Em uma entrevista televisiva, certa terça-feira,
reportando-se às opiniões de Chico Xavier sobre
reencarnação, sexo, catolicismo, fornos crematórios e
bebês de proveta, nada menos que duzentos
telespectadores telefonaram ao longo das quase três
horas de entrevista.
João de Scantimburgo, o entrevistador, ajudou a espantar o sono
do público em duelos como este:
- Os que não creem nos seus dotes defendem a tese de que o
senhor registra no papel, por meio de escrita automática ou
inconsciente, reminiscências de leituras. Não terá o senhor
repetido de Augusto dos Anjos, por exemplo, os versos que leu e
reteve na memória?
Sem gaguejar, Chico Xavier deu a resposta de sempre:
- Se eu disser que estes livros pertencem a mim, estarei
cometendo uma fraude pela qual vou responder de maneira muito
grave depois da partida deste mundo.
Depois de resumir seu currículo escolar limitado ao quarto ano
primário, ele fez questão de defender a própria ignorância. Não
tinha a menor ideia do que escrevia enquanto passava para o
papel grande parte dos livros psicografados.
Mas João de Scantimburgo não se convencia:
- O senhor é um homem que tem grande fluência ao falar. O senhor
constrói com perfeição a frase, o senhor tem lógica na exposição
da sua doutrina. Logo, o senhor é um autodidata, que se
compenetrou da doutrina que esposou e a estudou profundamente e
passou a exercer o seu trabalho expondo essa doutrina.
Chico então apelou para a presença de Emmanuel:
- Qualquer estrutura fraseológica mais feliz de que eu possa ser
portador se deve à influência de Emmanuel, à presença dele junto
a mim, compreendendo a responsabilidade de um programa como
este.
Do livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior.
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