Tomates e laranjas
O tomate, essa fruta deliciosa utilizada nas saladas,
sucos e outras criações gastronômicas, já foi
considerado um veneno. Nos idos de 1700, pela crença de
que ele era amaldiçoado pela culinária, era utilizado em
decorações de festas e bailes da alta classe europeia,
por seu escarlate, que atraía os olhares dos convivas.
É bem verdade que, a exemplo de outras solanáceas, o
tomate contém solanina, uma toxina natural, que pode ter
provocado recusa para sua ingestão. No entanto, a versão
predominante, que não invalida a da solanina, começou
com os ingleses, que serviam a fruta em pratos de
estanho. O problema é que nesses utensílios havia traços
de chumbo. Como o tomate é ácido, retirava
involuntariamente o chumbo dos pratos e passava-os aos
alimentos por reações químicas.
Parece que muitas de nossas atitudes são envoltas por
uma substância de chumbo, que azeda nossos atos.
Por que isso acontece? Talvez outra metáfora nos ajude a
descobrir.
Wayne Dyer, autor do livro Seus pontos fracos,
certa vez, em uma de suas palestras, surpreendeu a todos
quando apresentou uma laranja. Começou a dialogar com um
garoto de 12 anos, que estava sentado na primeira fila.
— Se eu apertasse essa laranja, o mais forte que
pudesse, o que sairia dela? — perguntou Dyer.
— Suco de laranja, é claro! — respondeu o menino.
— Por quê? — tornou a falar Dyer.
— Ora, porque é uma laranja e é isso que está dentro
dela.
— Vamos supor que essa laranja seja você. Imagine que
alguém aperta você, pressiona você, diz algo que você
não gosta e o ofende. E de dentro de você vem raiva,
ira, ressentimento e ódio. Por que isso saiu? Porque é
isso que está no seu interior. Se alguém fizer ou falar
algo que você não gosta, o que tem do lado de dentro vai
sair.
Quer dizer, amigo leitor, que somos escravos da
substância de chumbo, que existe em nosso interior, que contamina nossa
parte boa? Negativo!
Tudo depende das nossas escolhas. Se nada além de amor,
empatia, generosidade, gentileza, compreensão e
paciência sair de nosso interior, é porque assim
determinamos e permitimos.
Se preenchermos o nosso interior com coisas positivas,
anularemos a barreira de chumbo que contagia boas
palavras e atitudes boas. As coisas negativas não terão
mais espaço e gradativamente diminuirão. Cultivemos o
nosso interior, preenchamo-lo com ervas essenciais e as
ervas daninhas não mais surgirão.
Os pensamentos e sentimentos tóxicos são prejudiciais à
nossa saúde mental, física e espiritual. Quem é o
primeiro a sofrer com a maledicência, com a inveja, com
o cisco do olho alheio? Nós mesmos é que seremos
afetados por essas emoções do nosso interior.
Fiquemos com Paulo Colossenses, 3:13, aqui
interpretado por Emmanuel:
— Suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns
aos outros, se algum tiver queixa; assim como o Cristo
vos perdoou, assim fazei vós também.
Relembra-nos o nobre mentor de Chico Xavier que
precisamos cultivar a renúncia aos pequenos gestos e
desejos para estruturamos a sublimação, em alto nível.
Elevação, ajuda e tolerância para com os outros retornam
com velocidade superior à da luz para o nosso interior.