Entrevista

por Orson Peter Carrara

Vestes e toque – uma reflexão sobre a cura da mulher hemorroíssa

 
Natural de Jaboticabal (SP), onde reside, Denise Aparecida Zeoula Ferreira David (foto) é empresária no ramo de locação de imóveis residenciais e vincula-se ao Centro Espírita Universal (CEU) e União Espírita Nosso Lar (UNENLAR), situados ambos na mesma cidade. Ela integra o Conselho Fiscal da primeira delas. Coordenadora de grupos de estudos e palestrante espírita, entrevistamo-la sobre o episódio da mulher hemorroíssa, narrado pelos evangelistas, sobre o qual a entrevistada tece várias e importantes considerações.

 

Inicialmente perguntamos: como você se tornou espírita?

Nasci em uma família católica, porém, não encontrando respostas às minhas indagações, certo dia resolvi ir a uma palestra na UNENLAR (União Espírita Nosso Lar), momento em que senti ter encontrado um oásis de consolo, esperança e esclarecimento em meio a uma vida de inseguranças e dúvidas. Assim, desde o ano de 1997, venho estudando esta tão amada Doutrina, esforçando-me em colocá-la em meu dia a dia, me permitindo alcançar paz e consolo.

Os evangelistas Marcos, Mateus e Lucas trazem a narrativa da mulher hemorroíssa. Qual a maior lição a ser extraída dessa conhecida citação?

A maior lição que podemos tirar trata-se da perseverança, coragem e fé ativa dessa mulher que, nem por um segundo, deixou-se abater diante das dificuldades de doze anos de sofrimentos que a hemorragia lhe causava.

O fato do toque nas vestes de Jesus apresenta qual significado?

Naquele tempo, a sua enfermidade lhe acarretava uma grande rejeição, tendo em vista que seu sangramento a tornava impura para as leis da época. Ao ouvir falar do poder curativo de Jesus, pensou que, tocando em suas vestes, poderia ser curada de sua doença e, ainda, passar a ser incluída novamente na sociedade, estando em conformidade às leis.

Como entender a expressão “alguém me tocou”?

Quando a mulher o tocou, imediatamente Jesus sentiu um contato diferenciado, pois, embora muitos na multidão o tocassem, tal contato estava alinhado à sua sintonia, porque sua intenção era alcançar seu coração, tamanha era sua fé.

E a reação de Pedro à indagação de Jesus? Que lição se apresenta nesse comportamento?

O principal objetivo dos discípulos que ali acompanhavam Jesus era protegê-lo fisicamente. No entanto, não percebiam as necessidades individuais das pessoas que ali estavam. Pedro, esclarecendo a Jesus que todos ali o estavam comprimindo, não compreendeu a indagação do Mestre, devido à sua insensibilidade emocional que até então não estava amadurecida.

E quanto à afirmação de Jesus de que “dele havia saído poder”?

Jesus irradiava todas as potencialidades de um Espírito Puro e, ao sentir o toque daquela mulher, com tanta intensidade, sua percepção aflorou imediatamente, atraindo-lhe a atenção em face da fé aspirante da filha sofredora.

Qual ensinamento podemos tirar da conexão entre as vestes e o toque?

Nas bordas das vestes de todo judeu daquela época, colocavam-se franjas com um cordão azul da cor do céu, cujo significado demonstrava os mandamentos da lei de Deus.  Por este motivo, a mulher sabia exatamente onde tocar Jesus, pois queria entrar em conexão com o Pai e, ainda, ter a oportunidade de ser curada.

E o carinho da expressão “Filha!”?

Jesus curou a mulher em suas necessidades orgânicas e, chamando-a também de filha, quis curá-la socialmente, pois, assim, a introduziu novamente na sociedade, porque sua doença a colocava em total isolamento e rejeição. Podemos reconhecer sua ascensão nos termos utilizados pelo evangelista, que no início do texto se refere a ela como "aquela mulher" e termina com a fala de Jesus chamando-a de "filha". Interessante lembrarmos que, de todas as curas do Mestre das quais temos relatos históricos, esta é a única em que Ele chama o enfermo de "filha".

Sobre a cura instantânea, como entender esse mecanismo?

Conforme nos explica Allan Kardec, no livro A Gênese (capítulo XV, item 11), a cura instantânea se deve ao "movimento fluídico que se operava de Jesus para a doente, pois ambos experimentaram a ação que acabara de produzir-se". Ainda segundo a obra, "é de notar-se que o efeito não foi provocado por nenhum ato da vontade de Jesus. (...) Bastou a irradiação fluídica normal para realizar a cura. Com relação à corrente fluídica, o primeiro [Jesus] age como uma bomba premente, e o segundo [a mulher] como uma bomba aspirante". Portanto, Jesus é uma fonte inesgotável de poder curativo, contudo isso depende da fé de quem o procura.

Um episódio como esse, no meio de uma multidão, aos olhos de todos, o que representa para nosso entendimento nos dias atuais?

Essa passagem visa a nos ensinar que, em meio às maiores adversidades que enfrentamos diariamente, jamais podemos perder a fé, a confiança e a coragem para alcançarmos a solução de nossos problemas. Assim, devemos ter em Jesus o nosso guia e modelo para toda a nossa vida.

Como você classifica a iniciativa da mulher? Coragem, fé, iniciativa?

Essa mulher já tinha perdido tudo, materialmente falando. Porém, sua fé inabalável fez com que ela adquirisse forças para atravessar o mar da Galileia, saindo de sua cidade, Cesareia de Felipe, até Cafarnaum. Portanto, podemos classificar sua iniciativa como um ato de coragem, perseverança e fé divina, acreditando em suas potencialidades humanas, conforme nos lembra O Evangelho segundo o Espiritismo, no capítulo XIX "A fé transporta montanhas", item 12: a fé humana e a fé divina.

Esse buscar fervoroso da cura junto ao Mestre – “se eu apenas lhe tocar nas vestes serei curada” – que demonstra para os desafios da atualidade?

Como podemos usá-lo nos desafios continuados que todos enfrentamos?  Tal conduta demonstra o reconhecimento que devemos ter no intenso e imenso poder de Jesus, e acreditar, deste modo, nas seguintes palavras estimulantes do Mestre: "vós sois deuses (...), vós sois a Luz do Mundo (...), vós sois o Sol da Terra".                    

Suas palavras finais.

Gostaria que minhas palavras alcançassem os corações daqueles que sofrem sem esperança de dias melhores, podendo encontrar na Doutrina Espírita um alento de esperança. Conforme nos ensina o Espírito Emmanuel no livro Fonte Viva, capítulo 45, "que nossa atividade, dentro da vida, produza muito fruto de paz e sabedoria, amor e esperança, fé e alegria, justiça e misericórdia, em trabalho pessoal digno e constante, porquanto somente assim o Pai será por nós glorificado, e só nessa condição seremos discípulos do Mestre Redivivo".

Agradeço pela oportunidade, confiança e estímulo em propagar os ensinamentos de Jesus.

Fiquem todos com Deus. Tenham fé e... Prossigamos!

 
 

 

     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita