Especial

por Jorge Gomes

Ciência da vida
após a morte

A enfermeira estava perplexa.

Aquele homem tinha chegado de ambulância ao hospital com uma paragem cardíaca, sem circulação sanguínea e com as pupilas inertes, sem qualquer reação à luz. Esse facto demonstrava que as áreas profundas do cérebro não estavam a funcionar.

Explica: “Logo após a admissão, o paciente recebeu respiração artificial sem estar ainda entubado". Contudo, "quando o íamos entubar, vi que usava dentadura". Por isso, "tive de remover a dentadura e coloquei-a no carrinho de emergência. Depois prosseguimos com a reanimação".

Acabou por correr bem.

Passou uma semana, até que a enfermeira volta a encontrar este mesmo paciente. Quando ele a viu exclamou: “Aquela enfermeira sabe onde está a minha dentadura!".

Ela não esperava ouvir essas palavras…

Súbito, o paciente afirmou: “Sim, a senhora enfermeira estava lá. Tirou-me a dentadura e colocou-a num carrinho que tinha muitos frascos. Havia uma gaveta deslizante por baixo. Guardou aí a minha dentadura”.

"Quando fiz mais perguntas", adianta a enfermeira, "o paciente disse que se viu deitado na cama, e tinha percebido de cima o modo como médicos e enfermeiros realizaram a reanimação cardiopulmonar. Descreveu também corretamente e com detalhes a pequena sala em que foi reanimado, bem como a aparência das pessoas ali presentes, eu incluída”. (The Lancet, Lommel et al., 2001, p 18-19).

Este caso foi exposto em Portugal na apresentação do livro “Ciência da vida após a morte” efetuada por Alexander Moreira-Almeida, médico, investigador e professor titular de Psiquiatria da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, Brasil.

O investigador, que é igualmente diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (NUPES), sublinhou que existem dezenas de relatos semelhantes na literatura científica, inclusive de indivíduos cegos, alguns deles de nascença, que descrevem visões detalhadas e percepções verídicas semelhantes às pessoas que não são invisuais.

A obra foi apresentada em Portugal no passado mês de março, durante as Jornadas de Cultura Espírita do Oeste, que decorreram nos dias 23 e 24 no centro de congressos da cidade de Caldas da Rainha, envolvendo mais de 600 participantes presenciais.

O livro possui, como coautores, a médica psiquiatra Marianna de Abreu Costa e o filósofo Humberto Schubert Coelho.

Não é um livro espírita, de facto, mas sim um livro escrito dentro da pauta da ciência oficial. Os destinatários são os cientistas em geral, sejam eles materialistas ou espiritualistas, bem como o cidadão comum.

Na Europa, onde a prática científica se subordina ainda em boa parte aos dogmas materialistas, Moreira-Almeida abriu a pesada cortina criada pelas crenças humanas em torno do primado da matéria e deixou entrever vastos caminhos banhados de sol, nos quais as leis da natureza imperam, também no domínio espiritual, pedindo para ser compreendidas, e sempre capazes de enfrentar a razão face a face em todas as épocas da humanidade (onde é que lemos e ouvimos isto?).

Uma vez lido o livro, o cidadão comum encontra nas primeiras páginas uma apresentação filosófico-científica, indispensável, mas que em alguns pontos exige maior concentração para ser bem compreendida. Porém, passadas essas páginas, abrem-se amplas janelas, numa linguagem aberta e clara, a apontar factos da história da ciência e de pesquisas recentes, realizadas um pouco por todo o mundo.

Uma casuística fundamentada, rica e impressionante sobre mediunidade, experiências de quase-morte e fenómenos sugestivos de reencarnação jorra em cascata proporcionando a sua leitura um elevado prazer. Essa sequência, muito bem explicada, conduz a observações convergentes salientando todas elas "o peso do conjunto de evidências".

Nos termos da própria obra, o livro “investiga as evidências científicas sobre uma das questões mais desafiadoras e difundidas ao longo dos tempos, culturas e religiões: a sobrevivência da consciência humana após a morte".

É adequada uma pausa. Olho para o horizonte e presumo: "Que satisfação enorme sentiria Allan Kardec ao passar os olhos por este livro!". Não seria, entre os gigantes do passado, o único a sentir essa alegria interior...

Se os leitores quiserem ver em vídeo a apresentação da obra em Portugal ou em Espanha, encontram entre outros vários links:

Caldas da Rainha (Portugal) - LINK-1

Barcelona (Espanha) - LINK-2

Noticiário da Radiotelevisão Portuguesa (RTP) durante os dias do Simpósio Aquém e Além do Cérebro (cidade do Porto) que decorreu na Casa do Médico - LINK-3


Nota do autor:

A foto de Alexander Moreira-Almeida é de autoria de Ulisses Lopes.


Jorge Gomes, escritor, ex-vice-presidente da Federação Espírita Portuguesa e ex-editor do Jornal de Espiritismo publicado pela ADEP - Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal, da qual é membro, reside na cidade do Porto, Portugal. 

  

     
     

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