Allan Kardec nunca existiu?
O célebre
pesquisador espírita russo Alexandre Aksakof, no artigo
Pesquisas sobre a Origem Históricas das Especulações
Reencarnacionistas dos Espiritualistas Franceses, artigo
originalmente publicado no periódico londrino The
Spiritualist Newspaper em 1875, faz uma grande
revelação sobre a origem do nome “Allan Kardec”:
- Como ele [O Livro dos Espíritos] também foi
anexado a um jornal importante, o L'Univers, ele
[Rivail] publicou seu livro com os nomes que ele teria
tido em suas duas existências anteriores. Um destes
nomes era Allan — revelado a ele pela senhora Japhet, e
o outro nome, Kardec, foi revelado a ele pelo médium
Roze.”
Então, o nome do codificador seria a junção de duas
encarnações do prof. Rivail. Nós, espíritas, aceitamos
que Allan Kardec foi uma das encarnações de Denizard
Rivail, mais pela tradição oral, pelo argumento de
autoridade do que pela escrita, pelas fontes históricas.
O primeiro biógrafo de Kardec, Henri Sausse (1851-1923),
afirmou em uma conferência comemorativa de sua
desencarnação, em 1896, que o fundador do Espiritismo
teria tido uma encarnação entre os celtas: “segundo lhe
revelara o guia, ele tivera ao tempo dos Druidas.” Um
detalhe: esse guia a que Sausse se refere é o Zéfiro (ou
Zephyr), espírito protetor de Rivail, segundo o
estudioso Eugenio Lara.
De acordo com a entrevista dada por Marlene Nobre a Folha
Espírita em junho de 1998 e reproduzida no livro A
Volta de Allan Kardec, a informação consta de um
documento escrito por Kardec que parou nas mãos do
pesquisador Canuto Abreu:
Folha Espírita: E a questão de Platão e Kardec?!
Marlene Nobre: Esse caso foi muito interessante. Dr.
Canuto Abreu mostrou a mim e ao Freitas um documento do
próprio punho de Kardec, no qual ele escreve mais ou
menos o seguinte: depois que Zéfiro me contou que eu fui
Platão é que pude compreender melhor a minha missão.
Ermance Dufaux lhe teria revelado sua outra reencarnação
como Jan Hus, e que mais detalhes poderiam ser
analisadom na obra Os Luminares Tchecos. São
muitas informações desencontradas.
Numa obra de 1867, Dictionnaire des Pseudonymes (Dicionário
de Pseudônimos), o autor Georges d'Heilly registra o
item "Allan Kardec", explicando que sua significação lhe
havia sido dada pelo próprio Rivail:
"Quanto à escolha de seu pseudônimo, ele próprio [Allan
Kardec] contou sua origem. Tinha-lhe sido revelado, diz
ele, pelos espíritos, que numa encarnação bem anterior à
vida presente, chamava-se realmente assim, e também,
como tal, foi chefe de um clã bretão no século XII." - Dictionnaire
des Pseudonymes, Georges D'Heilly - p. 7
No segundo volume da trilogia biográfica Allan Kardec, de
Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, encontramos a
transcrição de um manuscrito, escrito pelo próprio
codificador espírita, correspondente a uma carta
endereçada a um amigo (Sr. Tiedmen), manuscrito esse
então em posse do Dr. Canuto Abreu — cujo histórico
acervo mais tarde viria compor o Projeto Allan Kardec da
UFJF — e do qual extraímos o seguinte parágrafo:
"Duas palavras ainda a propósito do pseudônimo. Direi
primeiramente que neste assunto lancei mão de um
artifício, uma vez que dentre 100 escritores há sempre
3/4 que não são conhecidos por seus nomes verdadeiros,
com a só diferença de que a maior parte toma apelidos de
pura fantasia, enquanto que o pseudônimo Allan Kardec
guarda uma certa significação, podendo eu reivindicá-lo
como próprio em nome da Doutrina. Digo mais: ele engloba
todo um ensinamento cujo conhecimento por parte do
público reservo-me o direito de protelar... Existe,
ainda, um motivo que a tudo orienta: não tomei esta
atitude sem consultar os Espíritos, uma vez que nada
faço sem lhes ouvir a opinião. E isto o fiz por diversas
vezes e através de diferentes médiuns, e não somente
eles autorizaram esta medida, como também a aprovaram.”
- Allan Kardec - vol. II, Zêus Wantuil e
Francisco Thiesen - cap.6.
O nome próprio Allan Kardec é típico do idioma francês
do século XIX. Até hoje, não foi encontrado nenhum
registro histórico de um suposto sacerdote druida da
Gália antiga. Ausência de provas não é prova de
inexistência, diria Carl Sagan, mas também não se pode
afirmar a “existência” de um personagem que só existe na
“fala” e informações mediúnicas.
Muitos não sabem, mas Rivail usou outros pseudônimos.
No artigo "Un nouveau révélateur" ("Um novo
revelador") publicado no jornal La Pensée Nouvelle de
9 de junho de 1867, seu irônico articulista A. S. Morin
comenta: "É a uma revelação semelhante que o Sr. Kardec
deve o seu nome atual, antes deu à luz a vários outros:
foi Denizot (sic), Rivail, Villarius...". A propósito, o
periódico Le Dimanche, edição de 15 de novembro
de 1857, página 2, faz menção a Allan Kardec como sendo
"também chamado Valérius, outras vezes R..." —
possivelmente uma confusão do jornal quanta à grafia
desse "Valérius", querendo referir-se a "Villarius";
quanto ao R..., está patente se tratar de "Rivail".
É interessante observar a proximidade dos caracteres
"VILLARIUS" com "RIVAIL"; não está formado aqui um
anagrama perfeito (estão sobrando as letras "U", "S" e o
"L" repetido), mas talvez o professor Rivail quisesse de
alguma forma sinalizar uma reorganização dos caracteres
do seu principal sobrenome na confecção de um cognome.
Portanto, num cenário ainda hipotético — conquanto bem
plausível — Rivail adota o pseudônimo "Villarius" e
começa a distribuição de um volume experimental para uma
obra que desde há um bom tempo já planejava publicar; no
transcurso disso, sendo-lhe revelado detalhes de
vivências anteriores, ele então opta por passar a
assinar O Livro dos Espíritos com o pseudônimo
"Allan Kardec", dadas as revelações de suas vivências
anteriores.
Ao final desse artigo, me parece que o prof. Rivail usou
seu profundo conhecimento linguístico com informações
mediúnicas para “confeccionar” o nome Allan Kardec. Um
produto de manufatura etimológico e semântico que trazia
o significado de seu passado druida adequado ao francês
de sua época.
Na ausência de qualquer comprovação histórica desse
personagem, lembremos do próprio codificador que coloca
n’ O Livro dos Médiuns que “nomes não importam, o
conteúdo é o que qualifica a mensagem...”.
Fontes consultadas:
Site Letra Espírita.
Eugenio Lara.
O Spiritualist Journal
Of Psychological Science–
13 de Agosto de 1875.
|