O socorro a Mariazinha
No trabalho de atendimento aos Espíritos necessitados,
na sessão mediúnica daquele dia, compareceu um irmão
desencarnado em grande aflição.
Afirmava não ter pedido para estar ali, pois que não era
afeito às coisas de religião e nem a rezas, e na verdade
nem sabia fazer uma oração, pois que nada via de
interessante nessa prática.
Dizia ser uma criatura abominável, inescrupulosa e muito
perversa, uma vez que cultivava a maldade
constantemente.
Acolhido na Casa Espírita, fora atendido com muito
respeito e fraternidade e, mesmo assim, continuava
agressivo e insensível, pois segundo ele, diante da vida
que levou, carregava um peso enorme de culpas, porque
fora um matador de aluguel, que executava suas vítimas
sem piedade e tratava esse seu comportamento de execução
como um serviço.
O irmão encarnado que com ele mantinha o diálogo se
esforçava para informar que a Providência Divina a
ninguém desampara, não importando o tamanho e a dimensão
dos nossos erros, oferecendo na hora certa as
oportunidades de reparação dos males praticados.
O Espírito, contudo, se mantinha pouco afeito à
tratativa solidária que recebia.
Passado um curto período de tempo, enquanto, silencioso,
ouvia as palavras carinhosas que lhe eram endereçadas,
expressou-se lamentoso:
– Eu nunca fiz nada que prestasse para merecer esta
atenção de vocês...
Foi quando pela intuição o irmão orientador começou a
relatar:
– Mas, e a Mariazinha?
– Como assim, como você sabe da Mariazinha, quem lhe
contou isso?
E o nosso irmão prosseguiu no relato:
– Você e seus comandados viram, ao longe, um incêndio
numa cabana e para lá se dirigiram.
– Sim, fomos ver do que se tratava, mas não fomos nós
que colocamos fogo, esse crime não foi nosso...
– Chegando lá, identificaram uma família inteira morta,
menos uma pequena criança que saiu de dentro de uma
moita de capim, com os olhos arregalados e assustadiços.
Você foi até ela, a pegou no colo, colocou na cabeça do
arreio do seu cavalo e a levou para sua casa. Tanto você
quando a sua esposa se apaixonaram por ela e, como não
tinham filhos, a Mariazinha passou a ser sua filha
adotiva.
– Mas como você sabe disso? faz tanto tempo...
– A Mariazinha cresceu e se tornou uma bela jovem,
casando-se e lhe dando dois netinhos...
– Sim, eles foram a alegria da minha vida... Mas você
não me disse quem lhe contou essa história.
– Então, olhe para a frente e veja quem nos trouxe esses
relatos e rogou imensamente a Deus por você e para que
fosse acolhido nesta casa, esta noite.
– Não conheço este casal que se aproximou...
– Claro, naquele dia que você socorreu a Mariazinha eles
estavam mortos...São os pais da Mariazinha que têm por
você uma imensa gratidão, pelo acolhimento e carinho com
que cuidou da filha deles.
Entre lágrimas e muita emoção pais biológicos e pais
adotivos se abraçaram, uma vez que a esposa daquele
Espírito também estava presente.
***
Mesmo diante de uma vida de crimes e atrocidades, a
Providência Divina, com base em apenas uma única ação no
bem, encontrou recurso para socorrer o irmão atolado no
sofrimento.
Obviamente, ele responderá pelos atos infelizes
praticados, quando estiver pronto para isso, mas sempre
contando com a misericórdia de Deus.