Diante da vida
Encarcerado, enfim, nas grades da memória,
Tudo tresanda em mim o sinistro bafio
Da torva escuridão a que me sentencio,
Na câmara de fel da sombra merencória.
Mocidade, ilusão, tudo é lodo e vanglória
Esbarrando na morte — horrendo desafio:
Para a descida ao caos ignoto, imenso, frio,
E ser lama pensante, escória sob a escória.
Ó minh’alma infeliz, por que assim te sublevas?
Corvo triste da mágoa a crocitar nas trevas,
Volve em prece a dormir na paz inerme do ovo!
Sepulta, coração, no tremedal medonho
A aflição derradeira e o derradeiro sonho
Para tudo esquecer e começar de novo!
Do livro Antologia
dos Imortais, soneto psicografado pelo médium
Francisco Cândido Xavier.