Em 1939, o crítico literário mais rigoroso da época,
Agripino Grieco, católico convicto, decidiu conhecer de
perto o fenômeno de Pedro Leopoldo. O autor do livro Francisco
de Assis e a Poesia Cristã fez o sinal-da-cruz e foi
até um centro kardecista em Belo Horizonte, onde o Chico
Xavier exibiria seus dotes.
O médium tinha acabado de lançar um livro com textos de Humberto
de Campos (espírito), Crônicas de Além-Túmulo - o quarto
da série de trinta títulos, e Agripino, ex-colega do jornalista
e escritor, queria checar a honestidade do mineiro que tinha a
petulância de se apresentar como representante do morto.
O salão estava lotado. Os auxiliares de Chico, avisados da
presença de crítico tão ilustre, providenciaram uma cadeira para
ele ao lado do médium. O recém-chegado enterrou os olhos no
rapaz e registrou, em silêncio, as primeiras impressões: "Um
mestiço magro, meão de altura, com os cabelos bastante crespos e
uma ligeira mancha esbranquiçada num dos olhos". Em seguida,
rubricou, a pedido do orientador da sessão, vinte folhas de
papel em branco, destinadas aos garranchos de Chico Xavier. As
rubricas afastariam a suspeita de substituição do texto.
Segundos depois, o médium fechou os olhos e o lápis disparou
sobre a papelada em velocidade impressionante.
Primeiro, apareceu um soneto assinado por Augusto dos Anjos.
Depois, foi a vez de uma crônica assinada por Humberto de
Campos. O crítico ficou perplexo. Em entrevista ao jornal Diário
da Tarde, em 31 de julho, confessou: "Tendo lido as paródias
de Paul Reboux e Charles Muller, julgo ser difícil levar tão
longe a técnica do pastiche. De qualquer modo, o assunto exige
estudos mais detalhados, a que não me posso dar agora..."
Cinco dias depois, falou ao Diário Mercantil sobre a
"profunda emoção" de reencontrar as ideias e estilos do amigo
Humberto de Campos. Ainda estava confuso: "Pastiche?
Mistificação? Imitação? Não nos reportemos somente a isso. O que
não me deixou dúvidas, sob o ponto de vista literário, foi a
constatação fácil da linguagem inconfundível de Humberto na
página que li..."
No dia 21 de setembro, Agripino dava sinais de perplexidade
crônica em entrevista ao Diário da Noite: Francisco
Cândido Xavier compôs o texto com uma agilidade que não teria o
mais desenvolto dos escreventes de cartório. Fiquei naturalmente
aturdido. Depois disso, já muitos dias decorreram e não sei como
elucidar o caso. Fenômeno nervoso? Intervenção extra-humana?
Faltam-me estudos especializados para concluir.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior
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