e
educar mais de 5.000 crianças ao longo de 50
anos, 1.000 das quais ela e seu marido (o
inesquecível Orestes Marques) registraram como
filhos.
Que incentivo o autor oferece ao leitor para
atraí-lo à leitura da obra?
Ao compor o texto desta obra, dois objetivos
nortearam nossas pesquisas. Um deles foi impedir
que as areias do tempo e o limbo da indiferença
cobrissem exemplos de vida tão ricos e tão
motivadores; o outro objetivo foi o de
evidenciar que tudo nesta vida é resultado de
processos que envolvem a somatória de diferentes
formas de energia: a fé corajosa, o altruísmo
realizador; a mediunidade esclarecida e a
caridade ampla, que congregam amplas doses de
energia, sendo controladas unicamente pela
vontade de cada pessoa, pelo nosso compromisso
íntimo de perseverar no caminho do bem o tempo
todo.
Qual a lembrança mais marcante durante a
elaboração da obra?
Várias situações singulares surgiram durante as
pesquisas que nos conduziram ao texto final
desta obra, e há duas em particular de que me
lembro agora. Uma delas reside na
responsabilidade com dignidade, ética e verdade
quando se escreve sobre a vida de outras
pessoas. Por esta razão, sempre que iniciava a
pesquisa dirigida a cada uma das homenageadas,
fazia uma prece ao meu anjo da guarda e outra
dirigida à alma emérita em questão, pedindo
licença para realizar a pesquisa e posterior
divulgação. Em alguns casos, recebi um “agora
não!” como resposta (nos desdobramentos
noturnos); em outros casos recebi, além da
aprovação, algumas indicações sobre onde
encontrar informações confiáveis que iriam
facilitar a pesquisa. Outra lembrança, embora de
menor importância, tem a ver com minha teimosia
em seguir adiante com esse projeto, pois os
rascunhos do texto foram perdidos por três vezes
(!!!) ao longo dos últimos três anos: arquivos
digitais (computador e pendrive) foram
corrompidos por vírus uma vez e por falha do
equipamento na outra, sendo que as folhas
impressas desapareceram inexplicavelmente, fatos
que ocorreram em 2020, 2021 e 2022, forçando-me
a recomeçar o trabalho do zero, impedindo
que esta publicação estivesse disponível
ao público no final de 2022, conforme nosso
plano original.
Suas palavras finais.
Numa época em que “fake News” e discursos de
ódio pululam em todos quadrantes da mídia,
através dos relatos contidos em Ação das
Mulheres Espíritas no Brasil, procuramos
veicular “Good News” consubstanciadas na
trajetória de cada uma destas 25 almas eméritas
que, a exemplo do Cristo, veicularam seu talento
e seus dons ao semearem no coração humano a
educação em seu aspecto maiúsculo, que vem a ser
a educação da alma, uma lavoura divina cuja
colheita usufruímos eternidade afora. E fica
aqui o meu “muito obrigado” a cada uma delas e
ao amigo Orson, pela gentileza do convite e pela
disponibilidade de sempre, e também aos leitores
e leitoras que nos honram com sua atenção e
interesse.
Nota do entrevistador:
A obra citada na entrevista está
disponível na plataforma Amazon, nos formatos
físico e digital... Também está disponível nas
Livrarias Martins Fontes e Livraria da Vila na
capital de São Paulo, no formato impresso.
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