Ansiedade e vazio
O
homem que se conhece possui um tesouro no coração.
“Vigia o teu roteiro e a tua norma,
E foge ao desvario dos extremos...
Toda a nossa existência se transforma
Naquilo que buscamos e queremos”. J. Coutinho
O autoconhecimento
é a chave da humana felicidade e da alforria
espiritual. Entendia assim a ancestral cultura grega ao
inscrever no Tempo de Delfos a célebre frase tão
enfatizada por Sócrates: “Conhece-te
a ti mesmo”.
Já
dominamos tecnologia espacial para viajar pelas estrelas
a fim de conhecer outros planetas, mas – paradoxalmente
– ainda não conseguimos viajar para o próprio interior
em busca do Reino de Deus, que Jesus disse estar dentro
de nós.
Aviões encurtam distâncias; perscrutamos as profundezas
abissais dos oceanos; galgamos os acumes mais altos das
montanhas; a informática mesclada com a Internet nos
permite navegar em direções ilimitadas e sempre
crescentes; o rádio e a televisão colocam o mundo dentro
de nossa casa, mas sem embargo, ainda somos incapazes de
atravessar a rua para saudar o vizinho e perguntar-lhe
se precisa de algo...
Corremos aflitivamente atrás de nonadas, à semelhança de
Marta, irmã de Lázaro, admoestada por Jesus, e nos
perdemos nos dédalos da ansiedade e do vazio
existencial, e vezes sem conto, isso tem motivado a
busca enganosa da falsa porta do suicídio como solução
infeliz de uma existência de desencantos, de
sobressaltos e desprovida de encantadoras e benfazejas
perspectivas...
Para, enfim, encontrarmos o “fio de Ariadne” que
nos guiará com segurança para fora do intricado
labirinto de nosso “DASEIN” ,
faz-se mister conscientizarmo-nos de nós mesmos e
concomitantemente aplicarmos, em nosso benefício, a terapia
do autoconhecimento.
Vejamos como Joanna de Ângelis nos ensina a lograr tal
desiderato, através da abendiçoada mediunidade de
Divaldo Franco:
“(...) O homem vem a pouco e pouco, perdendo o
significado da vida e o senso da sua dignidade.
Permitindo-se desumanizar, a fim de sobreviver na
multidão amorfa e violenta, sente necessidade de manter
a individualidade, não obstante procure os grupos para o
trabalho, a recreação, a autoafirmação...
Esta é uma hora de transição: Encerra-se um ciclo e
outro se abre. Inevitavelmente, a decadência de alguns
valores arrasta Instituições e indivíduos na direção do
caos. O significado, a sentido da vida se apresenta
como a busca desenfreada de recursos para a segurança e
o prazer pessoal. Como consequência, o senso de
dignidade se confunde, ameaçando o débil equilíbrio do
indivíduo. Estabelece-se, então, o aturdimento, a
desconfiança, a inquietação... O triunfo parece coroar
as pessoas corrompidas e exaltar as que se enamoram das
paixões voluptuosas do prazer, enquanto os homens justos
e cumpridores dos deveres experimentam carências,
aflições, problemas... Diante desse quadro, muita gente
se sente vencida, impotente, sem forças para enfrentar a
grave situação, deixando-se combalir ou reagindo pela
violência, malogrando em ambas atitudes.
A
paisagem moral revela-se como uma perda de fé na
dignidade humana, ajuizando-se que os valores éticos não
constituem base para o êxito nem a consideração do
organismo social. As massas, sem líderes,
desorganizadas, rumam sem destino, enfrentando o
totalitarismo, e, desumanizadas, reclamam pela
humanização dos seus membros. Os indivíduos tornam-se
estranhos a si próprios, desinteressados, sem
identidade...
Revertendo a situação adversa
Integra-te no programa de
ascensão das almas. Participa das atividades gerais,
vinculando-te ao grupo social ao qual te encontras, e
contribua para o seu desenvolvimento. Cultiva o senso
de humor e do riso, desmanchando a carranca da
insatisfação e da cólera. Preserva-te como indivíduo,
não te deixando devorar pelos apressados. Mediante uma
considerável apreciação de ti mesmo, dar-te-ás conta que
és um indivíduo atuante, em uma realidade objetiva, com
metas definidas, bem elaboradas. Assim te libertarás de
dois adversários: a
ansiedade e o vazio.
As
pessoas atropelam-se, vitimadas pela ansiedade, buscando
o que jamais lograrão mediante esse processo. Gargalham
fazendo bulha, porque perderam a faculdade de rir.
Parecem vencidas por um gás hilariante, ocultando o
estado ansioso. Ao mesmo tempo a sensação de vazio as
atormenta, em razão de os objetivos cultivados haverem
perdido o sentido.
A redescoberta do
sentido da vida e da reumanização, é um avanço histórico
na busca da maturidade psicológica, da tomada de
consciência de si mesmo.
Jesus, consciente da missão que aqui veio desempenhar,
conclamou as massas à responsabilidade, aos elevados
significados da vida, ao mesmo tempo que buscou a
identidade de cada discípulo, trabalhando pela sua
humanização e insistindo na valorização dos conceitos
éticos da existência, a fim de levá-lo a uma perfeita
integração no programa de libertação de si próprio,
primeiro, e da sociedade depois.
O
Seu triunfo não foram o aplauso, a aceitação, a glória
da mensagem, mas a cruz e o escárnio, ensinando que a
consciência de si mesmo somente é conseguida quando o
homem se imola nos madeiros das paixões, vencendo-as de
pé com os braços abertos em atitude de fraternidade
amorosa.
Silencia, portanto, as ansiedades do sentimento e acalma
os tormentos, reflexionando em torno das tuas reais
necessidades. Aprofunda a autoanálise e tem a coragem
de te desnudares perante a própria consciência.
Enumera as tuas mais graves emoções perturbadoras e
raciocina sobre a sua vigência no teu comportamento.
Enfrenta-as, uma a uma, não as justificando, nem as
escamoteando sob o desculpismo habitual. Resolve-te
por sanar a situação aflitiva dos teus dias, optando
pela aquisição da saúde.
Consciente de que és o que fizeste de ti, poderás ser o
que venhas a fazer de ti próprio. Portanto, não
postergues a decisão do autoencontro pois enquanto a
anestesia da mentira te obnubile o raciocínio,
transitarás de um para outro problema, sem que consigas
a paz real; reunirás valores de fora, que perdem o
significado, logo são conseguidos, andando pelo
bem-estar fugidio, que se te anuncia e logo desaparece.
O
homem que se conhece possui um tesouro no coração. O
discernimento que o caracteriza é a sua luz acesa no
imo, apontando-lhe rumo. Conhecendo a fragilidade da
veste carnal, valoriza cada hora e aplica-a bem,
vivendo-a intensamente, em cujo comportamento recolherás
os melhores frutos.
Cada vez que te resolvas por te autodescobrires, conduze
uma proposta de libertação.
Começa pelos vícios sociais da mentira, da maledicência,
da calúnia, do pessimismo, da suspeita, passando aos
dramas do comportamento, na inveja, no ciúme, no
ressentimento, no rancor, no ódio... Posteriormente,
elabora as medidas educativas às dependências aos
alcoólicos, ao tabagismo, às drogas alucinógenas, à
luxúria, aos distúrbios de conduta e às investidas das
alucinações psicológicas... Cada passo ser-te-á uma
conquista nova. Toda vitória, por pequena que se te
apresente, significará um avanço pois como os
condicionamentos são a segunda natureza em a natureza
humana, gerarás hábitos salutares, que te plenificarão
em forma de equilíbrio e paz.
Toda
terapia eficiente impõe disciplinas saudáveis, às vezes
ásperas, cujos resultados chegam, à medida que são
utilizadas. Na do autodescobrimento, a coragem e o
interesse pela própria realização facultarão as forças
para que não desistas no tentame, nem te entregues à
acomodação mental que te informa ser impossível
executá-la. Começa-a hoje e agora, aguardando que
o tempo realize, na cura, o ciclo que investiste para
que se te instalassem os distúrbios”.
-
Substantivo masc.– (Filos.) Segundo Martin
Heidegger, filósofo existencialista alemão
(1889/1976) o modo de ser exclusivo do homem que
é o ente portador de um relacionamento
fundamental do ser, qual seja o de encontrar-se
na zona de abertura do ser, na qual os entes
podem manifestar-se como entes; existência.