A enfermeira estava perplexa.
Aquele homem tinha chegado de ambulância ao
hospital com uma paragem cardíaca, sem
circulação sanguínea e com as pupilas inertes,
sem qualquer reação à luz. Esse facto
demonstrava que as áreas profundas do cérebro
não estavam a funcionar.
Explica: “Logo após a admissão, o paciente
recebeu respiração artificial sem estar ainda
entubado". Contudo, "quando o íamos entubar, vi
que usava dentadura". Por isso, "tive de remover
a dentadura e coloquei-a no carrinho de
emergência. Depois prosseguimos com a
reanimação".
Acabou por correr bem.
Passou uma semana, até que a enfermeira volta a
encontrar este mesmo paciente. Quando ele a viu
exclamou: “Aquela enfermeira sabe onde está a
minha dentadura!".
Ela não esperava ouvir essas palavras…
Súbito, o paciente afirmou: “Sim, a senhora
enfermeira estava lá. Tirou-me a dentadura e
colocou-a num carrinho que tinha muitos frascos.
Havia uma gaveta deslizante por baixo. Guardou
aí a minha dentadura”.
"Quando fiz mais perguntas", adianta a
enfermeira, "o paciente disse que se viu deitado
na cama, e tinha percebido de cima o modo como
médicos e enfermeiros realizaram a reanimação
cardiopulmonar. Descreveu também corretamente e
com detalhes a pequena sala em que foi
reanimado, bem como a aparência das pessoas ali
presentes, eu incluída”. (The Lancet,
Lommel et al., 2001, p 18-19).
Este caso foi exposto em Portugal na
apresentação do livro “Ciência da vida após a
morte” efetuada por Alexander Moreira-Almeida,
médico, investigador e professor titular de
Psiquiatria da Universidade Federal de Juiz de
Fora, MG, Brasil.
O investigador, que é igualmente diretor do
Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde
(NUPES), sublinhou que existem dezenas de
relatos semelhantes na literatura científica,
inclusive de indivíduos cegos, alguns deles de
nascença, que descrevem visões detalhadas e
percepções verídicas semelhantes às pessoas que
não são invisuais.
A obra foi apresentada em Portugal no passado
mês de março, durante as Jornadas de Cultura
Espírita do Oeste, que decorreram nos dias 23 e
24 no centro de congressos da cidade de Caldas
da Rainha, envolvendo mais de 600 participantes
presenciais.
O livro possui, como coautores, a médica
psiquiatra Marianna de Abreu Costa e o filósofo
Humberto Schubert Coelho.
Não é um livro espírita, de facto, mas sim um
livro escrito dentro da pauta da ciência
oficial. Os destinatários são os cientistas em
geral, sejam eles materialistas ou
espiritualistas, bem como o cidadão comum.
Na Europa, onde a prática científica se
subordina ainda em boa parte aos dogmas
materialistas, Moreira-Almeida abriu a pesada
cortina criada pelas crenças humanas em torno do
primado da matéria e deixou entrever vastos
caminhos banhados de sol, nos quais as leis da
natureza imperam, também no domínio espiritual,
pedindo para ser compreendidas, e sempre capazes
de enfrentar a razão face a face em todas as
épocas da humanidade (onde é que lemos e ouvimos
isto?).
Uma vez lido o livro, o cidadão comum encontra
nas primeiras páginas uma apresentação
filosófico-científica, indispensável, mas que em
alguns pontos exige maior concentração para ser
bem compreendida. Porém, passadas essas páginas,
abrem-se amplas janelas, numa linguagem aberta e
clara, a apontar factos da história da ciência e
de pesquisas recentes, realizadas um pouco por
todo o mundo.
Uma casuística fundamentada, rica e
impressionante sobre mediunidade, experiências
de quase-morte e fenómenos sugestivos de
reencarnação jorra em cascata proporcionando a
sua leitura um elevado prazer. Essa sequência,
muito bem explicada, conduz a observações
convergentes salientando todas elas "o peso do
conjunto de evidências".
Nos termos da própria obra, o livro “investiga
as evidências científicas sobre uma das questões
mais desafiadoras e difundidas ao longo dos
tempos, culturas e religiões: a sobrevivência da
consciência humana após a morte".
É adequada uma pausa. Olho para o horizonte e
presumo: "Que satisfação enorme sentiria Allan
Kardec ao passar os olhos por este livro!". Não
seria, entre os gigantes do passado, o único a
sentir essa alegria interior...
Se os leitores quiserem ver em vídeo a
apresentação da obra em Portugal ou em Espanha,
encontram entre outros vários links:
Caldas da Rainha (Portugal) - LINK-1
Barcelona (Espanha) - LINK-2
Noticiário da Radiotelevisão Portuguesa (RTP)
durante os dias do Simpósio Aquém e Além do
Cérebro (cidade do Porto) que decorreu na Casa
do Médico - LINK-3
Nota do autor:
A foto de Alexander
Moreira-Almeida é de autoria de Ulisses Lopes.
Jorge Gomes, escritor, ex-vice-presidente da
Federação Espírita Portuguesa e ex-editor do
Jornal de Espiritismo publicado pela ADEP -
Associação de Divulgadores de Espiritismo de
Portugal, da qual é membro, reside na cidade do
Porto, Portugal.