“O verdadeiro crítico deve afastar-se das ideias
preconcebidas, despojar-se de qualquer
preconceito pois do contrário julgará de seu
ponto de vista, que talvez, nem seja justo.” (ALLAN
KARDEC)
Seremos bem objetivos, por isso citaremos
somente seis pontos com os quais julgamos formar
uma base para considerar o Espiritismo,
codificado por Allan Kardec (1804-1869), como
sendo uma religião, porém não no sentido que
comumente se dá ao termo, conforme ele deixou
bem claro.
1º) Primeira revelação da minha missão
Na data de 30 de abril de 1856, o prof. Denisard
Hippolyte Léon Rivail participava da sessão na
residência do Sr. Roustan, quando a médium Srta.
Japhet através da cesta de bico, escreve uma
mensagem, na qual ele é informado de sua missão,
destacamos este trecho:
[…] Deixará de haver religião e uma se fará
necessária, mas verdadeira, grande, bela e digna
do Criador… Os seus primeiros alicerces já
foram colocados… Quanto a ti, Rivail, a tua
missão é aí. (Livre, a cesta se voltou
rapidamente para o meu lado, como o teria feito
uma pessoa que me apontasse o dedo. […]. ()
(grifo nosso)
Portanto, a missão do prof. Rivail foi a de
trazer uma religião, que será única, grande,
bela e digna do Criador, não há como ignorar
essa importante informação.
2º) Minha missão
Em 7 de maio de 1856, na casa do Sr. Roustan,
através da médium Srta. Japhet, ocorreu uma
manifestação da qual trazemos o seguinte trecho:
Pergunta (a
Hahnemann) – Outro dia, disseram-me os Espíritos
que eu tinha uma importante missão a cumprir e
me indicaram o seu objeto. Desejaria saber se
confirmas isso.
Resposta –
Sim e, se observares as tuas aspirações e
tendências e o objeto quase constante das tuas
meditações, não te surpreenderás com o que te
foi dito. Tens que cumprir aquilo com que sonhas
desde longo tempo. É preciso que nisso
trabalhes ativamente, para estares pronto, pois
mais próximo do que pensas vem o dia. ()
(grifo nosso)
Cinco dias depois, ou seja, em 12 de maio, é o
próprio Espírito de Verdade, através da médium
Srta. Aline C…, quem confirma a Allan Kardec a
missão que fora incumbido, recomendando-lhe:
“Nunca, pois, fales da tua missão; seria a
maneira de a fazeres malograr-se. Ela somente
pode justificar-se pela obra realizada e tu
ainda nada fizeste.” ()
Para sabermos qual era o sonho do prof. Rivail,
a que o Espírito Hahnemann se referiu, vamos
trazer da obra A Imagem da Luz – A
presença do Cristo nas Três Revelações este
trecho transcrito do Dicionário Lachâtre de autoria
de Maurice Lachâtre (1814-1900):
Nascido na religião católica, mas educado num
país protestante, os atos de intolerância que
ele teve de suportar a esse respeito
fizeram-no, desde a idade de quinze anos,
conceber a ideia de uma reforma religiosa,
na qual trabalhou em silêncio durante longos
anos, com o pensamento de chegar à unificação
das crenças; mas faltou-lhe o elemento
necessário para a solução desse grande problema.
O Espiritismo veio, mais tarde, fornecer-lhe e
imprimir uma direção especial aos seus
trabalhos. […]. ()
(grifo e sublinhado nosso)
Agora sim, esta frase dita Hahnemann a respeito
do prof. Rivail faz todo o sentido: “Tens que
cumprir aquilo com que sonhas desde longo
tempo.”
3º) A primeira definição de Allan Kardec
Na obra O Que é o Espiritismo, publicada
em 15 de julho de 1859, bem no início da
Codificação, Allan Kardec o define da seguinte
forma:
[…] O Espiritismo é a doutrina fundada sobre
a existência dos Espíritos, ou seres incorpóreos
do mundo invisível, e suas relações com o mundo
corporal. Podemos também dizer que: o
Espiritismo é a ciência de tudo o que se refere
ao conhecimento dos Espíritos ou do mundo
invisível. ()
(itálico do original, negrito nosso)
Não se pode esquecer que à época da publicação,
fora os fascículos da Revista Espírita, o
Codificador só havia publicado duas obras: O
Livro dos Espíritos e Instrução Prática
sobre as Manifestações dos Espíritos que,
posteriormente, foi substituído por O Livro
dos Médiuns. Conforme veremos no item 6º,
quando próximo ao desencarne, especificamente,
ao raiar o mês novembro de 1868, ele deixaria
bem clara a questão, talvez já percebendo a
importância disso em razão da polêmica que se
instalaria no movimento espírita, não mais o
termo ciência seria citado.
4º) O propósito do Espiritismo
Allan Kardec estava trabalhando para a
publicação de um novo livro – O Evangelho
Segundo o Espiritismo –, quando, em 9 de
agosto de 1863, recebe uma orientação sobre o
Espiritismo, e é informado do seu real objetivo,
a nosso ver ela é de autoria de Erasto:
Aproxima-se a hora em que te será necessário
apresentar o Espiritismo qual ele é, mostrando a
todos onde se encontra a verdadeira doutrina
ensinada pelo Cristo. Aproxima-se a hora em
que, à face do céu e da Terra, terás de
proclamar que o Espiritismo é a única
tradição verdadeiramente cristã, a única
instituição verdadeiramente divina e humana.
[…]. ()
(grifo nosso)
Se o Espiritismo representa a verdadeira
doutrina ensinada pelo Cristo, e por isso “é a
única tradição verdadeiramente cristã”, logo,
não temos como não o ver como sendo uma
religião.
(O presente artigo será concluído
na próxima edição.)