Um amigo de Chico Xavier o abordou com o seguinte caso:
“Eu sinto, Chico, que a juventude de hoje não aceita assim uma
espécie de imposição dos pais. Ainda recentemente, vi um casal
muito amigo meu, que tem um casalzinho de filhos, e o pai, assim
muito discretamente, disse:
– Meu filho, eu acho que você deveria fazer uma visita para
fulano de tal.
Então, ele virou-se, muito petulantezinho, com o nariz
arrebitado, e respondeu assim:
– Esse negócio de ‘deveria’ não é comigo, pai. Eu acho que devo
ir quando eu achar que devo.
Quer dizer que eles não aceitam mais a palavra dos pais, não
aceitam mais um caminho que o pai está mostrando.
Por que será isso, Chico? Será que eles acham que têm que ter o
seu mundo próprio, as suas deliberações e seus encaminhamentos?
Será que eles estão no caminho certo?”
Chico Xavier, com a calma de sempre, respondeu:
– Não podemos esquecer que os nossos amigos da juventude guardam
o direito de serem eles mesmos e de se realizarem por si.
Admitimos desse modo que estamos numa época de muito diálogo e
de muito entendimento fora daqueles momentos em que acontecem os
grandes desastres sentimentais. Dizemos isso porque quase que de
modo absoluto, os pais – isso em nos referindo aos pais, no
sentido de pais-homens – se dedicam e só têm entrada num
entendimento mais longo com os filhos, numa ocasião de acidentes
do coração. Precisamos dialogar com os nossos companheiros de
juventude, para que se sintam responsáveis por eles mesmos,
façam as suas próprias escolhas, tornando-se criaturas úteis ao
campo que vieram para servir, que é o campo da humanidade,
dentro do qual eles nasceram ou renasceram. Atualmente, nesse
sentido, vemos muitas dificuldades e distúrbios, porque o
momento, obviamente, é de grandes transformações. Os próprios
jovens estão vendo quantos desastres estão surgindo para todos
aqueles que se sentem ainda não livres, mas que querem ser
demasiadamente livres do lar, dos pais, da família, da
influência doméstica, antes de algum amadurecimento do
raciocínio. Os jornais estão repletos de informações em que
tantos jovens-meninos têm caído em ciladas lastimáveis, por
haverem abandonado a influência doméstica, sem maior
consideração. Esperemos que nossos rapazes e meninas-moças
pensem por si, porque não desejamos retirar deles a liberdade de
serem eles mesmos.
Do livro A Terra e o Semeador –
Entrevistas, de Chico Xavier e Emmanuel.
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