Orientações evangélico-doutrinárias no
ambiente de trabalho
Ensinam os
Espíritos ser missão dos encarnados trabalhar para o
aperfeiçoamento uns dos outros e de suas instituições.
Ambos os encargos aparecem lado a lado, em razão da
feição sociointeracionista das criaturas, que na relação
com o meio e com seus pares desenvolvem-se.
No interior das instituições as relações ocorrem a todo
tempo impondo aos indivíduos o convívio uns com os
outros, desafiando-os em seus vícios e virtudes.
Danielle Marques dos
Ramos e Virgílio Gomes do Nascimento, em sucinto exame
sobre a família, trataram do conceito de instituição:
Foi Hegel quem deu destaque às instituições colocando-as
na posição de fundadoras da sociedade (LOURAU, 1996).
Sem as instituições a vida social seria impossível, pois
elas servem de fonte norteadora para o que é permitido
ou não; são elas que limitam a ação do indivíduo dentro
de um espectro em que a racionalidade seja valorizada;
sem as instituições o ser humano viveria na natureza
levado apenas por seus instintos mais básicos: sede,
fome, sexo, descanso. Portanto, as instituições são
criações humanas para regulação de seu convívio social,
ou, nas palavras de Durkheim (apud SCOTT, 1996,
p. 10), "são produtos da interação humana".
Destacaram, ainda, que
mencionado conceito é tido por muitos autores como algo
complexo, sendo muitas vezes tratado como sinônimo de organização.
No entanto, isto não será empecilho para o desenrolar
deste modesto ensaio. Como ensina Kardec na
presença de um “(...) objetivo tão importante,
seria pueril fazer uma questão de princípio de uma
questão de palavra. Isto provaria que se liga mais
importância às palavras do que à coisa.”
Empresas, órgãos públicos e entidades são ambientes de
trabalho onde desenvolvem-se diariamente, no interior e
fora de suas delimitações físicas, relações sociais de
poder, hierarquia e cooperação regidas por um conjunto
de normas e princípios, a orientarem seus integrantes na
realização de seu escopo institucional.
Celeiro de relações
sociais, mencionadas organizações coletivas naturalmente
impõem a seus integrantes convivência direta e
aproximada, a lhes reivindicar um dever. Aqui falamos do
dever moral e não o imposto pelas profissões. Daquele
que “(...)
principia, para cada um de vós, exatamente no ponto em
que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do vosso
próximo; acaba no limite que não desejais ninguém
transponha com relação a vós.”
Este íntimo encargo moral, entregue ao livre-arbítrio do
ser e regulado pelo aguilhão de sua consciência, é
efeito de sua condição de obra da Criação, sendo norte
em todas as suas relações sociais, incluindo a
profissional.
Desta forma, é possível importar de maneira crítica as
exortações evangélico-doutrinárias para um manual de
postura do indivíduo perante o seu trabalho.
Vejamos, então, algumas destas recomendações.
Não devemos falar mal do local de trabalho, pois
é preciso recordar que aonde nos encontramos e com quem
convivemos resulta da iniciativa do Poder Maior, que nos
supervisiona os caminhos. É preciso nos manter fieis aos
desígnios divinos atendendo as obrigações que nos foram
reservadas. Paulo ressalta que cada despenseiro deve
se manter fiel.
Devemos nos abster da fofoca e da maledicência no
ambiente de trabalho pois,
não pode a língua estar a serviço de nossos melindres e
leviandades, bem como não nos compete a condição de
críticos de Deus, mas, a de cooperador. Assim nos
alertou Tiago:
“Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de
um irmão, fala mal da lei e julga a lei; e, se tu julgas
a lei, já não és observador da lei, mas juiz.” (Tiago,
4:11.)
O mau humor e o azedume no ambiente de trabalho dever
ser evitado pela aceitação das adversidades do dia e
para prevenirmos o contagio espiritual
e emocional do meio e dos colegas de trabalho. Paulo nos
alertou que não devemos nos deixar vencer pelo mal.
A insubordinação no ambiente de trabalho olvida
os deveres sagrados do subalterno. O Espiritismo nos
ensina a resignação em relação à nossa atual posição,
nos lembrando ser ela prova para a humildade necessária
ao nosso adiantamento. Jesus nos ensinou que devemos
dar “(...) a
César o que é de César e a Deus o que é de Deus.”
(Mateus, 22:15).
Imprescindível a cooperação através do trabalho em
equipe a
nos recordar que devemos executar da melhor maneira
possível a missão que nos foi confiada. Pois nisto, como
nos lembra o Mestre Jesus, “(...)
todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos
amardes uns aos outros.” (João, 13:35.)
A soberba no ambiente do trabalho também
deve ser afastada. Cristo nos ensinou que a humildade é
a virtude a desencadear todas as outras.
“Quando fores convidado por alguém para um casamento,
não te reclines no primeiro lugar, para que não aconteça
que alguém mais digno do que tu tenha sido convidado e
quem convidou a ti e a ele venha a te dizer: ‘Dá o lugar
a este’. Então irás, envergonhado, ocupar o último
lugar.” (Evangelho de Lc,14: 8-10)
Quando líderes no ambiente profissional devemos
compreender que a autoridade é uma delegação de que
teremos de prestas contas. Seu exercício deverá ser
providencial. Não se pode descurar dos subordinados
quanto à fixação da boa diretriz e do bom exemplo, bem
como no que toca ao adequado tratamento a eles
dispensado.
Assim nos orienta o Mestre:
Se alguém deseja ser o primeiro, será o último, e servo
de todos”. (Marcos, 9:35)
Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas
ovelhas.” (João 10:11)
Se em nosso ambiente profissional Deus nos testa com um
adversário e a perseguição lembremos
que amar um inimigo é a mais sublime aplicação do
princípio da caridade, pois, representa autossuperação,
uma vitória sobre o orgulho e o egoísmo.
“Aprendestes que foi dito: “Amareis o vosso próximo e
odiareis os vossos inimigos.” Eu, porém, vos digo: “Amai
os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e
orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes
filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se
levante o Sol para os bons e para os maus e que chova
sobre os justos e os injustos. Porque, se só amardes os
que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem
assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos
saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os
outros? Não fazem outro tanto os pagãos?” (Mateus, 5:43
a 47.)
No ambiente profissional, o encarnado tem a oportunidade
de, através da observância dos preceitos cristãos,
auxiliar o progresso do outro e da instituição a qual
esteja vinculado. Ocupação sem fruto é ofício sem
utilidade.
Referências bibliográficas:
DIAS, Haroldo Dutra (Trad.), 1971- O novo
testamento, tradução de Haroldo Dutra Dias. – 1. ed. –
11. imp. – Brasília: FEB, 2020.
KARDEC Allan. O Evangelho segundo o
Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. Brasília: FEB,
2018.
KARDEC Allan. O Livro dos Espíritos.
Trad. Guillon Ribeiro. Brasília: FEB, 2013.