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por Rogério Coelho

 

Autoiluminação


O ser espiritual ascende no rumo da Grande Luz que o arrebata a pouco e pouco


“Vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim.” 
- Paulo. (Gálatas, 2:20)


Segundo rezam as tradições do Mundo Maior, no momento em que Moisés recebia as Tábuas da Lei, Jesus começou a preparar-Se para encarnar entre nós. Portanto, foram necessários quase vinte séculos de preparação, diminuindo-Se vibracionalmente para conseguir estar em nosso meio.

Nós precisamos fazer o caminho inverso: sair dos baixios da materialidade e da ignorância para os alcandorados Cimos da Espiritualidade... Mas, passados dois milênios mal conhecemos Seus ensinamentos e longe ainda estamos de praticá-los segundo os exemplos oferecidos por Paulo de Tarso, Maria de Magdala, Francisco de Assis, Irmã Dulce, Madre Tereza de Calcutá e outros...

Ora, se o Cristo demorou aproximadamente vinte séculos para diminuir-Se a fim de apresentar-Se entre nós, quantos bilhões de milênios serão necessários para chegarmos à Sua envergadura moral e espiritual?! Mas, se não podemos ainda dimensionar o tempo, pelo menos o percurso sim: no livro “Impermanência e imortalidade”,[1] psicografado por Divaldo Pereira Franco, Carlos Torres Pastorino (Espírito) lembra-nos essa luminosa senda, percorrida por Jesus, e que devemos palmilhar: “(...) Ele nunca Se recusou à convivência social, religiosa e humana... Participou das bodas de Caná, frequentou a Sinagoga e o Templo de Jerusalém, aceitou a entrevista com Nicodemos, o almoço na resi­dência de Simão, bem como Se hospedou com Zaqueu, o chefe dos publicanos, escandalizando a todos; con­viveu com os pobres, os enfermos, os infelizes, mas também foi gentil com todos aqueles que O buscavam, a começar pelo centurião, que lhe fora rogar ajuda para o criado enfermo, jamais fugindo da convivência de todos quantos para o quais viera... Abençoou criancinhas gárrulas, buliçosas; dialogou com a mulher da Samaria, desprezada; com a adúltera que se­guia para a lapidação, libertando-a; participou da saudável convivência de Lázaro e suas irmãs em Betânia; aceitou a gentileza da Verônica na via crucis, quando Lhe enxugou o suor de sangue... Jesus tipificou o ser social e humano por excelência, portador de fé inquebrantável, que O sustentou no momento do sacrifício da própria vida, tornando-Se, em todos os passos, o Homem Incomparável!

Jamais agrediu o mundo e suas heranças, suas prisões emocionais e paixões servis, seus campeonatos de insensatez, sua crueldade, sua hediondez, por saber que as ocorrências resultavam da inferioridade moral dos seus habitantes antes que deles mesmos. Apesar dessa conduta, demonstrou a superioridade do Reino de Deus, porque permanente, causal e posterior ao périplo carnal, convidando os homens e as mulheres de pensamento, os que se encontravam saturados e sem roteiro, os sofridos e atormentados à opção libertadora e feliz...

A visão distorcida em torno da vida faz que os indivíduos se apeguem às distrações, aos objetos, às pessoas e suas máscaras, às posições e aparências, quando os deveriam utilizar-se para avançar, libertando-se de todo tipo de encarceramento, inclusive emocional disfarçado de amor.

O ego apaixonado é o responsável pela prevalência dos tormentos, distanciado do ser legítimo, que é o Espírito fadado à perfeição que o fascina e atrai mesmo quando não se dá conta.

No mundo, com os seus valores impermanentes, o ser espiritual desenvolve as inimagináveis possibilidades de que é possuidor, aprimorando-se e ascendendo no rumo da Grande Luz que o arrebata a pouco e pouco, desde que também ele é constituído de luz na sua expressão mais profunda.

A fatalidade biológica que comanda os mecanismos fisiológicos desgasta-os, envelhecendo-os, enfermando-os e se transformando, pela morte, numa transitoriedade inevitável, enquanto o Espírito se liberta prosseguindo na sua destinação.

Jesus asseverou: “no mundo tereis tribulações: mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”, conforme anotou João, no versículo 33 do capítulo 16, o que é muito significativo.

Graças às aflições do mundo, à incompletude de que se revestem as suas ocorrências e necessidades, a cada instante defrontam-se tribulações, sofrimentos que, não obstante, se tornam indispensáveis para a superação dos próprios limites e o anelo pelas aquisições plenas.

O ser necessita do mundo, (é incontestável), a fim de be­neficiar-se dos fatores ambientais propiciatórios ao seu cres­cimento, como a semente que deve dormir e morrer acondicionada pelos fatores mesológicos para prosseguir vivendo no futuro vegetal em que se transformará.

Consciente das formosas oportunidades que o mundo lhe proporciona, o ser humano disciplina a vontade e movi­menta-se com equilíbrio em todos os misteres que lhe dizem respeito, transformando as experiências negativas em lições de sabedoria, possuindo sem deixar-se possuir, usando os recursos valiosos da existência com respeito e elevação.

Buda afirmava que a vida terrena são apenas sofrimen­tos, que se expressam, em particular, no ser humano, numa expressão tríplice: sofrer, envelhecer e morrer...

Jesus, por Sua vez, afiançava que o Seu reino não é des­te mundo, todavia, mediante a utilização dos tesouros que aqui se encontram à disposição, começa-se a sublime aqui­sição da felicidade porvindoura no Reino, de início desapegando-se do veículo de serviço de que se utiliza - o corpo - bem como de tudo aquilo que lhe diz respeito e se lhe torna essencial para a existência da sua impermanência.

Ser livre ou escravo é escolha individual, de acordo com o direcionamento emocional e moral que cada qual se propõe. A libertação do mundo, porém, torna-se inadiável, em­bora seja postergada por ignorância ou rebeldia, mas que a realidade se encarrega de impor, em razão da intemporalidade de tudo e da fatalidade das horas na sua sucessão intérmina.

Adquirir-se a consciência dos atos, mediante a refle­xão frequente em torno de tudo quanto se pensa e se reali­za, faculta o hábito salutar da morigeração e do equilíbrio, ensejando mais seguros meios para a conquista da liberda­de real, aquela que não tem retentivas emocionais com o passado nem se fixa em ansiedade pelo futuro, estimulando e proporcionando a paz em todos os momentos presentes.

Na angústia, a certeza da alegria que virá; no júbilo, a convicção da necessidade de ponderação ante a probabili­dade de desafios posteriores; na enfermidade, a esperança da saúde integral, isto é, a mesma serenidade deve ser mantida nos momentos de vitória, de alegria como naque­les de perda, de aparente fracasso, de tristeza, que fazem parte do processo de experiências iluminativas.

O mundo possui os seus atrativos que induzem ao amor, à simplicidade, à ternura, à beleza, à compaixão, à luta de sublimação...  Em toda parte nele pulsa a vida estuante em hino de louvor ao Criador, que o elegeu para a Escola de bênçãos do Espírito em processo de evolução. As aflições, portanto, no mundo e do mundo, decorrem dos apegos humanos às suas ilusões, às suas fantasias, às suas transitoriedades, não sendo, deste modo, da Sua responsabilidade, mas daqueles que se permitem a cegueira em torno da realidade”.         


 

[1] - FRANCO, Divaldo. Impermanência e imortalidade. 2.ed.Rio [de Janeiro]: FEB, 2004, p. 104-108.


 

     
     

O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita