Cinco-marias

por Eugênia Pickina

 

O brincar precisa ser livre…


Natureza da gente não cabe em nenhuma certeza
. Guimarães Rosa


Experimentei, na infância, muitas quedas e machucados. Meus pais toleravam os filhos pequenos, na hora das brincadeiras, vivenciarem certos riscos. Consideravam importante aprender a subir em árvores, andar a cavalo, andar de bicicleta, aventurar-se no parquinho, apesar do risco de quedas.

Óbvio. Quando me refiro a correr riscos, não estou pensando em deixar uma criança suscetível a acidentes ou colocar sua vida e saúde em real perigo. A ideia aqui é simplesmente não se comportar o adulto, o que acompanha a criança, com um excesso de zelo, impedindo-a, por exemplo, de subir em árvores, jogar bola, correr no quintal ou no parque, ainda que esteja assistida pela sua supervisão discreta.

O que me assusta é ver a criança muito protegida. Emparedada. Proibida de aprender a andar de patins, correr descalça na grama ou decidir jogar bola na pracinha.

Muitas brincadeiras dão às crianças a vivência da coragem, determinação e até mesmo o choro quando há o tombo inesperado. Tudo isso é importante, positivo, para uma vida mais saudável, incentivando o treino de habilidades sociais diversas, a superação de desafios, decepções, frustrações, segundo um cardápio muito presente na vida de um ser humano… Afinal, como bem alertou Guimarães Rosa: “de sofrer e de amar, a gente não se desfaz”.

O brincar livre e as atividades que testem imaginação, criatividade e determinação, por exemplo - as brincadeiras que ocorrem na pracinha, no parquinho, no quintal etc. -, promovem uma série de benefícios para as crianças, ajudando-as a crescer mais seguras e conscientes de seus recursos.

Infelizmente, a criança muito protegida, cujas dinâmicas lúdicas são muito restritivas, não conseguirá incorporar lições colhidas do brincar destinadas à fundação da autonomia. Crescerão dependentes, assustadas, inseguras e, muitas vezes, influenciáveis pela vontade alheia.

No dia a dia não queremos que nossos filhos se machuquem ou sofram. Contudo, precisamos ter em mente que nem sempre vamos estar por perto e, por isso, é essencial preparar nossos filhos desde cedo para a independência, mesmo que seja doloroso às vezes vê-los cair da bicicleta, machucar o dedo, arranhar o joelho…


 
 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita