A Santa Morte
Durante os dias 1 e 2 de novembro, a população
mexicana comemora o Dia dos Mortos e festeja a
Santa Morte, com festas, bailes, comilanças,
altares domésticos com fotografias, imagens,
alimentos e bebidas, inclusive alcoólicas, que
oferecem aos seus mortos; e, ornamentando com
flores e velas seus túmulos, lotam os cemitérios
dia e noite. Para o povo mexicano que mantém
essa tradição secular, originária dos povos
Maias, Astecas, Olmecas, Zapotecas e Mexicas, os
mortos descem ao submundo para, depois,
ascenderem aos planos mais elevados. A morte
seria um passo para a transcendência, para ir a
um lugar melhor do que o plano físico, por isso
a morte é reverenciada e bem-vinda por ser uma
passagem de elevação. De acordo com os costumes
dos povos originários e transmitidos até os dias
atuais, a morte é uma transformação gradual, por
isso deve ser bem tratada e os seus parentes que
já morreram devem ser mantidos juntos de suas
casas e da família, e nesses ritos os familiares
dizem que realmente percebem as suas presenças
junto a eles.
De acordo com Arthur Conan Doyle, no livro História
do Espiritismo, o mundo espiritual para onde
vamos após a morte consiste de várias esferas
representando outros tantos graus de
luminosidade e de felicidade; cada um de nós irá
para aquela a que se adapta a nossa condição
espiritual.
Em o livro Nosso Lar (cap. 12, O Umbral,
psicografado por Chico Xavier), Lísias explica
ao espírito André Luiz que a vida continua mesmo
após o desencarne, e a grande maioria passa pelo
Umbral, uma zona de contato e passagem entre a
Crosta em que estamos situados no plano físico e
o mundo espiritual. Essa zona de queima de
resíduos mentais se inicia em nosso mundo e se
eleva em três camadas ao redor do Orbe (Cidade
no Além, Chico Xavier e Heigorina Cunha). O
Umbral começa na Crosta Terrestre, é a zona
obscura de quantos no mundo não se resolveram a
atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim
de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão
ou no pântano de erros numerosos. Muitos
espíritos próximos de reencarnarem prometem
cumprir o programa de serviços, entretanto
quando se efetiva a sua reencarnação buscam
somente a satisfação de seu egoísmo e suas
paixões. É neste ponto que se inicia o Umbral,
quando passamos a contrair novos débitos, além
de não cumprirmos os nossos compromissos
reencarnatórios, advindo daí todas as
consequências de nossas atuais escolhas,
assomando-se ao fato de que o programa que
traçamos antes de reencarnarmos está pendente de
ser resolvido. O Umbral não é o inferno
espírita, não é local de castigo divino, de zona
de sofrimento, de julgamento final, mas sim de
esgotamento de resíduos mentais, por isso há uma
estreita relação entre vivos e mortos. Ainda
para Lísias, o Umbral se caracteriza por grandes
perturbações em face da concentração de desejos
e tendências gerais, repletos de desencarnados e
formas-pensamentos dos encarnados
desequilibrados nas faixas do mal ou flagelados
em sofrimentos retificadores, mas todos vivos,
espiritualmente falando.
Quanto ao uso de alcoólicos aos espíritos
desencarnados, Lísias nos informa que a Colônia
Nosso Lar (Nosso Lar, cap. 9, Problemas
de Alimentação) lutava com dificuldades para
adaptar os seus habitantes às leis da
simplicidade. Queriam mesas lautas, bebidas
excitantes, dilatando velhos vícios terrenos. O
Governador lutou durante 30 anos consecutivos
expondo pessoalmente as objeções aos adversários
que provocavam perigosos distúrbios, provocando
cisões e dando ensejos ao assalto das multidões
obscuras do Umbral que tentaram invadir a
cidade. Não logrando êxito junto aos
recalcitrantes, determinou que funcionassem
todos os calabouços de regeneração com os seus
devidos isolamentos e após 6 meses a cidade
voltou ao normal, isto é, todo o serviço de
alimentação passou a obedecer a inexcedível
sobriedade, como medida de elevado alcance para
a libertação e elevação espiritual, sem a
utilização de etílicos.
Allan Kardec nos exorta em O Evangelho Segundo o
Espiritismo (Cap.3, Diferentes Estados da Alma)
que, conforme se ache o Espírito mais ou menos
depurado e desprendido dos laços materiais,
variarão ao infinito o meio em que ele se
encontre, o aspecto das coisas, as sensações que
experimente, as percepções que tenha. Enquanto
uns não podem se afastar da esfera onde viveram,
outros se elevam e percorrem o espaço e os
mundos.
Emmanuel, no prefácio de Obreiros da Vida
Eterna, nos afirma que o Espiritismo começou
o inapreciável fenômeno natural do caminho de
ascensão. Esferas múltiplas de atividade
espiritual interpenetram-se nos diversos setores
da existência. A morte não extingue a
colaboração amiga, o amparo mútuo, a intercessão
confortadora, o serviço evolutivo. As dimensões
vibratórias do Universo são infinitas, como
infinitos são os mundos que povoam a Imensidade.
Em O Livro dos Espíritos, na questão 234,
pergunta-se se há de fato mundos que servem de
estações ou pontos de repouso aos Espíritos
errantes. Kardec, por meio dos espíritos,
esclarece que sim, há mundos particularmente
destinados aos seres errantes que lhes podem
servir de habitação temporária, espécies de
bivaques, de campos onde descansem de uma longa
erraticidade.
De acordo com a Doutrina Espírita existe
somente a morte do corpo físico, que se exaure
por meio de doenças, acidentes ou esgotamento
físico proporcionado pela senectude fisiológica,
no entanto não existe verdadeiramente a morte lato
sensu, pois o espírito permanece vivo e
obedecendo às Leis Divinas aplicáveis a cada
caso. Segundo o médium espírita Divaldo Franco:
“o Espiritismo matou a morte, comprovando que
ela não existe e o Espírito é eterno”.
Portanto, conclusivamente não existem fatos que
justifiquem beatificar a Santa Morte, uma vez
que o fato de desencarnarmos não nos eleva ou
nos torna melhores ou superiores, bem como não
isenta o espírito de suas responsabilidades e de
atos praticados enquanto no vaso físico. Por
conseguinte, o fato de homenagear nossos entes
queridos, sem excessos, restringe-se ao aspecto
cultural de cada povo, mas tentarmos manter
acorrentados a nós os nossos familiares após o
decesso tumular não seria o ideal pelo risco de
se configurarem processos de obsessões, haja
vista que estamos fadados à evolução espiritual
e a buscar outras esferas evolutivas, tais como
colônias espirituais, mundos ditosos, etc., e
não ficarmos fixados em zonas umbralinas por
retenções de orgulho, vaidade, materialismo,
paixões, vícios e obsessões, o que denotaria
estarmos atrasando a nossa marcha espiritual
segundo nos ensina os Evangelhos do Cristo na
caminhada em direção a Deus.
Bibliografia:
XAVIER, Francisco Cândido, livro Obreiros
da Vida Eterna, ditado pelo Espírito André
Luiz, Prefácio de Emmanuel, 33 ed., 4ª
reimpressão, 2011, FEB.
XAVIER, Francisco Cândido e
Heigorina Cunha, Cidade no Além, ditado
pelos Espíritos André Luiz e Lúcius, Instituto
de Divulgação Espírita-IDE, 1999.
KARDEC, Allan. O Livro dos
Espíritos. Trad. Matheus Rodrigues de
Camargo, Editora EME, Capivari - São Paulo, 22ª
reimpressão, fevereiro/2018.
KARDEC, Allan. O Evangelho
Segundo o Espiritismo, Cap.3, parte 2,
Diferentes Estados da Alma na Erraticidade.
Tradução de Guillon Ribeiro, 124 ed. Rio de
Janeiro, 2006, FEB.
XAVIER, Francisco Cândido. Nosso
Lar, ditado pelo Espírito André Luiz. 59 ed.
Rio de Janeiro, 2007, FEB.
DOYLE, Arthur Conan, História
do Espiritismo, Editora O Pensamento, 488
páginas, 1926.
THE HISTORY CHANNEL 2, O
Peregrino, Repórter Jorge Said,
https:/www.history.com.
*Artigo selecionado pelo concurso
A Doutrina Explica 2023, promovido pelo Jornal
Brasília Espírita em parceria com a revista O
Consolador e a Web Rádio Estação da Luz.