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por Marcus Vinicius de Azevedo Braga

 

Uma qualquer


No desfile da escola de samba Mangueira em 2024, em homenagem à cantora Alcione, que completou cinquenta anos de carreira, na abertura do desfile na Sapucaí, a “marrom” deu um show particular e bradou firmemente: "Muito prazer, galera. Sou Alcione. A negra voz do amanhã. E não sou uma qualquer!"

A fala rapidamente viralizou, principalmente pela sinceridade da cantora, que, sendo uma mulher negra e nordestina, chegou aonde chegou, mostrando nessa trajetória a sua força interior, não sendo uma qualquer realmente. Mas para além dessa notícia no carnaval carioca, esse é um caso interessante e que merece uma reflexão sobre o ser ou não ser um qualquer.

Seremos especiais, ou seremos mais um? Há problema em ser um qualquer? Ou em que ótica importa sermos mais especiais ou não? Indagações em uma sociedade competitiva e hierarquizada, na qual pululam mecanismos de aferição de popularidade, estruturas para que se revelem pessoas mais hábeis ou não em algo, e todos buscam seus minutos de fama e alguns se impõem como medalhões nas diversas áreas do saber, da arte, da cultura e dos negócios.

A verdade é que essa luta frenética por não ser um qualquer, e para que possamos no fim da trajetória mostrar a todos que chegamos lá, que superamos as promessas de catástrofe anunciada, nos pressiona muito. E nos faz uma sociedade fatigada e permeada por essa competitividade causticante, em especial pelo fenômeno das redes sociais.

Certamente o sucesso, a vitória, a realização, são valores interessantes e que motivam o ser humano a ser mais e melhor, mas ao mesmo tempo toda essa coisa é por vezes carregada de doses cavalares de egoísmo, de recalque e, ainda, de uma ambição insana e desmedida, que nos leva à cegueira e à ilusão.

Sim, em alguma medida somos todos especiais, e trazemos sementes potenciais das lutas reencarnatórias até determinado momento e que podem despertar. Somos especiais como pais para nossos filhos, somos especiais alguns pela voz que encanta multidões, mas também pelo gesto humilde e silencioso que ajuda o próximo. Importante saber que somos especiais sempre para alguém.

E para esse alguém fazemos diferença. Assim como as pessoas especiais de grande destaque na sociedade inspiram e impulsionam muitos, e têm responsabilidade em alguma medida pela forma com que esse carisma é utilizado. Não ser um qualquer em um sentido terreno é uma meta de muitos, mas para aqueles que chegam lá por vezes é um fardo pesado de carregar.

Ao reencarnarmos, como um propósito, ali já deixamos de ser um qualquer, e passamos a ser um ser específico. Mas, a forma como nos conduzimos nessa luta, como enfrentamos os desafios, revelarão o que de especial que existe em nós, suplantando as circunstâncias e fazendo a diferença.

Espíritos evoluídos, que, pela sua trajetória, são seres especiais, se reencarnados em condições ditas normais, logo se fazem notar pela grandeza de suas atitudes. Não somos um qualquer, nos fazemos especiais pelas nossas escolhas e trajetórias, e essa é a beleza da reencarnação.

A velha história do homem que devolve estrelas do mar e, ao ser indagado, indica que para aquela ali que ele salvou, ele fez diferença, nos mostra que ser especial é uma relação interpartes, cotidiana, e que alguns, pelos seus compromissos e potencialidades, tornam esse brilho mais radial. Mas, ao fim, é só luz, que espalhamos de nossos lábios e de nossos olhos.


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita