Ora, também a
língua é um fogo. – (Tiago, 3:6)1
A instituição espírita existe, basicamente, para
disseminar o Espiritismo a todos os desejosos em
conhecê-lo, buscando iluminar as consciências,
tornando-se pouco a pouco um Educandário da
Alma, mas também atender, espiritualmente, às
necessidades de incontáveis modalidades,
considerando que as famílias e os indivíduos se
encontram desnorteados diante de tanta
insensatez existente neste avançadíssimo mundo
tecnológico, contudo, imediatista e egoísta ao
extremo.
Este apoio espiritual ocorre de variadas formas
e uma das mais importantes se dá pelo uso
saudável da palavra.
Recepção fraterna
Alguns templos espíritas mantêm uma atividade de
grande valor proporcionando o primeiro contato
com os visitantes: a recepção fraterna. Esta
tarefa é desempenhada por voluntários que se
colocam, literalmente, à frente da instituição
endereçando as primeiras palavras aos
interessados em obter as muitas benesses
espíritas ou apenas curiosos em conhecer o
Espiritismo.
Cabe a estes trabalhadores criar a primeira boa
impressão aos novatos, sugerindo-lhes que
chegaram a um porto seguro, depois de terem
navegado por mares turbulentos, tais os que
estamos tendo que nos acostumar a navegar nestes
dias de tantas incertezas, materiais e
espirituais.
Pronunciam as saudações iniciais aos navegantes
que, cansados, buscam explicações e alívio
variados para os problemas diversos que vêm
enfrentando no cotidiano.
Secretaria
Setor de relevância para a instituição onde são
equacionadas questões diversas de importância da
vida física da casa. Sem encaminhamento destas
tarefas a casa pode ruir materialmente. Além
disso, podem, pela boa e equilibrada palavra,
também envolver o visitante em uma atmosfera de
bem-estar, prenunciando os benefícios que o
visitante poderá obter, caso saiba bem
aproveitar tudo o que é colocado à sua
disposição.
Os trabalhadores das secretarias devem manter
disciplina no falar e também durante as
exposições – caso permaneçam em seus postos de
atuação durante as preleções –, não se deixando
distrair por pensamentos e palavras alheios aos
objetivos de qualquer centro espírita.
Devem permanecer sempre atentos às muitas
dúvidas e dificuldades vividas e relatadas por
novos frequentadores nas lides espíritas,
fornecendo também as primeiras explicações sobre
o funcionamento da casa.
Este setor pode absorver a Recepção Fraterna.
Atendimento fraterno
Não há sombra de dúvida ser esta particular
atividade de alto significado para o sucesso na
missão da instituição. Para realizá-la só devem
ser encaminhados trabalhadores que demonstraram
durante alguns anos de serviço e estudos na
instituição, de preferência em diferentes áreas,
sólido conhecimento espírita, equilíbrio
emocional, personalidade prestativa, boa
vontade, entre outros.
O bom uso da palavra por esses voluntários é de
capital importância, pois deverão construir uma
relação de confiança com os interlocutores, em
pouco tempo, de modo que o consulente se sinta à
vontade para expor as variadas apreensões por
eles enfrentadas.
Dissemos em pouco tempo, pois atendimento
fraterno não é consulta psicológica de
consultório médico. Embora alguns atendentes
tenham tentado capacitar-se para tanto, a sala
espírita é um ambiente de simplicidade e muita
sinceridade, construído pelas boas palavras do
atendente, que de modo algum precisa dominar
técnicas psicológicas: o atendimento fraterno
não concorre com o consultório psicológico.
A chave mestra para o sucesso nesta
tarefa, que se baseia na boa condução das
palavras, é a conexão mental do voluntário com o
seu anjo da guarda para receber e identificar as
intuições necessárias durante os atendimentos.
Os Espíritos guias estão de posse de todas as
informações pessoais dos visitantes, sabem
exatamente como melhor abordar e responder aos
relatos apresentados.
Nada de irritação, nem de reprovação, durante o
trabalho. Afinal, o atendido deseja encontrar
apoio para as suas dificuldades, possíveis
soluções por meio de orientações seguras à luz
do Espiritismo, e esclarecimentos variados sobre
o funcionamento das leis de Deus, perfeitamente
explicadas pelo Espiritismo, ou seja, aguardam a
frase compreensiva e conveniente, estimuladora e
de esperança.
Esta tarefa não pode ser franqueada a aventureiros,
que mais desejam conhecer a vida alheia do que
sinceramente ajudá-los em seus dilemas. Também
não podem ser selecionados e aceitos por meio de
superficiais treinamentos, fornecidos, às vezes,
por trabalhadores que alegam conhecer o tema.
Esta tarefa é muito delicada para ser
desempenhada por trabalhadores despreparados,
possuindo apenas e unicamente a boa vontade, e
os dirigentes que permitirem esta situação
responderão por qualquer prejuízo causado por
esses aprendizes de atendentes aos seus
inquietos e sofridos consulentes.
Exposições
São os assim chamados carros chefe do
centro espírita. Setor de suma importância, pois
por meio das palavras, ditas durante uma
apresentação, os ouvintes podem ser deslocados
do inferno – onde possivelmente se
encontram –para o ainda desconhecido céu,
dependendo do tom e do conteúdo apresentado pelo
palestrante. Possuem a capacidade de promover a
esperança ou o desalento.
Sinceridade, autoridade, confiança assumem papel
capital nesta atividade, uma vez que a casa pode
não possuir a recepção fraterna, muito menos o
atendimento fraterno, mas se a preleção é de
qualidade do ponto de vista espírita, carregada
de bons sentimentos, durante a exposição
acontecem as duas tarefas anteriormente citadas,
sem que haja absoluta necessidade da existência
de ambas.
Para tanto, o expositor deve estar muito bem
preparado para captar as intuições que chegam à
sua mente, provenientes dos Espíritos dirigentes
da Casa Espírita, pois estes sabem com perfeição
o que a audiência precisa efetivamente escutar.
É por esta razão que – e não é incomum – um
participante qualquer da assembleia, ao final,
confidenciar ao expositor que escutou exatamente
o que precisava ouvir, justamente o que veio
buscar, e não entende como aquilo aconteceu, sem
que sequer o expositor tivesse preparado aquela
particular explicação. Estes são exemplos do
auxílio que vêm do Alto.
Em uma situação extrema de falta de
trabalhadores, a única atividade que não pode
faltar em uma Instituição de Espiritismo é a de
exposições, pois sem esta a casa não pode
atender o seu objetivo maior que é o de ensinar
Espiritismo de modo que os ouvintes – encarnados
ou desencarnados -, ao compreender as
explicações e ensinos, possam buscar por si
mesmos respostas ou explicações às suas dúvidas
e dificuldades enfrentadas no cotidiano de suas
vidas, sejam elas quais forem.
Os expositores agem como um semeador de
palavras, sendo o campo de cultivo a mente dos
ouvintes recebendo suas ideias e sonhos,
portanto é preciso semear com cuidado e zelo de
modo a ver frutificar a sementeira naqueles que
os ouvem, motivo pelo qual a cátedra só deve ser
entregue aos realmente capacitados, pois não há
improviso nesta delicada atividade.
Estudos
Toda casa que possuir condições para tanto deve
manter regulares programas de estudos espíritas,
formando grupos de interessados em aprender a
Doutrina Espírita. Esta prática facilita o
aprendizado de todos.
Entretanto, o condutor da palavra espírita, o
responsável por catalisar o processo de
aprendizado do grupo, deve ser, como no caso dos
expositores, também escolhido a dedo,
pois ele será o intérprete da Doutrina para os
novatos e, se ele não tiver condições de
ensinar pela palavra os corretos
postulados do Espiritismo, o prejuízo será
enorme. Os aprendizes construirão fundamentos
errôneos sobre a Doutrina e, edificando seus
entendimentos sobre castelos de areia, fundados
em pilares movediços, mais cedo ou mais tarde
eles ruirão.
Assim, não se entende haver coordenadores de
estudos que sejam homofóbicos, a favor do
armamento da população para assegurar a própria
segurança, misóginos, tendentes a dizer que é
tudo a mesma coisa quando se trata das práticas
religiosas. Todos esses desvios de personalidade
e caráter não se coadunam com a essência
espírita, que segue integralmente a moral
cristã.
As atividades mediúnicas
Nesta área de atuação, a palavra também se
reveste de cuidados especiais.
Para os dialogadores, doutrinadores ou
esclarecedores a boca deve estar higienizada
pelo hábito contínuo do uso da boa palavra. Ao
conversar com as entidades desencarnadas, muitas
habituadas a emitir expressões de rancor,
reclamações, revestidas de ódio e mágoas
diversas, o trabalhador precisa contrapor-se a
essas frequências maléficas, emitindo boas
vibrações pelo emprego do verbo equilibrado,
criando assim melhor potencial para estabelecer
sintonia com os interlocutores do lado de lá e
anulando, mesmo que parcialmente, os fluidos
negativos que as palavras torpes de Espíritos
revoltados emitem quando se comunicam em uma
reunião mediúnica. Atitudes e palavras
violentas, impaciência ou desapreço ao
comunicante precisam ser evitadas. De modo igual
à tarefa do atendimento fraterno, a conversação
não será longa em demasia, considerando a
questão do tempo e a existência de outros
possíveis comunicantes.
Como importante lembrança, no caso dos médiuns,
alguns deixam escapar palavras rudes e imorais,
expressões obscenas ou injuriosas, gritos ou
interjeições grotescas, inadequados em qualquer
situação, ainda mais em um encontro mediúnico,
pois não têm domínio completo sobre si mesmos.
E, quando isso ocorre, responsabilizam os
Espíritos, alegando que eles é que desejam usar
os chamados palavrões e o médium não
consegue contrapor-se, não obtendo sucesso na
filtragem das palavras chulas e de baixo calão.
Com certeza, isso só ocorre por conta de ser o
médium deseducado em sua vida íntima, empregando
cotidianamente essas inadequadas palavras em
seus regulares diálogos. Por conta desta
realidade é que se pode afirmar que a
mediunidade precisa ser desenvolvida,
como qualquer outra faculdade, enquanto o médium
precisa ser educado moralmente. O médium
é sempre responsável pela comunicação que
primeiro recebe e depois transmite, mesmo que
seja inteiramente sonâmbulo.
Conclusão
Às áreas da Evangelização Infantil e de Mocidade
se aplicam todas as recomendações anteriormente
listadas, com destaque para a especialização dos
trabalhadores para o correto trato com a mente
infantil e juvenil.
Uma especial recomendação a todos os
trabalhadores é não deixar de aderir à prática
do que falam, vivendo aquilo que verbalmente
transmitem. O exemplo é o maior agente de
convencimento. Alguns se portam dignamente nas
dependências da casa espírita onde militam,
contudo, ao colocarem o pé fora da instituição,
esquecem as belas palavras pronunciadas durante
as atividades espíritas e passam a ser do mundo,
atuando conforme o mundo age e pensa. As
palavras devem ser confirmadas pelos atos, sem
dúvida.
Quanto mais estivermos sintonizados com Jesus e
seus colaboradores, mais força existirá em
nossas palavras. A energia que passamos a
carregar nas expressões verbais utilizadas na
tentativa de nos fazer entender se multiplica e
se depura. Passa a atingir em profundidade os
ouvintes, em qualquer situação e local.
Por tudo isso o uso do verbo equilibrado é
receita para o equilíbrio interno, tão escasso
neste mar de vibrações irritantes, desconexas,
perturbadas em que nos encontramos imersos, por
conta das palavras rudes, grosseiras, de ódio e
de revolta normalmente pronunciadas pelas
massas, incluindo os palavrões deprimentes,
agora de uso generalizado.
Se nos prepararmos melhor durante o dia, usando
o verbo de modo útil e edificante, espalhando
palavras de amor, sadia alegria e esperança aos
que nos cercam, além de melhor nos apresentarmos
para o trabalho espírita na casa escolhida – em
qualquer setor -, contribuiremos para sanear a
atmosfera psíquica do planeta pela caridade do
verbo, consoante estas oportunas palavras de
Emmanuel:
Meditemos, pois, na importância do verbo e
roguemos a Deus nos inspire, a fim de
encontrarmos a porta adequada à palavra certa e
sermos úteis aos outros, tanto quanto esperamos
que os outros sejam úteis a nós.
Referências:
1 BÍBLIA
DE JERUSALÉM. Trad. Gilberto da Silva Gorgulho; et
al. 8. ed. São Paulo: Paulus Editora, 2012.
2 XAVIER,
Francisco Cândido. Segue-me. Pelo
Espírito Emmanuel. ed. 15ª. Matão/SP: Casa
Editora O Clarim, 2014. A porta da palavra.