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por Bruno Abreu

 

O autoconhecimento


A maioria das pessoas anseiam uma vida de paz e amor. Por verem o mundo tão violento e cheio de problemas, apegam-se à esperança de encontrarem um futuro diferente. A descrença na possibilidade de uma vida em paz repleta de amor e felicidade na Terra é tão intensa que dão um enorme valor às ilusões religiosas de um paraíso futuro, após a morte. Esta ideia é uma fonte energética à ociosidade no ser humano, pois alimenta o conceito de que não temos nada a fazer senão esperar o tempo passar.

Jesus ensina-nos que a primeira tarefa a fazer na vida terrena é a busca do Reino de Deus. Esse Reino não é um local físico, mas está “dentro” de nós. O reino de Deus não estará a nossa espera quando morrermos, não chegará a nós, mas temos que sermos nós a procurá-lo.

Temos de colocar as seguintes questões. O que é o Reino de Deus? Por que vivemos fora do Reino de Deus, que está em nós, e nem nos apercebemos disso? Por que não percebemos que o Reino de Deus está em nós?

O Reino de Deus tem de ser cheio de paz, amor e harmonia, senão não tem sentido.

Às duas últimas, podemos responder que, segundo o Mestre Jesus, vivemos em uma enorme ilusão e que um dia conheceremos a Verdade e esta nos libertará.

Esta ilusão está na humanidade, pois temos todos forma de pensar e agir idênticas, vemos as coisas de forma semelhante. Se a ilusão está na humanidade, logicamente está em nós, embora não a consigamos perceber.

Isso coloca-nos num ponto de situação que nos diz o seguinte.

Estamos em ilusão, não a percebemos, pois se a percebêssemos não estaríamos nela, mas tem de existir uma forma de a percecionarmos, pois, o Mestre disse-nos que um dia saberíamos a verdade.

Para percebermos sobre algo temos de dedicar a nossa atenção a esse algo.

Neste caso, queremos perceber sobre a ilusão em que vivemos e encontrar o Reino de Deus, como tal, temos de colocar a nossa atenção sobre nós próprios.

Este é o mais profundo nível de autoconhecimento a que devemos chegar, conhecer a humanidade completa através de nós. Nós estamos habituados a olhar para o autoconhecimento como a tarefa de nos conhecermos a nós, no sentido de nosso feitio, nossa forma de estar, mas o autoconhecimento a que devemos chegar ultrapassa essa forma e chega à profundidade de conhecermos o que somos, como funcionamos, para que possamos perceber a ilusão que está instalada na humanidade.

Estamos habituados a olhar para o autoconhecimento para perceber o que mais gostamos, ou se somos uma pessoa orgulhosa, se somos agressivos e o que nos faz ser agressivos, mas existe muito mais para perceber, se queremos mudar e nos aproximar do Reino de Deus.

A um nível mais superficial é importante sabermos se somos orgulhosos, mas a um nível mais profundo podemos saber o que é o orgulho e cortarmos esse movimento mental de nós próprios. A um nível superficial, podemos ver que somos agressivos, mas a um nível mais profundo saber o que é a agressividade, como se movimenta, porque nos manipula e cortarmos esse movimento da mente por plena consciência deste.

O autoconhecimento ultrapassa saber o que gostamos, leva-nos a compreender o que é gostar de algo, ultrapassa saber quem amamos, mas mostra-nos o que é o amor, é sabermos o que nos movimenta, o que nos constitui, quem somos realmente, não na teoria, mas na consciência da realidade. Por isto Jesus nos diz que a primeira tarefa é a Busca do Reino de Deus e que está em nós.

A crença do que somos na Terra tem-nos cegado, travado e aprisionado dentro da ilusão que nos tem escravizado e levado a autodestruição.

Só um estudo minucioso sobre nós próprios, através de uma observação constante nos poderá levar a perceber este funcionamento ilusório. Não existe forma de ser explicado, senão já o teria sido, pelos sábios que passaram pela Terra. O conhecimento da verdade cabe a cada um, através do caminho do autoconhecimento.

A consciência da verdade que Jesus tinha em relação a nossa, é tão grande que na altura que era massacrado pede a nosso Pai que nos perdoe pois não sabíamos o que fazíamos.

A busca do Reino de Deus é através do autoconhecimento, para que possamos descobrir quem somos, o que somos, para tal temos de perceber o que nos movimenta e porque nos movimenta.

A atenção a nós próprios é o único caminho para o Autoconhecimento, que Jesus nos indica através do Vigiar. Esta vigia sobre nós não é de vez em quando, mas uma vigia, que tem de ser constante.

O maior obstáculo a este trabalho intenso, é a ideia de que nos conhecemos, mesmo em uma época como a nossa, em que as doenças psíquicas, como a depressão são uma epidemia, trazendo um conhecimento prático de que não temos controle sobre as mentes a que chamamos de nossas, achamos que nos conhecemos.

Para iniciarmos esta tarefa do autoconhecimento temos de abdicar da ideia de que nos conhecemos, o que se pode tornar tão assustador.

Quando abdicamos desta ideia que nos tem prendido e o susto passa, acontece a humildade necessária ao início desta tarefa para que a possamos executar com a atenção necessária a uma consciência desperta para o autoconhecimento ou conhecimento sobre humanidade.

Para esta tarefa a nossa estrela norteadora deve ser viver em harmonia e amor com todos, onde estamos incluídos, tal como o grande mandamento de Jesus. Se não está a acontecer, não devemos dar desculpas a nós próprios, mas continuar o nosso percurso de autoconhecimento para percebermos o que nos ilude para não vivermos segundo o mandamento deixado pelo Mestre.

Se culpabilizamos a vida, a situação ou os outros, estamos no caminho errado, pois o Mestre em situação tão horrível, como pregado em uma cruz e vandalizado, amava-nos e pedia perdão por nós, estando em harmonia e amor.

Para abandonarmos a ilusão que nos trava, temos de ir percebendo a verdade que nos passa despercebida.


Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.
 


 

 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita