Como seguimos o
Cristo?
Allan Kardec,
em O
Evangelho
segundo o
Espiritismo, procura
trazer uma obra
que faça o
diálogo das
máximas morais
do Cristo com o
novo paradigma
trazido pelo
Espiritismo,
mostrando a
relação desse
novo mundo com o
que se tinha no
cristianismo em
relação aos seus
aspectos mais
universalizantes.
Ao ouvir dizer
por aí que o
Espiritismo é
cristão, uma
sentença
coerente, cabe a
pergunta
decorrente de a
que viés se
refere o uso da
expressão
cristianismo.
Kardec, na obra
citada, tem
muito cuidado em
relacionar o
Espiritismo a um
cristianismo
raiz, na sua
essência,
resumido sem
reducionismos a
ideia de amor ao
próximo.
Cabe recordar
que a Idade
Média presenciou
as cruzadas, uma
guerra sangrenta
em nome do
Cristo,
utilizando-se da
religião como
subterfúgio para
a ocupação de
terras, na busca
de interesses
econômicos e
geopolíticos. A
fé no Cristo
impulsionou
muitos a sair de
suas casas para
combater o
inimigo
muçulmano.
Também mais à
frente na
história, nos
tribunais da
inquisição, na
busca de
combater
inimigos, mais
uma vez o nome
do Cristo foi
utilizado para
torturar,
destruindo
famílias e
vidas, em uma
sanha
persecutória que
se expandiu não
só pela Europa,
mas também pelas
américas
colonizadas,
destruindo tudo
que não fosse o
padrão imposto.
O fenômeno da
escravidão
também recebeu a
benção dos
seguidores do
Cristo, que com
malabarismos
filosóficos, de
seres sem alma,
ou que não
fossem filhos de
Deus,
legitimaram a
dominação do
homem pelo
homem, repetindo
as crueldades da
tortura e da
opressão.
Outros eventos
lamentáveis da
história se
fizeram com a
benção e a
participação de
indivíduos que
ostentavam
símbolos e
palavras que
remetiam a
figura de Jesus.
Hoje ainda
desfilam cenas
inimagináveis
nas quais as
ideias do
Cristo, a sua
essência, são
deturpadas ao
limite, na busca
de acomodar toda
ordem de
interesse
político e
econômico.
Ao ouvir que o
Espiritismo é
cristão, faz-se
mais do que
necessário
identificar a
que cristianismo
está se
referindo. O
binômio
Espiritismo e
cristianismo
precisa ser
coerente, fazer
sentido. Não
pode o sentido
atribuído por
muitos a
mensagem do
Cristo, de
legitimação de
ódio e
violência, ser o
que se encaixa
no Espiritismo.
Não por outra
razão Kardec
escreveu uma
obra que fazia
esse diálogo,
para que não se
use retalho de
pano novo em
roupa velha.
O Espiritismo
traz em si
ideias
revolucionárias,
de múltiplas
existências e a
possibilidade de
se comunicar com
o mundo
espiritual.
Visões que mudam
a forma de
interpretar a
realidade,
inclusive em
relação às
questões
trazidas pela
mensagem do
Cristo, fazendo
luz sobre esses
fatos e
palavras. O
Espiritismo é a
lupa para
ressignificar
alguns aspectos
do cristianismo.
Mas, se o
caminho é o
inverso, e as
vicissitudes
interpretativas
do cristianismo
ao longo dos
séculos
contaminam o
Espiritismo,
mexendo na sua
essência, a
coerência se
perde, sendo
apenas a
repetição de
modelos que não
cabem mais no
mundo atual,
distantes da
essência da
mensagem do
meigo nazareno.
O Espiritismo
não é cristão
porque pretende
se agregar à
maioria, mas
porque, como
indica Kardec
em O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
existem ideais
convergentes, e
o Espiritismo
vem reforçar
aspectos
essenciais
trazidos pelo
conhecimento
evangélico. Uma
lição complexa,
e que em muitos
casos ainda
temos
dificuldades de
captar. Mas
chegaremos lá!